A estratégia inevitável da Urban para reduzir custos e não fazer explodir o preço da passagem

Mudanças, no entanto, não devem ser bruscas e pressão junto ao Governo de Goiás também está em curso

Rafaella Soares Rafaella Soares -

Detentora da concessão do transporte coletivo em Anápolis desde 2016, a Urban iniciou 2020 adotando medidas para tentar se adequar à realidade orçamentária da empresa, que enfrenta não só um cenário econômico nacional crítico, mas também a forte concorrência das viagens por aplicativo.

A extinção do cobrador, que há muito tempo chegou nas principais cidades do Brasil, incluindo Goiânia, é a primeira delas. Em breve, esses profissionais já não serão mais encontrados na Urban e, para isso, a empresa deu início à implantação da bilhetagem eletrônica, prevista desde as negociações do reajuste da tarifa com a Prefeitura de Anápolis no ano passado.

Conforme Carlos Leão, diretor jurídico do Grupo São José do Tocantins, que é dono da Urban, o sistema automático tem custo mais baixo e os atuais cobradores, cerca de 300, deverão ser realocados em outras funções, uma vez que a companhia não teria condições financeiras para arcar com os acertos rescisórios.

“O intento da empresa é migrar grande parte dessas pessoas para outras áreas, como bilhetes eletrônicos, situação a qual serão treinados e capacitados. Além disso, há a previsão da chegada de três ônibus menores (de teste) para o sistema da cidade, os quais temos em vista capacitar cobradores e qualificá-los como motorista destes ônibus menores, para que assim consigam experiência e, futuramente, sejam qualificados como motoristas de ônibus maiores”, disse.

Segundo o executivo, no entanto, é previsto que muitos desses funcionários peçam demissão por conta própria ao longo dos meses devido à alta rotatividade na empresa nesta função.

A segunda estratégia da Urban é, por meio de propaganda nas principais rádios da cidade, pressionar agressivamente o Governo de Goiás para conseguir subsídio que componha parte da passagem e, consequentemente, reduzir os custos da tarifa à população.

Isso porque, na prática, recai sobre os usuários pagantes as despesas que a empresa tem para suportar as gratuidades (idosos, PCD’s, militares) previstas em Lei e a metade da passagem dos estudantes. Na Grande Goiânia, o Passe Livre Estudantil é bancado integralmente pelo Estado.

Corte inevitável

Graduado em Administração, mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação e coordenador de curso na Faculdade Anhanguera de Anápolis, Wallace Portilho analisa que a Urban adquiriu uma estratégia razoável para demitir coloradores gradativamente sem entrar em crise até que os usuários se adaptem à bilhetagem eletrônica.

“A demissão vai acontecer, ela é inevitável na redução de custos. O ônibus é diferente de um carro, não tem como fazer economia no motor, então, a economia, com a tecnologia que já existe, seria reduzindo o pessoal. É super razoável que serão desligados gradativamente porque não tem lugar nas vendas [de cartões eletrônicos] para todas essas pessoas. Não seria necessariamente preciso os 300 [cobradores], mas eles serão alocados também para outros serviços como limpeza, serviços gerais, e isso seria para a empresa uma válvula de escape na hora da negociação da estabilidade”, explicou ao Portal 6.

“Em São Paulo foi assim. Colocaram o pessoal em dos pontos de ônibus e, no prazo um ou dois anos, todos foram desligados. Alguns foram promovidos a motoristas e conseguiram ficar. Então, é razoável dizer que esse acordo seria interessante porque não perdem essa queda de braço, ganham tempo para demitir devagar e ganham apoio para que as pessoas se adaptem. Nessa situação, não tem como pensar em redução de custos se não for com redução de pessoal. A tecnologia uma hora ou outra iria bater às portas”, salientou.

Poder público

Responsável pelas negociações de aumento da tarifa, a Prefeitura de Anápolis se pronunciou por meio de nota sobre a atual situação da Urban, reafirmando que não existe no acordo a previsão de demissões e sim realocações.

Mesmo que essa ação não tire da concessionária o peso do salário pago aos cobradores, seria a bilhetagem eletrônica o motivo que teria feito a Administração Municipal conseguir ajustar o valor da passagem para R$ 4 e R$ 4,25, ao invés dos R$ 4,80 solicitados pela empresa.

Já a Câmara Municipal, por meio do presidente Leandro Ribeiro (PTB), afirmou não ter competência para intervir na gestão de uma companhia privada, apenas se comprometeu a mediar uma reunião com os diretores da Urban com os funcionários para tratar sobre o assunto.

Silêncio

Entidade que existe para defender os direitos da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Município de Anápolis (SITTRA) foi procurado pelo Portal 6, mas a reportagem não conseguiu falar com o presidente da agremiação, Adair Rodrigues, em nenhuma das reiteradas tentativas nas últimas 24h.

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