Parada LGBTQIA+ veste avenida Paulista de verde e amarelo neste domingo (2)

"O Brasil é dos LGBTs, a bandeira é nossa, é tudo nosso", disse Tchaka, que saudou a todos pelo uso das cores e puxou coro com o tema da Parada deste ano

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Tchaka, musa da Parada Gay, usa figurino nas cores verde e amarelo. (Foto: Bruno Santos/Folhapress)

BRUNO LUCCA, ROBERTO DE OLIVEIRA E LUANA LISBOA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As tradicionais cores do arco-íris que dominam a avenida Paulista todos os anos, neste domingo (2), durante a 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, concorreram com tons de verde e amarelo, que se espalharam em figurinos elaborados das drag queens e camisas da seleção brasileira vestidas pelo público.

Mais do que estética, a escolha se transformou em uma espécie de manifesto cromático para ressignificar as cores ligadas a movimentos conservadores nos últimos anos. Para isso, a edição deste ano convocou o público a se apropriar do verde e amarelo após se tornarem símbolo da direita.

Para os que chegaram sem os adornos nesses tons, há vários pontos de venda. Cada camiseta sai por R$ 50, por exemplo. Bandeiras e outros itens que misturam a flâmula brasileira a ícones do movimento LGBT+, como as cores do arco-íris, também são comercializados.

Com um vestido de tule verde e uma peruca amarela, a drag queen Tchaka, musa da Parada, abriu o evento com um discurso. “O Brasil é dos LGBTs, a bandeira é nossa, é tudo nosso”, disse Tchaka, que saudou a todos pelo uso das cores e puxou coro com o tema da Parada deste ano. “Basta de retrocesso. Vote consciente”, gritaram os presentes.

Matheus Gomes, 37, e Alex Souza, 42, resolveram tirar as camisas da seleção brasileira do armário nesta manhã de domingo, mas disseram estar reticentes em usar um símbolo tão “controverso”. “Foi a melhor decisão”, disse Alex. “O Brasil é mais e mais feliz gay hoje”, continuou Matheus.

O levante verde e amarelo ganhou força após o show da Madonna na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 4 de maio. As cores marcaram a apresentação da musa do público LGBTQIA+, especialmente no momento da participação de Pabllo Vittar, que também levou os tons da bandeira para o palco.

Camisetas da turnê são vendidas por ambulantes na Paulista a R$ 50. “Todo mundo quer sentir que participou daquilo. Foi um momento histórico, ainda mais para a nossa comunidade”, diz Samantha Gelli, 22, travesti, que comprou a sua. Os leques também fazem sucesso, assim como canudos com pontas em formado de pênis, e são vendidos a R$ 30.

No carro abre-alas, drag queens com perucas em rosa, azul e lilás puxam um público animado, mesmo sob o frio da manhã, com termômetros marcando 18ºC. Logo atrás, a escola de samba Estrela do 3º Milênio, do Grajaú, bairro na zona sul de São Paulo, desfilou e anunciou seu enredo para o próximo carnaval: a história do movimento LGBT+ no Brasil.

Os presentes ficaram em êxtase com a batucada e seguiram a bateria sambando.

Pouco depois do meio-dia, a Paulista recebeu a deputada federal Erika Hilton (PSOL) aos gritos de “presidenta”. “Marcharemos nesta tarde pela retomada da nossa bandeira e para mostrar que o Brasil será melhor, será bicha, sapatão, travesti”, disse a parlamentar.

Após Hilton, discursou seu correligionário Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo. Ele foi recebido com festa e batida de leques. “Essa cidade já derrotou o retrocesso outras vezes e vai derrotar outra vez neste ano. Tenho certeza”, disse o candidato.

Os leques, onipresentes no figurino do público LGBTQIA+ durante festas noturnas e no Carnaval de rua, ganharam versões maiores na Parada, onde o som criado a partir das batidas incessantes das hastes se transformou em uma espécie de grito de guerra repetido após cada discurso. A ação performática foi comandada, inclusive, por Tchaka de cima do primeiro trio.

O vendedor Marivaldo Aleixo, 51, contou ter vendido mais de 30 leques neste domingo. “Sempre vende bem, no Carnaval também, mas hoje estão saindo mais os com as cores da bandeira”, afirma.

Para esta edição, os organizadores apostam no tema Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo, convidando o público refletir sobre a importância do voto consciente e representativo.

Além das camisas da seleção brasileira e dos leques com as cores da bandeira LGBT+, é possível avistar fantasias diversas entre o público.

De Marilyn Monroe a Vera Verão, personagem do programa A Praça é Nossa, passando por fantasias conscientes para alertar para os hábitos de consumo excessivo, a regra entre os presentes parece ser se sentir confortável na própria pele.

“Para mim, é elogio ser comparada a Vera Verão. Ela me inspira porque é bicha preta, afeminada, periférica, inteligente e criativa”, diz Deivid Leôncio, 27, trajado como a personagem.

Atração mais esperada, Pabllo Vittar subiu no trio elétrico com figurino nas cores da bandeira nacional e começou sua apresentação com seu hit “Amor de que”. “Vamos ferver essa avenida”, disse, enquanto o público batia seus leques.

O show foi interrompido por alguns minutos após princípio de tumulto quando o trio passava pelas obras na Paulista quase esquina com a rua da Consolação. Neste ano, diferente dos anteriores, um trecho da via ficou interditado por causa de obras do metrô, e o público teve menos espaço.

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