Ucrânia usa réplicas de armas como iscas para forçar Rússia a gastar mísseis

Cópias seriam feitas de madeira, mas indistinguíveis de uma bateria real de artilharia para os drones russos

Folhapress Folhapress -
Vladimir Putin, presidente da Rússia. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Desde que foi invadida pela Rússia, a Ucrânia tem enfrentado um Exército significativamente maior e mais bem equipado. Como forma de reduzir a desvantagem, bilhões de dólares em ajuda militar foram enviados por países do Ocidente, mas Kiev também vem lançando mão de táticas inesperadas para minar a ofensiva de Moscou.

Além das gambiarras à la MacGyver para aumentar a capacidade de armamentos, uma reportagem do jornal Washington Post mostrou que a Ucrânia tem usado réplicas de equipamentos militares para forçar Moscou a gastar seus caros mísseis de cruzeiro em alvos fictícios.

A partir da análise de fotografias não publicadas das réplicas e de entrevistas com autoridades ucranianas e dos EUA, a reportagem indica que uma das estratégias de Kiev tem sido usar como chamariz equipamentos que se assemelham aos sistemas Himars –mísseis de precisão fabricados nos EUA.

As cópias seriam feitas de madeira, mas indistinguíveis de uma bateria real de artilharia para os drones russos, que identificam os alvos e transmitem a localização para porta-mísseis em bases no mar Negro. Segundo um alto funcionário da Ucrânia, é como se as réplicas dos Himars fossem um alvo VIP para os sistemas russos.

A reportagem afirma que as iscas ucranianas atraíram pelo menos 10 mísseis de cruzeiro após algumas semanas em campo, o que foi considerado um sucesso, incentivando a produção de mais réplicas.

Obrigar as forças russas a desperdiçar sua artilharia é estratégico para a Ucrânia. Um míssil usado contra um alvo falso, por exemplo, é uma arma a menos para ser usada contra uma cidade ucraniana.

O uso de iscas para enganar inimigos não é algo recente na história militar, tanto do Oriente quanto do Ocidente. Segundo a reportagem, os russos chamam as táticas de disfarce e trapaça de “maskirovka”, o que já envolveu a aquisição de caças infláveis MiG-31 e sistemas de mísseis S-300 simulados.

No passado, forças iugoslavas de Slobodan Milosevic usaram tanques de mentira e alvos fictícios contra a Otan durante o conflito de Kosovo. Durante a Segunda Guerra Mundial, potências aliadas usaram equipamentos e de sinais falsos para tentar desviar as forças alemãs antes da invasão da Normandia.

As armas chamarizes são apenas uma fração do repertório inusitado que vem sendo aplicado pelo Exército ucraniano. Nesta semana, uma reportagem do The New York Times mostrou que Kiev tem alcançado grandes sucessos na guerra ao fazer gambiarras à la MacGyver em armas doadas por aliados.

Especialistas e autoridades do Departamento de Defesa dos EUA relatam que, ao montar mísseis em caminhões, por exemplo, as forças ucranianas os movimentaram mais rapidamente para o campo de tiro. Ao colocar sistemas de foguetes em lanchas, aumentaram sua capacidade de guerra naval.

A estratégia se soma a um aumento das ajudas militares dos países do Ocidente. Na última quarta-feira (24), os EUA divulgaram um novo pacote de US$ 3 bilhões (R$ 15,3 bilhões) para marcar o sexto mês de guerra. Considerando os aportes americanos, sem contar ajudas menores de outros países, os pacotes equivalem a três vezes o orçamento militar da Ucrânia de 2021.

Os novos suprimentos também sustentam o início da contraofensiva de Kiev no sul do país. No começo do conflito, o fornecimento de mísseis pessoais antitanque e antiaéreos garantiram a resistência ucraniana.

Desde junho não há mudanças significativas nas linhas de frente, o que alguns atribuem também ao início do emprego de artilharia de precisão americana por Kiev. Nas últimas semanas, forças ucranianas também deram sinais de ter atingido uma sofisticação da capacidade ofensiva.

Explosões numa base aérea na Crimeia, por exemplo, teriam acabado com metade dos jatos de combate da força naval russa do mar Negro. Moscou acusa sabotadores de estarem por trás dos episódios e nega que qualquer aeronave tenha sido danificada, apesar de imagens de satélite mostrarem pelo menos oito aviões de guerra completamente queimados.

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