Frente de esquerda discute aliança com centro para poder governar na França
NFP elegeu 182 parlamentares, seguida pelo bloco Juntos, do presidente Emmanuel Macron, com 168 deputados
Ainda que tenha se tornado o maior bloco parlamentar da França após o segundo turno das eleições legislativas, a esquerdista Nova Frente Popular (NFP) discute a participação dos centristas no governo, já que a coalizão não conquistou a maioria absoluta dos assentos na Assembleia Nacional.
A NFP elegeu 182 parlamentares, seguida pelo bloco Juntos, do presidente Emmanuel Macron, com 168 deputados, e pela Reunião Nacional (RN), sigla ultradireitista de Marine Le Pen, com 143 cadeiras. Antes, esses grupos ocupavam, respectivamente, 150, 250 e 89 assentos.
Nenhum dos lados se aproximou, portanto, da maioria absoluta de 289 dos 577 deputados, o que implica a necessidade de alianças ao menos pontuais para o próximo governo e mergulha a França em um contexto de incerteza sobre a governabilidade a duas semanas do início das Olimpíadas de Paris.
“O caminho para o governo é muito estreito, muito frágil, mas temos que tentar. O presidente tem que nos deixar governar”, disse Fabien Roussel, secretário-nacional do Partido Comunista, um dos membros da NFP, em entrevista à rádio francesa RTL nesta terça-feira (9).
Os líderes da coalizão se reúnem desde domingo (7) para tentar chegar a um consenso sobre a indicação do primeiro-ministro e sobre as estratégias para governar sem maioria.
O segundo turno da eleição foi marcado por uma manobra conhecida como “frente republicana”, na qual mais de 200 candidatos de esquerda desistiram em favor de candidatos do centro, e vice-versa, para impedir a vitória de rivais de ultradireita.
A união com legendas não pertencentes à NFP é, no entanto, rejeitada por Jean-Luc Mélenchon, 72, líder do partido A França Insubmissa (LFI), mesmo que parte dos membros do bloco afirme que a união será necessária. O político defende que a coalizão implemente todo o seu programa, que inclui aumento do salário mínimo, redução da idade de aposentadoria e limitação dos preços de combustíveis, energia e alimentos básicos.
Entre os centristas, há quem sugira a dissolução da aliança de esquerda para que os integrantes mais moderados do grupo possam formar uma coalizão mais ampla. A deputada Yael Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional, propôs na segunda (8) a união entre centro, esquerda e direita, excluindo a França Insubmissa e a ultradireitista Reunião Nacional.
Em contrapartida, membros da esquerda instaram o Juntos a se desfazer para que alguns dos componentes apoiem a NFP. “Para falar claramente, estou pensando nos macronistas de esquerda que poderiam se juntar a nós. Estaríamos abertos a isso”, disse Johanna Rolland, prefeita socialista de Nantes, em entrevista ao canal de televisão France 2.
Até que o bloco se decida e anuncie sua indicação de primeiro-ministro, Macron pediu ao atual premiê, Gabriel Attal, que permaneça no cargo para garantir a estabilidade do país. Attal, 35, foi primeiro-ministro por apenas seis meses, o mais jovem da história francesa.
Mélenchon e seus aliados defendem que o novo premiê seja alguém da França Insubmissa. Questionado em entrevista à emissora TF1, o político não descartou o interesse no cargo, mas também sugeriu nomes próximos, como os deputados Manuel Bompard e Mathilde Panot.
Na mídia francesa, alguns dos nomes mais citados desde a eleição são Olivier Faure, primeiro-secretário do Partido Socialista, Raphael Glucksmann, eurodeputado que liderou a lista de candidatos socialistas nas eleições para o Parlamento Europeu, e Marine Tondelier, líder do partido Ecologistas.