Nobel da Paz Maria Ressa diz que Filipinas mandou fechar site investigativo Rappler

Ele ganhou notoriedade ao divulgar denúncias de abusos de direitos humanos cometidos pelo regime do país

Folhapress Folhapress -

A dois dias do fim da Presidência de Rodrigo Duterte nas Filipinas, o governo emitiu uma ordem para fechar o portal de jornalismo investigativo Rappler, segundo a ganhadora do prêmio Nobel da Paz e cofundadora do site, Maria Ressa. O Rappler ganhou notoriedade ao divulgar denúncias de abusos de direitos humanos cometidos pelo regime do país.

“Parte da razão de eu não conseguir dormir muito na noite passada é porque recebemos uma ordem de fechamento”, disse ela durante palestra em Honolulu, no Havaí, segundo a agência de notícias AP. A jornalista afirmou que pretende recorrer. “Não vamos fechar”, disse ela, nesta terça-feira (28). “Quer dizer, eu não devia dizer isso”.

Duterte é alvo de investigações de crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional, sobretudo devido à política de guerra às drogas em que teria apadrinhado esquadrões da morte que executam traficantes e usuários de substâncias ilícitas. Ele entregará a Presidência das Filipinas nesta quinta-feira (30) ao ex-senador Ferdinand Marcos Jr., filho do ditador Ferdinand Marcos, que governou o país com mão de ferro entre 1965 e 1986. A filha do atual presidente, Sara Duterte, assumirá como vice-presidente.

Ressa é alvo de diversos processos por seu trabalho como jornalista. Em 2019, chegou a ser presa sob acusação de violar uma controversa legislação sobre “difamação cibernética” devido a uma reportagem em que acusava um empresário filipino de atividades ilegais. Em 2021, ela foi a primeira filipina a receber um Nobel da Paz, ao lado do jornalista russo Dmitri Muratov, cofundador do Novaia Gazeta, um dos principais jornais de oposição a Vladimir Putin.

Segundo o Rappler, a atual ordem de fechamento remonta a 2018, quando o portal recebeu um aporte da Omidyar, investidora estrangeira, o que foi considerado contrario à Constituição do país, que impede que companhias de mídia sejam controladas por cidadãos estrangeiros. O site afirma, porém, que o caso chegou até a Suprema Corte em 2019, que não viu ilegalidade.

Em comunicado enviado aos funcionários do portal na noite desta terça-feira, a direção da empresa pediu “clareza, agilidade e sobriedade.” “Enquanto isso, é negócio como de costume para nós. Vamos nos adaptar, ajustar, sobreviver e prosperar”, afirmou.

A ordem para o fechamento foi expedida dias após o Conselho de Segurança Nacional do país outro site jornalístico do país, o Bulatlat.com, com base na lei antiterrorismo.

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