Ao som de Zezé di Camargo e com enxada na mão, médica que veio da roça homenageia pais em formatura

Filha dos agricultores Nilson dos Anjos Filho e Nergina Alves Gomes dos Anjos, a jovem cresceu na comunidade de Monte Alegre 1, zona rural do município

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A médica Nilcinádia Alves dos Anjos e seu pai, Nilson, que é agricultor (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Isac Godinho, de MG – Com uma enxada nas mãos e ao som da música “No Dia em que Eu Saí de Casa”, conhecida pela voz da dupla Zezé di Camargo e Luciano. Essa foi a forma escolhida pela médica Nilcinádia Alves dos Anjos, 25, para homenagear seus pais, agricultores, durante sua formatura em Minas Gerais.

“Cerca de um ano e meio antes da formatura, eu já estava pensando nisso, eu queria fazer alguma coisa para homenageá-los. Pensei na enxada porque meu pai trabalhava na roça. Achei que seria uma forma de representar de onde eu vim e de deixar meu pai feliz”, conta a jovem.

Graduada em medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Nilcinádia é natural da cidade de Rio Pardo de Minas, no norte mineiro, a 670 Km de Belo Horizonte.

Filha dos agricultores Nilson dos Anjos Filho e Nergina Alves Gomes dos Anjos, a jovem cresceu na comunidade de Monte Alegre 1, zona rural do município.

“Eu sempre estudei em escola municipal, lá na roça mesmo. Eu entrei bem cedo na escola, com cinco anos, e lembro que minha mãe já tinha me ensinado a ler em casa.”

Mesmo possuindo apenas letramento básico, Nilson e Nergina foram grandes incentivadores da filha nos estudos.

“Minha mãe não teve oportunidade de estudar, mas o que ela conseguiu aprender, quis me passar. Meu pai era muito presente na escola, sempre participava das reuniões. Eles se dedicavam bastante para que eu e meu irmão tivéssemos um bom estudo, dentro da nossa limitação.”

A jovem, que na infância sonhava em ser professora, cantora ou médica, optou por seguir a última dessas profissões.
“Quando eu era pequena, minha mãe me levou em uma consulta e o médico gostou do meu nome, disse que combinaria com doutora Nilcinádia. Além disso, o meu pai sabe aferir pressão e muita gente na roça o procurava. Eu via como ele cuidava das pessoas e isso me influenciou”, conta ela.

Aos 13 anos, Nilcinádia se mudou para a cidade vizinha de Salinas. Lá, ela estudou no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) durante o ensino médio e iniciou um curso superior em medicina veterinária. Após perceber que essa não era a carreira que pretendia seguir, decidiu se dedicar a um cursinho pré-vestibular.

“Eu conversei sobre isso com meu pai. A princípio, ele ficou um pouco receoso de eu largar um curso para ir atrás de outro que eu não tinha certeza se ia conseguir, mas ele me apoiou e falou que confiava muito em mim”, conta a médica. Após um ano e meio de estudos, em julho de 2015, Nilcinádia foi aprovada em medicina na Unimontes.

“Meus pais ficaram radiantes, sem acreditar. Minha mãe achava que estava sonhando. Meu pai queria contar pra todo mundo, ele sempre arranjava um jeito de falar que eu fazia medicina e que ele não gastava nada com a minha faculdade, porque eu tinha dado conta de passar numa faculdade pública.”

Seis anos após a aprovação, Nilcinádia se tornou a primeira médica da família e emocionou os pais mais uma vez. “No dia da colação de grau, quando eles viram que eu estava entrando com a enxada, meu pai ficou chorando e olhando pra enxada. Então, naquele momento, meu objetivo tinha sido cumprido.”

Hoje, um mês depois de se formar, a médica está morando na cidade de São João Batista (SC), onde atua no Programa de Saúde da Família (PSF) e também faz plantões.

“Por enquanto eu quero trabalhar, aproveitar um pouco a medicina e a minha vida. Também quero ajudar meus pais, dar um pouco de tranquilidade para eles. Futuramente, eu quero fazer uma especialização, mas não é algo que me preocupa agora, não é algo que eu tenho como prioridade”, conta Nilcinádia.

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