Não podemos banalizar o voto

Márcio Corrêa Márcio Corrêa -
Urna Eletrônica (Foto: Divulgação/ SECOM TSE)

Sou de uma época em que eleição era uma festa. Eu tinha 9 anos de idade na primeira disputa direta para presidente da República, em 1989, e não me esqueço do quanto a campanha foi um evento marcante para todos nós. Parecia Copa do Mundo. Mesmo criança, entre uma brincadeira e outra nos almoços de família, na casa dos avós e na dos meus pais, eu acompanhava com uma certa curiosidade as discussões dos adultos sobre os candidatos (foram 22 presidenciáveis!), o futuro do País, os traumas dos anos de restrições democráticas, as divergências políticas e todos aqueles componentes que fazem de uma eleição algo tão vibrante. Quando fiz 16 anos, corri para tirar o título de eleitor e tive a oportunidade de participar da eleição municipal de 1996. Não deixei de participar de nenhuma desde então.

O voto direto foi uma conquista enorme para a sociedade brasileira após mais de 20 anos de regime militar. E a sociedade festejou à altura por algum tempo. Mas como toda conquista consolidada, nos acostumamos com a democracia no decorrer dos anos e ela passou a fazer parte da nossa “paisagem” social. Mais do que isto: nos acomodamos com ela. E isto é preocupante, dada a importância do regime democrático para nossas vidas, especialmente no momento crítico que vivemos.

A obrigatoriedade do voto no Brasil é, há muito tempo, uma fantasia. Justificar a ausência é simples e a multa é irrisória. Não acho que seja o caso de estabelecer punições mais duras para o voto obrigatório, que é algo que não funciona, mas sim de buscar a conscientização para a importância das eleições gerais. Na última disputa presidencial tivemos um índice de abstenção de 20,3% no primeiro turno. Isto significa que quase 30 milhões de brasileiros deixaram de opinar sobre o destino do País. É muita gente! Mas nas eleições municipais de 2020 foi ainda pior: a média de abstenção no País chegou a 23,14%, no primeiro turno, e 29,5% no segundo turno.

É compreensível que os brasileiros não tenham hoje tanta empolgação em votar, diante de inúmeros problemas e escândalos patrocinados pela classe política. Mas a verdade é que a qualidade dos mandatários está diretamente atrelada à participação dos eleitores na vida pública, seja na hora de escolher os candidatos ou na fiscalização e cobrança das propostas pelos eleitos.

Por isto acho extremamente relevante que os jovens busquem tirar o título de eleitor, assim como os demais cidadãos com idade para votar procurem atualizar sua situação na Justiça Eleitoral. Tudo isto pode ser feito on-line, pelo site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e não toma mais do que alguns minutos. É um esforço muito pequeno se tivermos em mente que sua participação vai definir os rumos do seu estado e do país pelos próximos quatro anos. Me preocupa ver que o Brasil tem mais de 6 milhões de pessoas com idade entre 16 e 17 anos, mas o número de jovens com título de eleitor em 2022, até agora, representa menos de 14% desse público.

Entrei na política sem planejar, mas foi justamente pela percepção de que a participação ativa de cada um é o primeiro passo para que as coisas sigam de acordo com o que acreditamos ser o melhor para nossa comunidade. Me lembro há uns 10 anos eu, como dentista, empresário e anapolino apaixonado por nossa cidade, comecei a me envolver em questões corriqueiras de Anápolis, como melhorias no trânsito, necessidades do setor produtivo e pautas ambientais.

Quando percebi, eu já estava fazendo política, mesmo que sem pretensão eleitoral: era a demanda de um feirante conhecido que eu levava para os órgãos municipais resolverem, ou a briga (no bom sentido) que eu arrumava com autoridades por causa de problemas que prejudicavam o setor produtivo da cidade. Foi um processo espontâneo e natural.

Acabei depois dando um passo adiante e entrando de verdade na política partidária, movido pelo senso de compromisso e a vontade de contribuir muito mais com nossa comunidade. Sei que a responsabilidade sobre nosso futuro é de cada um de nós, com cada um dando sua parcela de contribuição. E este papel social começa pelo voto.

Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em AnápolisEscreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Portal 6.

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