‘Não tenho medo de muita coisa’, disse Juliana à mãe antes de ir a mochilão
Ela também disse que só se preocupava em não desapontar a família. Texto foi enviado em fevereiro, após ela deixar o Rio de Janeiro


SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Em uma mensagem de despedida após embarcar para um mochilão na Ásia, Juliana Marins, brasileira que morreu após cair em uma trilha na Indonésia, afirmou à mãe que não tinha medo de muita coisa.
“Não tenho medo de muita coisa, muito menos de perrengue”, disse a jovem. Na mensagem, ela também disse que só se preocupava em não desapontar a família. O texto de despedida foi enviado em fevereiro, após ela deixar o Rio de Janeiro a caminho da Ásia. A mãe mostrou o registro em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
“Fui criada por uma mulher que consegue resolver qualquer problema e que não tem medo de se jogar e ir atrás do que sonha. Eu sou assim também, só tenho vontades e sonhos diferentes. Eu amo muito vocês e serei sempre grata por todo apoio, cuidado e carinho. é isso que faz eu não ter medo”, disse Juliana Marins, em mensagem à mãe.
Guia teria dito que Juliana caiu quando ele saiu para fumar. Ao Fantástico, Manoel Marins afirmou que o guia conversou com ele e disse que a jovem foi orientada a esperar sentada por alguns minutos quando relatou cansaço. “O guia disse que ele se afastou por cinco a dez minutos para fumar. Quando voltou, não avistou mais Juliana”, afirmou.
O guia se amarrou em uma corda sem ancoragem no desespero, segundo o pai. Marins relata que a equipe tinha apenas uma corda e que jogaram na direção de Juliana, mas sem sucesso. Na sequência, o próprio guia, que não teve a identidade revelada, tentou descer para buscar Juliana – mas não conseguiu.
Pai culpa a falta de organização do parque e o guia. Segundo ele, se o profissional tivesse acompanhado a turista, o fim poderia ser outro. Além disso, ele narra que o coordenador do parque demorou para acionar a Defesa Civil da Indonésia: “primeiro culpado, que eu considero o culpado maior.”
Acidentes acontecem com frequência no Monte Rinjani. Um dia após corpo de Juliana ser resgatado, um turista malaio também caiu da trilha e acabou resgatado com uma fratura na bacia.
O voluntário que resgatou o corpo de Juliana pediu desculpas para a família por não conseguir tirá-la com vida. Abdul Haris Agam contou que fez um trajeto perigoso e ficou com escoriações após o resgate. Outro voluntário teve que receber atendimento médico após a incursão, segundo ele. “Me senti decepcionado. Esperava que ela ainda estivesse viva”, afirmou.
Juliana morreu entre 50 minutos e 12h50 antes do resgate. O corpo dela foi recuperado depois de sete horas de trabalho de socorristas e voluntários. Ele começou a ser retirado por volta das 13h50 do dia 25 [2h do dia 25, no horário de Brasília], sendo içado em uma maca e levado para uma base do parque.
Morte foi confirmada após quatro dias de tentativa de resgate. “Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu”, afirmou a família. Poucas horas antes, o Ministério do Turismo daquele país publicou que ela estava em “estado terminal”, segundo avaliação das equipes de busca.
Vítima ficou ferida até morrer, afirmou médico legista. “De acordo com meus cálculos, a vítima morreu na quarta-feira, 25 de junho, entre 1h e 13h [14h do dia 24 e 2h do dia 25, no horário de Brasília]”, disse Ida Bagus Putu Alit, do hospital Bali Mandar, à BBC News. Isso contradiz a Agência Nacional de Busca e Resgate (Basarnas), que havia dito que ela morreu na noite do dia 24.
Médicos afirmaram que não há “sinais clássicos” de hipotermia. Segundo o legista, a falta de necrose nas extremidades do corpo permite “afirmar com segurança” que a jovem não morreu devido ao frio. A temperatura era próxima de 0 ºC à noite. Juliana usava apenas calça e blusa, sem equipamentos próprios, o que levou muitas pessoas a questionarem se ela sobreviveria às condições climáticas.
Membros superiores, inferiores e costas da brasileira foram áreas mais machucadas. Segundo o legista, além de hemorragia interna, brasileira tinha ferimentos na cabeça, fraturas na coluna vertebral, nas coxas e outras escoriações pelo corpo.
Juliana morreu por “trauma torácico grave” após cair pela 2ª vez, segundo autópsia. O médico afirmou que a jovem teve órgãos internos respiratórios comprometidos por fraturas causadas pelo impacto da queda.
Juliana escorregou e caiu na trilha do vulcão
Juliana tropeçou e escorregou durante a trilha na noite de sexta (20), no horário de Brasília. Ela rolou da montanha e foi parar a cerca de 300 metros abaixo do caminho da trilha, no vulcão Rinjani, na ilha de Lombok. Com isso, ficou debilitada e não conseguia se movimentar.
Família acompanhou situação por fotos e vídeos enviados por espanhóis à espera do resgate. Mariana diz que tudo se agravou com o aparecimento de forte neblina e umidade, que fez com que Juliana escorregasse ainda mais. A irmã chegou a dizer que seria um ”absurdo se ela morresse por falta de socorro”.
Demora ocorreu por dificuldades na trilha, disse governo local. A Barsanas (Agência Nacional de Resgate da Indonésia) afirmou que a dificuldade de acesso à trilha fez com que as pessoas que avistaram Juliana levassem oito horas até conseguir comunicar o fato às autoridades. Segundo eles, desde o primeiro dia, tentativas de resgate com cordas e macas foram feitas, sem sucesso.