Mais de 3 mil morreram tentando chegar à Europa por mar em 2021, diz ONU

Cifra é o dobro da observada em 2020, quando 1.544 mortes foram relatadas nas duas rotas

Folhapress Folhapress -

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram no ano passado quando tentavam chegar à Europa por rotas marítimas no Mediterrâneo e no Atlântico, mostra relatório divulgado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) nesta sexta (29).

A cifra é o dobro da observada em 2020, quando 1.544 mortes foram relatadas nas duas rotas, ainda de acordo com o alto comissariado.

O braço das Nações Unidas começou a divulgar relatórios consolidados sobre o assunto em 2019 e, desde então, os números anuais cresceram. Até aqui, o ano de 2022 registrou 478 mortes ou desaparecimentos de pessoas que tentavam chegar, por mar, ao continente.

De acordo com o Acnur, a pandemia de Covid e o fechamento das fronteiras na tentativa de conter o vírus impactaram diretamente os fluxos migratórios. Sem outras alterativas, muitos imigrantes recorreram a traficantes para tentar deixar seus países rumo à Europa.

“Temos insistido que é preciso fortalecer ações humanitárias de desenvolvimento para lidar com os fatores que forçam as pessoas a migrarem”, disse Shabia Mantoo, porta-voz do Acnur, durante entrevista coletiva em Genebra. A organização tem insistido para que governos desenvolvam alternativas para que imigrantes não fiquem à mercê de traficantes ou que coloquem suas vidas em risco.

O relatório mais recente indica que mais de 53 mil pessoas chegaram à Itália por mar no ano passado, número que supera em 83% aquele observado um ano antes. Outras 23 mil pessoas desembarcaram nas ilhas Canárias, número similar ao de 2020.

Houve aumento de 61% no número daqueles que emigram por mar da Tunísia no ano passado em comparação com o ano anterior. Para a Líbia, o salto foi de 150% no mesmo período. Já as saídas da Argélia aumentaram cerca de 3%. Marrocos, Mali, Guiné, Eritreia, Egito e Senegal também são pontos de atenção do material.

A maioria das travessias marítimas, que podem chegar a durar 10 dias, é feita com botes infláveis superlotados e em péssimo estado de conservação –muitas embarcações desinflam ou viram no oceano, o que provoca a morte e o desaparecimento dos migrantes.

As cifras coletadas pelo Acnur não incluem aqueles migrantes que desaparecem ou morrem durante rotas terrestres, como as que percorrem o deserto do Saara, nem os que ficam detidos em centros administrados por contrabandistas, onde os sobreviventes relatam casos de violência sexual, casamento e trabalho forçados.

O Mediterrâneo é a rota migratória mais mortal do mundo. Desde 2014, projeto da OIM (Organização Internacional para as Migrações) documentou pelo menos 17 mil mortes e desaparecimentos no trajeto.

A australiana Shabia Mantoo acrescentou que a morte não é o único perigo para os imigrantes, que também enfrentam violações de direitos humanos, como execuções extrajudiciais, detenções ilegais e arbitrárias, violências sexuais, trabalho forçado e análogo à escravidão.

O Acnur solicitou US$ 163,5 milhões para ajudar a potencializar a assistência humanitária aos que precisam de proteção internacional e aos sobreviventes de abusos de direitos humanos. O maior montante iria justamente para o norte da África e para a Costa do Marfim.

A organização também disse que fatores como a instabilidade política, a deterioração socioeconômica e a emergência climática tendem a provocar aumento da migração para a Europa nos próximos anos.

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