A pintura famosa do século 17 que cientistas descobriram ser ‘falsa’

Investigação para definir autor do quadro foi realizada durante o período da pandemia

Folhapress Folhapress -
Investigação teve início na pandemia. (Foto: Wikimedia Commons / National Gallery of Art)

O misterioso pintor por trás de “Moça com o Brinco de Pérola”, Johannes Vermeer, é considerado um mestre da arte holandesa. Mas, pouco se sabe do artista e, dessa maneira, seus quadros são cobertos com um ar enigmático.

No museu National Gallery of Art, localizado em Nova York, estão em exposição quatro pinturas de Vermeer, ou será mesmo? Após análise durante a pandemia, foi determinado que o quadro “Moça com flauta”, supostamente pintado por volta de 1666, foi feito por “associado de Vermeer e não pelo artista holandês”.

Afirmando que “esse foi o nosso projeto na pandemia”, a curadora Marjorie Betsy Wieseman, do National Gallery of Art, conta que todos os quadros de Vermeer – considerados os maiores atrativos do museu- foram levados ao laboratório de conservação ao mesmo tempo.

“A análise nos ofereceu um crescimento exponencial do nosso entendimento do processo de trabalho de Vermeer”, afirmou Wieseman ao jornal The Washington Post, continuando: “Esse novo conhecimento permitiu que nós determinássemos que ‘Moça com flauta’ não é de Vermeer”.

Algo assim teria sido impossível com o museu aberto, mas, durante a quarentena, essa movimentação e investigação foi possível -com foco nesse quadro em específico. A análise foi feita com tecnologia microscópica, incluindo florescência raio-x e coleta de informações no espectro eletromagnético.

Entre as descobertas desse processo está o fato de que o pintor, há muito considerado como lento em seu processo e com dedicação a não permitir a percepção de pinceladas, era mais “livre” em sua pintura utilizando até materiais contendo cobre -para acelerar a secagem da tinta.

De acordo com a curadora do museu, o pintor que fez “Moça com flauta” “entende a técnica [de Vermeer], mas não tem a habilidade para executá-la”, daí vem a teoria de que esse seria um aprendiz do mestre holandês.

HÁ MUITO QUESTIONADO

O quadro em análise, “Moça com flauta”, foi motivo de dúvidas para muitos acadêmicos que não acreditavam que ele havia sido feito por Vermeer. O motivo? A própria técnica do autor, as transições entre cores eram muito abruptas, o escuro e o claro não estavam mesclados como usualmente nas pinturas do holandês.

Devido a isso, desde os anos 90, o quadro tem sido categorizado como “atribuído a Vermeer”, o que basicamente significa que parece ser, genericamente, um Vermeer, mas a qualidade não é a mesma. A curadora Marjorie Betsy Wieseman, do National Gallery of Art, afirma que a pintura está coberta de “erros de principiante”.

“Esses são erros de principiante. Vermeer sabe o porquê ele está fazendo as coisas. Ele sabe qual será o resultado, no entanto, com esse artista, você não sente que ele entende o mesmo”, diz.

Os “erros” aos quais a curadora se refere são defeitos na base de pintura, que secou antes da hora, e nas tintas usadas – dando ao quadro uma superfície “granular”.

Se essa descoberta for verdade, Vermeer não era, como descrito há muito, um artista solitário, que não trabalhava ao lado de assistentes ou estudantes. Isso abre ainda mais perguntas aos especialistas, como “quem era esse artista?” e “qual era seu relacionamento com Vermeer?”.

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