Nordestinos viram alvo de xenofobia em Goiás após resultado do primeiro turno

Vitória de Lula nos estados da região provocou onda de comentários preconceituosos contra moradores do estado de origem nordestina

Emilly Viana Emilly Viana -
Toalhas de Lula e Bolsonaro, em Anápolis. (Foto: Lucas Tavares)

Morador de Anápolis há 12 anos, José (nome fictício), de 48 anos, viveu dias de angústia desde a última segunda-feira (03). Ao chegar na loja onde trabalha, no dia seguinte ao resultado das eleições presidenciais, o maranhense foi recebido com ofensas e provocações por parte dos colegas.

Ao Portal 6, ele conta que sofre com xenofobia desde de que se mudou para Goiás, onde se casou e teve uma filha, mas que o preconceito nunca foi tão forte como nesta semana. “Sempre lidei com ‘brincadeiras’. Porém, naquele dia, me disseram coisas horríveis, que nordestinos merecem voltar a carregar água na cabeça, comer capim e coisa pior”, narra.

Muito emocionado, o trabalhador diz que reagiu pedindo respeito por sua origem e posição política, mas que teve de deixar o local para conter as lágrimas e não demonstrar o abalo diante dos agressores. “Me senti muito impotente, chorei e até agora me sinto impactado com tudo que ouvi”, desabafa.

O sentimento de impotência em episódios de xenofobia também é compartilhado pelo secretário administrativo Lucas Marinho, de 30 anos. O jovem estava em uma barbearia de Goiânia – onde reside desde os 17 anos – nesta terça-feira (04), quando um funcionário e um cliente começaram a proferir ofensas contra nordestinos enquanto comentavam os resultados do primeiro turno.

Os dois falavam em voz alta, segundo relata Lucas, para que todos no estabelecimento ouvissem. “Disseram que é um povo burro, atrasado e vive de ajuda do Governo. Também falaram que a gente devia ser separado deles. Eu escutei tudo calado e, quando fui pagar, fiz questão de enfatizar o meu sotaque”, ressalta.

A onda de ataques a nordestinos, que fez vítimas como José e Lucas, ocorre após vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em todos os estados do Nordeste. Diversos comentários preconceituosos contra eleitores da região foram publicados nas redes sociais, vindos de perfis de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Caso em cachoeira Alta

Em Goiás, o movimento xenófobo virou caso de polícia. Três moradoras de Cachoeira Alta, região Sudeste do estado, são investigadas por xingarem nordestinos e nortistas. As suspeitas criticaram, por meio de áudios no WhatsApp, quem votou em Lula e “mandaram” os nordestinos voltarem para casa.

O crime é enquadrado como racismo e será apurado pela Polícia Civil. A lei prevê pena de um a três anos de prisão e multa para quem cometer discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

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