Premiê ultradireitista da Eslovênia sofre derrota em eleições legislativas

Resultados com mais de 99,9% das urnas apuradas mostram que o partido governista conquistou 27 assentos no Parlamento de 90 cadeiras

Folhapress Folhapress -

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O premiê ultradireitista da Eslovênia, Janez Jansa, sofreu uma derrota nas urnas neste domingo (24), quando sua sigla, o Partido Democrático, recebeu somente 23,5% dos votos válidos, contra mais de 34,5% do centrista Movimento da Liberdade. Admirador de Donald Trump e aliado do húngaro Viktor Orbán, Jansa engrossava a lista de líderes populistas na Europa.

Resultados da Comissão Eleitoral com mais de 99,9% das urnas apuradas mostram que o partido governista conquistou 27 assentos no Parlamento de 90 cadeiras, enquanto o Movimento da Liberdade, liderado por Robert Golob, novato na política e ex-executivo de uma empresa de energia, assegurou 41 assentos. Para formar o governo, espera-se que a legenda costure uma aliança com os social-democratas.

“As pessoas querem mudanças e confiaram em nós”, disse Golob, em quarentena após contrair o coronavírus, depois de os resultados parciais serem divulgados. Jansa já reconheceu a derrota no pleito, que contou com a participação de cerca de 70% dos eleitores, índice considerado alto por analistas locais para os padrões do país.

O premiê, que buscava o quarto mandato, entrou em rota de colisão com a União Europeia (UE), bloco do qual a Eslovênia faz parte, após desferir ataques contra a liberdade de imprensa e ser acusado por opositores de minar os pilares da democracia. Ele desejou sorte a Golob e disse esperar que o novo governo esteja à altura dos desafios regionais.

Instituições internacionais que monitoram níveis de democracia alertavam para o uso político que Jansa vinha fazendo da pandemia de Covid para restringir liberdades civis e acentuar a guinada autoritária. A americana Freedom House, em seu último relatório, afirma que o governo do ultradireitista tem tentado minar o Estado de Direito e as instituições democráticas, incluindo a mídia e o Judiciário.

Em meados do último ano, por exemplo, o Tribunal Constitucional esloveno declarou que as principais disposições da Lei de Doenças Transmissíveis, que permitiam ao governo restringir reuniões durante a crise sanitária, eram inconstitucionais.

Anteriormente parte da Iugoslávia, a Eslovênia é o mais próspero e estável dos países que emergiram das guerras dos Balcãs na década de 1990. Ao longo dos últimos anos, porém, tem sido palco de polarização em torno dos apoiadores e dos oponentes de Jansa, que também já ocupou o posto de premiê em outras duas ocasiões, entre 2004 e 2008 e entre 2012 e 2013, e presidiu o Conselho Europeu.

Entre os ataques desferidos contra a mídia independente, Jansa chegou a chamar jornalistas mulheres de “prostitutas” e cortou o financiamento da empresa pública de comunicação do país em retaliação à cobertura crítica de seu governo. Admirador de Marechal Tito quando jovem, Jansa abraçou o nacionalismo no início dos anos 1990, quando atuou ativamente na independência da Eslovênia.

Localmente, foi apelidado de “marechal twitto”, em referência às facetas autoritárias que o aproximam da figura de Tito e aos ataques frequentes, principalmente contra a imprensa, publicados por ele em seu perfil oficial no Twitter.

Diferente de outros líderes da ultradireita europeia, muitos dos quais assumiram postura menos crítica à Rússia diante da invasão da Ucrânia, Jansa tem desferido críticas constantes a Moscou e prometeu reduzir a dependência da Eslovênia das importações de gás russo.

Defensor da inclusão de mais países da vizinhança na UE, ele foi um dos primeiros líderes a visitar a Ucrânia após o início da guerra, quando viajou de trem ao lado de seus homólogos polonês e tcheco a Kiev para conversar com o presidente Volodmir Zelenski. “A guerra não está acontecendo em um lugar distante, mas sim na nossa vizinhança”, disse ele durante um comício eleitoral na semana passada.

A Eslovênia recebeu mais de 18 mil dos 5,2 milhões de refugiados ucranianos, segundo dados oficiais, e o governo disse que poderia receber até 200 mil.

O analista político Peter Merse disse à agência Reuters que o resultado das eleições simboliza o desejo de renovação política da população. “A Eslovênia está mais uma vez assistindo a novos rostos, com pessoas de quem mal ouvimos falar antes, assumindo postos na política.”

O desejo era o que prevalecia entre comentários de eleitores ouvidos por jornalistas locais. Milena, 58, que votou na capital Liubliana, descreveu os anos mais recentes como “desesperadores”. “Queremos novos rostos, normalidade e estabilidade.”

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