Você não é mais inteligente por não assistir o Big Brother Brasil

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Há dezesseis anos a primeira edição do Reality Show Big Brother Brasil foi ao ar, e desde então as críticas contra o programa são as mesmas. Chega a ser incrível como a capacidade de reclamar do brasileiro é amplificada quando o assunto são programas de TV de um determinado canal. O engraçado é que essa raiva vociferante nunca é exposta quando no mesmo canal são transmitidos jogos de futebol, lutas ou mesmo novelas. A famosa indignação seletiva do brasileiro está mais forte do que nunca.

A grande carta usada pelos reclamões sobre o BBB é que o programa não seria educativo, não adicionaria “nada de útil” na vida de quem assiste e que seria o causador de toda a devassidão no mundo. Isso não passa de “mimimi” hipócrita, já que na prática é só mais um programa como outro qualquer, que só sobrevive porque dá lucro à emissora.

Essa é a grande questão. Apesar do canal de TV ser uma concessão pública, com algumas obrigatoriedades, como transmissões de propagandas políticas gratuitas, exibição de programas jornalísticos, e ter sua grade regulada de acordo com o horário, as emissoras são empresas privadas que visam lucro. Toda sua programação gira em torno de programas que vão atrair audiência que assistirá também os comerciais de seus anunciantes. Diversos programas, bons ou ruins tiveram sua morte decretada justamente por não atraírem a atenção da audiência, e consequentemente dos anunciantes.

Dito isso, é preciso definir que a Globo é um canal de variedades, que não possui a intenção de ser educativo. Inclusive a empresa mantém canais com esse mote, como o Futura. Um canal de variedades exibe variedades (desculpe, pleonasmo, eu sei!). A programação é toda planejada de forma a atrair telespectadores. Quanto mais gente assistindo, maior é o valor pago para se anunciar no intervalo comercial do programa. Não é atoa que um dos horários mais caros para anunciantes é justamente entre o Jornal Nacional e a Novela das 8h (que sempre começa depois das 9h), o famoso horário nobre, onde o brasileiro médio está em casa vendo TV.

Portanto, quem liga na Globo, à noite, não quer ver programas educativos. Prova disso é que a TV Cultura, canal aberto que tem um status de educativo tem uma audiência pífia, principalmente em horários onde disputa com esses programas. Muitos dos que dizem que é melhor ler um livro do que ver BBB sequer leem bula de remédio. Além disso, nenhuma livraria registra aumento na venda de livros durante a exibição desses polêmicos programas de entretenimento.

ENTRETENIMENTO, essa é a palavra. O objetivo de um programa de entretenimento (eu sei, essa palavra já apareceu três vezes em duas linhas) é justamente entreter (dãh). Não é objetivo de um programa desses mudar a vida de quem assiste. Você coloca no canal pra passar o tempo, distrair a cabeça, esperar o sono vir… O programa não vai salvar o mundo das cáries, salvar crianças famintas da África, ou doar dinheiros para desabrigados, assim como a maioria dos que reclamam do programa também jamais farão isso. A histeria hipócrita faz parte da característica primordial do pseudo-intelectual brasileiro: se o povão gosta, então é ruim!

Essa característica fica potencializada na internet, onde temos os famosos Haters, pessoas que não possuem muito o que fazer da vida, e utilizam todo o seu tempo estudando! Há! Óbvio que não. Eles escolhem um alvo pra odiar e empenham toda a sua energia em provar que quem gosta do que ele odeia é um ser inferior. O alvo da vez é justamente quem assiste o BBB. Pra alguns desses haters é melhor ser nazista do que gostar do programa. É sério, taí um certo deputado que tem uma legião de fãs descerebrados que ignoram a realidade para defender seu ídolo que é fã de tortura, intervenção militar entre outras coisinhas fofas. Mas o problema do Brasil não é esse! O problema é gostar de BBB.

Veja bem, não estou falando que o Big Brother é o suprassumo dos programas de TV. Ele está longe disso, mas como programa de entretenimento ele cumpre bem sua função. E aí vem a dica de ouro: Você não é obrigado a gostar do programa, e ninguém é obrigado a deixar de vê-lo porque você acha que seria melhor ler um livro. Se você prefere ler um livro, leia. Se não gosta do programa, mude de canal. Controle remoto está aí pra isso. Só não diminua que gosta de ver tal programa, e isso serve para qualquer programa, seja o BBB, novelas bíblicas e até leilões no canal do boi.

É possível buscar conhecimento de várias formas, não apenas pela TV, que seria, na verdade, o último lugar a buscar isso. Inclusive o tempo que alguns gastam para fazer textão contra programa de TV no Facebook poderia ser investido em um dos diversos cursos on-line gratuitos disponíveis na internet. Mesmo pessoas que estudam 15 horas por dia para passar em um concurso precisam de algum tempo para relaxar e descansar seus cérebros da sobrecarga de informação que o submeteram. Respeitar o outro é mais sinal de inteligência do que deixar de ver BBB.

Lembre-se que ninguém é menos inteligente por assistir determinado programa de TV, ou mesmo gostar de certo estilo musical. A inteligência consiste justamente em entender que todos têm suas próprias preferências e que essas devem ser respeitadas. Taí a grande delícia de viver fora de uma ditadura: você pode gostar de assistir BBB ou documentários sobre a II Guerra Mundial, ouvir funk ou música clássica, ser fã de youtuber ou do Michael Jackson, gostar de pizza ou jiló, e até mesmo ser um bolsominion. Suas escolhas não te farão menos inteligente por isso. Ok, gostar do Bolsonaro é algo difícil de defender.

Bruno Rodrigues Ferreira é psicólogo e jornalista. Especialista em Educação e Tecnologia e Gestão em Saúde. Twitter: @ferreirarbruno

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