Juiz revoga prisão preventiva em caso de violência doméstica e justifica: “feminismo punitivista”

Decisão anterior, emitida em audiência de custódia, considerava que a liberdade do acusado representava risco à segurança da vítima

Natália Sezil Natália Sezil -
Comarca de Águas Lindas de Goiás.
Comarca de Águas Lindas de Goiás. (Foto: MPGO)

Uma decisão do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, de Águas Lindas de Goiás, no entorno do Distrito Federal (DF), chamou a atenção ao revogar a prisão preventiva de um homem acusado de violência doméstica – o que havia sido decidido alguns poucos dias antes.

Segundo informações do site especializado Rota Jurídica, o homem foi detido em flagrante no dia 10 de fevereiro, sob acusação de lesão corporal, injúria e ameaça contra a companheira. Em uma audiência de custódia, realizada no dia 12, a juíza plantonista converteu a prisão em flagrante para preventiva.

A decisão contrariava uma manifestação do Ministério Público (MPGO), que, se mostrando favorável à liberdade provisória com medidas cautelares, não havia pedido pela prisão preventiva.

Única mulher na audiência, a juíza Lívia Vaz da Silva considerou que a liberdade do acusado representava risco à segurança da vítima, frente ao histórico de violência e à possibilidade de novas agressões. Em justificativa, ela afirmou que era necessário uma resposta firme diante da violência doméstica.

O juiz Felipe Morais Barbosa enxergou a afirmação como uma abordagem “feminista punitivista”, e defendeu que a luta contra a violência de gênero deve ocorrer respeitando os princípios do devido processo legal, com a máxima imparcialidade do julgador.

O magistrado também argumentou que o endurecimento penal não necessariamente protege as mulheres e pode reforçar a seletividade do sistema penal.

“A justiça feminista não pode ser confundida com a ampliação indiscriminada do poder punitivo estatal. A sanha punitivista, muitas vezes impulsionada por um desejo legítimo de proteção às vítimas, não pode se sobrepor ao respeito às regras processuais, sob pena de comprometer a própria credibilidade do sistema de Justiça”, afirmou na decisão.

Diante da revogação, o acusado foi colocado em liberdade provisória e continua sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. Ele está proibido de se aproximar da vítima, de acordo com medidas protetivas.

Natália Sezil

Natália Sezil

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás, é estagiária do Portal 6 e atua na cobertura do cotidiano. Apaixonada por boas histórias, gosta de ouvir as pessoas, entender contextos e transformar relatos em narrativas que informam e conectam o público.

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