Anápolis pode combater o coronavírus sem paralisar toda a economia, defende Márcio Corrêa

Pré-candidato a prefeito também aponta estratégia de crescimento utilizada em Aparecida de Goiânia, administrada pelo MDB há quase 12 anos, para fazer Anápolis deslanchar novamente

Danilo Boaventura Danilo Boaventura -
Márcio Corrêa é pré-candidato a deputado federal pelo MDB (Foto: Vanúbia Corrêa)

Doutor em odontologia e empresário, o presidente do MDB de Anápolis, Márcio Corrêa, recebeu a reportagem do Portal 6 no final da tarde da última sexta-feira (24), em seu escritório, no bairro Jundiaí.

Cotado como o principal nome do partido para a disputa da Prefeitura na eleição deste ano, ele não esconde que é pré-candidato, mas preferiu falar menos de política e mais sobre o atual momento que o mundo e o país enfrenta: o avanço do novo coronavírus e o impacto econômico que a pandemia está causando.

No cenário local, o dentista acredita que é preciso adotar políticas de estímulo para que a cidade consiga superar a inevitável queda na arrecadação.

Para fazer frente aos principais adversários que terá à vista — o atual prefeito Roberto Naves (PP), e o ex-prefeito Antônio Gomide (PT)–, Márcio Corrêa aposta na comparação entre Anápolis e Aparecida de Goiânia, cidade administrada com sucesso pelo partido dele há quase doze anos.

Para ele, o município colado à capital teve competência para atração de investimentos e Anápolis ficou parada no tempo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O senhor, como cirurgião dentista e empresário, defende uma maior flexibilização do isolamento social em Anápolis?

Como profissional de saúde, defendo as medidas de isolamento social que visam proteger a vida, seja em Anápolis ou em qualquer outro lugar. É o nosso maior bem e a nossa maior preocupação. Como empreendedor, acredito que se pode avançar na flexibilização controlada sem gerar risco à saúde da nossa população. [Mas] de forma responsável, técnica e gradual. Existem instrumentos disponíveis para que possamos manter o controle da propagação do Covid-19 na nossa cidade sem paralisarmos toda a sua economia. Alguns segmentos, com controle sanitário rígido, podem funcionar parcialmente ou integralmente sem oferecer riscos. Outros, principalmente os que geram maior aglomeração de pessoas, têm de esperar um pouco mais. O problema maior não é este, e sim a falta de perspectiva futura para os empresários e trabalhadores.

Como assim?

Falta uma estratégia clara e eficiente de recuperação da economia de Anápolis, que tem perdido terreno nos últimos anos e a pandemia do Covid-19 vai agravar este quadro. Já fomos a cidade mais importante e pujante de Goiás, mas estamos andando só para trás. Em 2012 existiam 560 indústrias funcionando em Anápolis e em 2018 eram apenas 520, de acordo com a Enel, levando-se em conta o número de consumidores de energia na área industrial. No comércio existiam 15 mil empresas em 2012. Em 2018, eram 14 mil. Ou seja: 1 mil a menos. Isso se reflete diretamente no mercado de trabalho. O número de trabalhadores em Anápolis, com carteira assinada, é praticamente o mesmo nos últimos anos, em torno de 100 mil. Como os jovens vão achar ocupação num mercado de trabalho que não cresce e não gera novas oportunidades?

A recessão na economia brasileira dos últimos anos não é a culpada por isto?

Pode-se culpar a recessão econômica, mas isso não justifica o fato de Anápolis ter perdido terreno para outros municípios goianos nos últimos anos, segundo indicadores oficiais. Aparecida de Goiânia, por exemplo, adotou nos últimos dez anos uma clara e eficiente política de atração de empresas e de geração de empregos. O município tem hoje mais indústrias, mais empresas e mais trabalhadores com carteira assinada do que Anápolis. Isso tem impacto para toda a economia da cidade. Nós não perdemos empresas para Aparecida. O fato é que Anápolis perdeu a sua capacidade de atrair novos investimentos, novas empresas, gerar novos empregos. A renda dos trabalhadores anapolinos também não condiz com a força econômica que o município já representou um dia. O salário médio mensal do trabalhador anapolino é de 2,6 salários mínimos, somente o 19º maior no Estado. O nosso PIB per capita é apenas o 39º maior de Goiás. São dados são oficiais, tanto do Instituto Mauro Borges, que é do Estado, como do IBGE, do governo federal.

Então, como tornar Anápolis a principal economia goiana novamente?

[Tem que] ter planejamento e uma estratégia clara e eficiente para incentivar investimentos privados. Anápolis reúne as melhores condições para a sua economia crescer muito acima da média goiana e nacional. Temos uma das melhores infraestruturas logísticas, com rodovias duplicadas e ferrovias para as Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do País. Uma empresa em Anápolis pode exportar ou importar tanto dos portos paulistas como nos do Nordeste. Temos um porto seco. Estamos muito próximos de mercados consumidores importantes, como a Região Metropolitana de Goiânia, Entorno do Distrito Federal e Brasília. Temos faculdades e institutos tecnológicos para formar e capacitar a nossa mão de obra. Mas nenhuma empresa virá para Anápolis se não for incentivada. Também não basta incentivar se não há o que oferecer. Passaram os últimos dez anos numa discussão, sem nenhum avanço, sobre a expansão do DAIA. Enquanto isso, Aparecida de Goiânia criou mais de cinco distritos industriais, com toda a infraestrutura necessária, em várias regiões da cidade. Também foram agressivos em vender a cidade para investidores, os gestores municipais literalmente iam atrás das empresas para convidá-las para a cidade. Os resultados já começaram a colher, principalmente na geração de milhares de novos empregos. O que falta para Anápolis? Área disponível? Recursos? Não acredito nisso. Nenhum município goiano tem o que temos na nossa cidade para voltarmos ser a principal força econômica de Goiás. E eu citei aqui o crescimento de Aparecida como exemplo, mas poderia falar também de Rio Verde, Trindade ou de outros que vêm conquistando avanços econômicos.

Mas o Governo de Goiás anunciou recentemente a expansão do DAIA e a Prefeitura tem projeto de criar um segundo distrito industrial. Não é um começo?

Espero que avancem mesmo e que essas promessas se tornem realidade. Mas ainda assim, pelo que foi anunciado até agora, estarão muito aquém do que a economia de Anápolis precisa e tem potencial. Temos recursos, infraestrutura e pessoal capacitado de sobra. Falta é tornar prioridade para Anápolis a atração de novas empresas e a geração de empregos. Não vejo o atual governo do Estado empenhado neste sentido e um sinal claro disto é a forma como o DAIA ficou largado por tanto tempo.

A previsão é que haverá uma nova recessão econômica no Brasil por causa do novo coronavírus. Isso não vai dificultar a atração de investimentos privados?

Temos que ser realistas: é bem provável que a economia brasileira sofra redução este ano. Mas é maior a capacidade do brasileiro de superar estas crises e dar a volta por cima. Acredito que no próximo ano o Brasil já voltará a crescer e aproveitará melhor e mais cedo quem estiver mais preparado. É o que diferencia uma gestão com prioridades, planejamento e muito trabalho. Isso passa credibilidade e confiança para o mercado. É o primeiro passo para atrair novos investimentos e empregos em Anápolis, além de se criar as condições necessárias para que eles possam ser concretizados. Temos potenciais que precisam ser mais bem explorados, pensando no médio e no curto prazo, como a questão logística. Não dá pra ter a visão estreita de querer agir apenas pontualmente, de forma imediata, deixando de lado os grandes projetos que requerem planejamento e tempo de execução.

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