Opositor de Putin chama guerra de guerra e é preso por ‘desacreditar o Exército’

Lei permite que as ofensas iniciais sejam tratadas como "violações administrativas" puníveis com multas, mas os reincidentes correm o risco de serem processados criminalmente

Folhapress Folhapress -
*ARQUIVO* BRASILIA, DF, BRASIL, 16-07-2014, 12h00: Presidente da Russia Vladimir Putin deixa o Palácio do Itamaraty após reunião da VI cúpula dos BRICS e da Unasul, que teve a presidente Dilma Rousseff como anfitriã. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

O político de oposição Ievgeni Roizman, ex-prefeito da cidade de Ekaterimburgo, foi preso nesta quarta-feira (24) acusado de “desacreditar o Exército russo”. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra o momento da prisão, quando Roizman diz a repórteres que estava sendo detido basicamente por tratar a Guerra da Ucrânia como uma invasão.

A Rússia trata o conflito como uma “operação militar especial”, e as pessoas podem ser processadas se usarem as palavras “guerra” ou “invasão”. O crime, introduzido recentemente, acarreta uma pena de prisão de até cinco anos.

Roizman, 59, era uma das últimas figuras da oposição ainda em liberdade. “Em princípio, a essência é que chamei a guerra de guerra. É isso. Infelizmente, não tenho defesa”, disse o político ao ser levado por homens mascarados e vestidos com uniformes camuflados.

A agência de notícias estatal Tass citou os serviços de segurança de Ekaterimburgo confirmando o motivo da prisão por desacreditar o Exército russo, e disse que a polícia impediu o advogado de Roizman, Vladislav Idamjapov, de entrar na casa de seu cliente, onde acontecia uma operação de busca. “Isso é uma violação do direito à defesa”, disse Idamjapov.

A investigação foi aberta depois que Roizman publicou em seu canal do YouTube um vídeo que denunciava a ofensiva russa na Ucrânia. O opositor já havia sido multado três vezes por se opor ao conflito.

Segundo a agência Reuters, o advogado de direitos humanos Pavel Tchikov disse que os tribunais russos já lidaram com cerca de 3.500 casos de suposto descrédito das Forças Armadas, e quase todos os envolvidos foram considerados culpados.

A lei permite que as ofensas iniciais sejam tratadas como “violações administrativas” puníveis com multas, mas os reincidentes correm o risco de serem processados criminalmente.

Roizman é um defensor declarado de Alexei Navalni, o mais famoso opositor de Putin, e tornou-se uma figura proeminente após ser eleito prefeito de Ekaterimburgo, a quarta maior cidade do país.

Em 2018, ele renunciou ao mandato de prefeito depois que legisladores regionais votaram pela abolição do cargo, num movimento que ele disse ter sido motivado politicamente contra ele. Desde que deixou a função, porém, ele continua sendo uma figura popular nacionalmente, conhecido por comentários francos, às vezes expressos em linguagem grosseira, nas mídias sociais.

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