Trans na política são resposta ao bolsonarismo, diz Erika Hilton

”Se não nos organizássemos e nos colocássemos dentro das Casas Legislativas para tomadas de decisão, talvez nós continuássemos sendo aniquiladas de forma bárbara”, acredita Erika Hilton

Folhapress Folhapress -

Artur Rodrigues, de SP – Aos 27 anos, Erika Hilton (PSOL) é a primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.

A futura vereadora foi a sexta mais votada, com 50.508 votos. Ela chega à Casa ao mesmo tempo que outra pessoa trans, Thammy Miranda (PL), também aparece entre os candidatos mais votados.

Ex-estudante de gerontologia da UFSCar e “codeputada” na Bancada Ativista da Assembleia Legislativa, mandato coletivo encabeçado pela deputada Mônica Seixas (PSOL), ela resolveu se candidatar a vereadora por avaliar que sua experiência não foi das melhores nesse modelo de representação e que sua luta precisa de protagonismo.

Pergunta – Como avalia a eleição de duas pessoas transgênero à Câmara de São Paulo?

Erika Hilton – Eu enxergo que é uma organização em resposta ao fascismo que o Bolsonaro e o bolsonarismo trouxe ao Brasil. Nós nos sentimos muito acuadas e amedrontadas com a eleição do presidente e percebemos que, se não nos organizássemos e nos colocássemos dentro das Casas Legislativas para tomadas de decisão, talvez nós continuássemos sendo aniquiladas de forma bárbara.

Antes a sra. já fez parte de um mandato coletivo na Assembleia. Como foi a recepção entre os colegas?

EH – A recepção nunca é boa. Nosso corpo é estranho em qualquer lugar. O Parlamento não é aparte da sociedade. Ele é parte da sociedade. E a sociedade é transfóbica, racista. Teve aquele episódio lamentável do deputado dizendo que tiraria uma mulher trans do banheiro aos tapas. Isso se reflete no comportamento de outros fascistoides que lá haviam. É claro que conseguimos abrir terrenos e dialogar com pessoas de outros campos que não a esquerda, porque nem todo mundo é fascista.

Por que agora um mandato individual?

EH – Os mandatos coletivos não são a solução de tudo. A minha experiência não foi das melhores na Bancada Ativista, que pincelou pessoas vindas de lugares completamente distintos do meu e a minha pauta se viu espremida dentro de um gabinete. E a minha pauta é uma pauta cara, uma pauta de vida, uma pauta urgente para toda a sociedade.
Avalio que os mandatos coletivos possam ser potentes, desde que todos que façam parte dele estejam alinhados ideologicamente.

Como vereadora, o que pode fazer pela população trans?

EH – Ampliar as vagas do projeto Transcidadania, melhorar o projeto para que tenha continuidade, para que tenha parceria com empresas para que depois de dois anos as meninas não precisem voltar para a prostituição, para o drogadicídio.

Enfim, promover a dignidade humana a partir do emprego, da moradia, não é inventar a roda. É dar direito de cidadania para quem tem ele negado.

Num eventual governo Covas, como seria a postura da bancada do PSOL?

EH – Tem coisas que não dá para negociar. Precisamos ser resistência, ser um dedo na ferida. Outras coisas talvez seja possível chegar a um consenso.

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