Egocentrismo

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Sou Psicólogo e numa determinada tarde entrou no consultório um rapaz de aproximadamente vinte e dois anos, moreno, olhos tristes, cabelos cacheados, sorriso que mostrava sofrimento. Durante a psicoterapia ficou tenso e inclinado para frente. Falava com arrogância, mas seu discurso apontava sua insegurança. Sua queixa era que não conseguia manter um namoro. Relatou que depois de alguns meses e diversas DR (discutir a relação) o relacionamento acabava. Entendia que a relação estava ruim a ponto de terminar, mas não conseguia sair desse ciclo vicioso.

No decorrer dos atendimentos ficou claro o quanto desejava que as pessoas mudassem para que ele fosse feliz e pudesse tanto amar e ser amado, mas não fazia o básico: mudar a si próprio. Ele era egocêntrico: nas conversas adorava falar de si, das atividades que fazia e gostava, bem como interromper a fala do outro para expor suas opiniões. A ânsia em falar de si deixava pouco tempo ao outro, consequentemente, não conhecia com profundidade seus familiares, amigos e as namoradas que teve. Era comum apresentar olhar crítico, percebia com muita facilidade os defeitos e os apontava. Por vezes o fazia de forma engraçada, mas não menos agressiva. Nos namoros não era diferente, percebia e apontava o quanto a namorada não lhe agradou, ou ficou distante, mas pouco percebia seus defeitos. Exigia atenção o tempo todo e para isso justificava que se dedicava inteiramente a namorada. Isto era verdade, mas não se dava conta que o fazia por carência, por medo de ficar sozinho e não de forma equilibrada.

Para quase tudo tinha uma justificativa e quem tudo justifica não consegue enxergar seus próprios erros, por conseguinte, deixava suas “namoradas” na defensiva, não encontravam nele um ombro amigo, ele era mais um filho do que um namorado.

No decorrer da psicoterapia a missão era faze-lo crescer, tornar-se adulto e um conhecedor do ser humano e suas necessidades. Ele precisou conhecer quem estava ao seu redor, perceber as necessidades dos outros, saber o que os motivavam, do que gostariam de compartilhar. Bem como, identificar o que no seu comportamento era maléfico nas relações. Aprendeu a ouvir mais do que falar, a respeitar e ser humilde; com o tempo foi se dando conta que precisava amar para então ser amado. Com essas mudanças foi possível aprofundar os aspectos subjetivos e emocionais que lhe apareciam como barreira

Flavio Melo Ribeiro é psicológo e blogueiro. Escreve todas as terças-feiras. 

 

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