Sobre março de 2015 e o Dia das Crianças

Professor Marcos Professor Marcos -
(Foto: Reprodução)

Era março de 2015, minha irmã oferecia um jantar quando infartou repentinamente. Não houve tempo para qualquer resgate. Minhas sobrinhas gêmeas, com apenas 8 meses de idade ficaram comigo. Aprendi a fazer mamadeira de aptamil no velório, olhando no Google, medindo a receita.

Quando choravam nas primeiras noites colocávamos uma roupa da mãe para que sentissem o perfume e encontrassem segurança. E foi assim, entre as novas lições, que conseguimos superar a perda. Sepultamos a Márcia com pressa pois as meninas precisavam de atenção, banho, cuidados, alimentação…e assim se foi.

Aprendi a dialogar com a pediatra, a marcar exame, a segurar o bracinho frágil na coleta do sangue. Que difícil era aquilo, mas alguém precisava fazer, eu era o tio responsável por isso. Levar pra escola, organizar a mochila, vestido de festa junina, papel colorido para aula de artes…eu que era um rapaz cheio de utopias e liberdade tive que pisar forte no chão duro da vida. Aprender a cuidar, tomar responsabilidades, zelo, dar retorno afetivo e promover segurança com o olhar.

Depois de três anos elas foram morar com o pai harmonizamos as relações. Hoje elas vem aos fins de semana, ensino as tarefas, aprenderam a ler, agora estou ensinando jogar dama e xadrez, cada dia uma história, as relações tomam um ar de metamorfose, as perguntas estão cada vez mais maduras, aprendo muito, mais que ensino. Aprendi que criança em casa gera um barulho bom, uma desordem boa. O perfume pela casa fica diferente…e os perfumes já tiveram tanta importância no passado… hoje tem um um lugar na memória.

Em meio as tragédias e feridas eu tento ser um tio bacana, alguém que elas tenham orgulho no futuro, delas eu já tenho, são sobreviventes, são fortes, destemidas. Feliz Dia das Crianças!

Marcos Carvalho é professor, psicólogo e servidor público federal. Atualmente vereador em Anápolis pelo Partido dos Trabalhadores. Escreve todas às terças-feiras. Siga-o no Instagram.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as visões do Portal 6.

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