Timor Leste elege Nobel da Paz como novo presidente

Esta será a segunda vez que Ramos-Horta ocupa o cargo do país de 1,3 milhões de habitantes

Folhapress Folhapress -
***ARQUIVO***SÃO PAULO, SP, 02.10.2013 – O novo presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Laureado com o prêmio Nobel da Paz em 1996 e líder da independência do Timor Leste, conquistada há duas décadas, o jurista José Ramos-Horta, 72, venceu as eleições presidenciais timorenses nesta quarta-feira (20). Ele obteve 62% dos votos, contra 38% do atual presidente, Francisco Guterres, popularmente conhecido como Lu Olo.

Esta será a segunda vez que Ramos-Horta ocupa a Presidência do país de 1,3 milhões de habitantes que integra, ao lado do Brasil e de outras sete nações, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Ele esteve no posto de 2007 a 2012 e, anteriormente, também foi primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Timor Leste.

O jurista, que por décadas viveu exilado, estava aposentado, mas afirma que se sentiu impelido a voltar à vida política por entender que Lu Olo havia excedido seus poderes ao se recusar a empossar seis ministros após as últimas eleições parlamentares, realizadas em 2018. O país, porém, segue com índices elevados de democracia nos principais institutos internacionais que monitoram o tema.

Nascido em Dili, a capital, em 1949, filho de mãe timorense e pai português, que havia sido deportado pelo governo autoritário de Portugal após se opor à ditadura de António Salazar (1933-1974), Ramos-Horta viveu décadas como porta-voz exilado dos guerrilheiros timorenses que lutavam contra a ocupação da vizinha Indonésia.

O Timor Leste viveu mais de quatro séculos sob o jugo de outras nações. Primeiro, foi colônia de Portugal –o que fez da língua portuguesa um dos idiomas do país, ainda que cada vez mais raro entre a população– até 1975 e, na sequência, assistiu a 24 de dominação da Indonésia. O país tornou-se oficialmente independente somente em 2002, após ser administrado por uma missão das Nações Unidas.

Foi então que a nação se somou à CPLP, sendo o 8º país a integrar o bloco lusófono criado em 1996. Proibido durante a ocupação da Indonésia, época que deixou milhares de mortos, o português foi posteriormente colocado como língua oficial, ao lado do tétum. O país possui mais de 30 dialetos locais. O idioma, porém, tem se tornado cada vez mais raro entre as novas gerações.

Ramos-Horta foi laureado com o Nobel da Paz ao lado do bispo Carlos Belo, em 1996, por seu trabalho na busca de uma solução pacífica para o conflito no país. Quando presidente, foi alvo de uma tentativa de assassinato orquestrada por um grupo de militares rebeldes. Recebeu três tiros, dois nas costas e outro no estômago, e chegou a ficar em coma induzido, mas depois concluiu o mandato.

Durante as eleições, o novo presidente timorense disse que o país poderia esperar um “terremoto político” uma vez que, se eleito, ele buscaria dissolver o Parlamento e convocar eleições gerais antecipadas na tentativa de devolver legitimidade ao Legislativo nacional e apaziguar o impasse político em curso.

Além da instabilidade política, Ramos-Horta terá como um de seus principais desafios a diversificação da economia local. O Timor Leste depende essencialmente das reservas offshore de petróleo e gás, que representam cerca de 90% do PIB. O governo tem sido criticado por não capitalizar a receita dos recursos naturais para financiar o desenvolvimento econômico e social e diversificar a economia. Cerca de 40% da população está abaixo da linha da pobreza.

O novo presidente será empossado daqui a um mês, em 20 de maio, no 20º aniversário da restauração da independência do Timor Leste.

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