Tino Marcos deixa a Globo após 35 anos e diz que pandemia foi determinante para decisão

Folhapress Folhapress -

O jornalista Tino Marcos, 58, está deixando a Globo após 35 anos na emissora. A saída do profissional foi confirmada nesta terça-feira (2) pela Globo, em comunicado à imprensa. Na emissora, ele foi apresentador e editor-chefe do Globo Esporte e trabalhou no Esporte Espetacular por vários anos.

“Depois de 35 anos dedicados à cobertura esportiva na Globo, Tino Marcos decidiu que está na hora de deixar a reportagem. Foram seis Jogos Olímpicos, oito Copas do Mundo, 30 anos cobrindo a Seleção Brasileira, viagens pelo mundo todo e muitas histórias contadas com a competência e sob o olhar sensível de Tino”, diz Renato Ribeiro, diretor de esportes da Globo.

No comunicado, Ribeiro afirmou que o jornalista ficará na emissora até o final de fevereiro e diz que a carreira de Tino Marcos “se confunde com a própria história do esporte brasileiro”. “A sensação do dever cumprido e o desejo de se dedicar mais à família nortearam a decisão.”

“Nesses anos todos eu fiz tudo. Não tem lacuna. Fui a Pan-Americano, Sul-Americano… Tudo. A palavra mais forte de tudo é gratidão. Gratidão à vida por ter me permitido… Por eu ter podido fazer aquilo que, para mim, sempre foi uma diversão. Sempre sonhei com uma despedida da Globo alegre, leve. Me preparei para isso gradativamente. Tive a cumplicidade total da direção na condução desse tipo de modelo”, diz Tino Marcos.

“A pandemia é uma variável decisiva neste processo. Tornou inviável o modelo de trabalho que eu vinha tendo, voltado para matérias com mais fôlego, séries, grandes produções. Isso se resumiu muito. E tem todo um contexto. Minha filha se formando na faculdade, minha esposa se aposentando este ano, eu perdi os meus pais. A vida, 2021, está me trazendo muitas novidades. Por agora é isso aí. Viver essa pandemia, ficar em casa o máximo que eu posso. O que eu gosto mesmo é de produzir conteúdo, contar histórias.”

A última reportagem de Tino Marcos, diz a Globo, será uma série olímpica produzida para o Jornal Nacional, que vai contar a “história de alguns dos nossos atletas de um jeito como poucos sabem fazer”. O projeto será exibido em julho. A emissora afirma ainda que “as portas da Globo continuarão abertas para parcerias em novos formatos com Tino Marcos”.

Em julho de 2019, Tino Marcos pediu uma licença não remunerada de seis meses da Globo para “poder descansar”, segundo a emissora. Durante o período de ausência, o profissional ficou sem remuneração, retornando em janeiro de 2020.

Antes de retornar à Globo, no final de 2019, Marcos teve seu contrato modificado pela emissora se tornando freelancer com algumas regalias e não mais contratado no regime CLT. Na época, a informação foi dada pelo colunista Léo Dias, do UOL.

O jornalista esportivo receberia por reportagens, não faria plantão nem será obrigado a frequentar a Redação da Globo. Ainda segundo o colunista, o salário do profissional estava em torno de R$ 130 mil a R$ 150 mil, mensais.

Apesar da mudança contratual, Marcos continuaria a receber alguns benefícios, como plano de saúde. Questionada, a Globo disse que não comenta sobre os contratos de seus colaboradores.

Confira a íntegra do comunicado de Renato Ribeiro aos funcionários da emissora.

“Amigas e amigos,

Em julho de 2019, Tino Marcos nos procurou pedindo uma mudança. Queria deixar a cobertura da Seleção Brasileira e o dia-a-dia em geral para se dedicar a projetos especiais. Era o primeiro passo de uma ideia maior: de, aos poucos, se despedir da reportagem. Na semana passada, Tino nos procurou novamente pra dizer que esse dia chegou. É raro alguém ter a sabedoria, a coragem e a serenidade de decidir parar no auge. Tino quer curtir a vida e ficar perto da família depois de tantos domingos trabalhados, de tantas longas viagens, de tanto tempo afastado de casa.

Sem exagero algum, Tino Marcos deixar a reportagem é como Pelé se despedir dos campos. Tino entrou na Globo em maio de 1986 e foi um dos responsáveis pela criação de um jeito único e bem brasileiro de se contar histórias esportivas na TV. Um gênio do audiovisual, da decupagem frame a frame, da pergunta exata, do texto perfeitamente casado com a imagem. Um estilo que influenciou gerações. Tino é até hoje referência.

As reportagens dele se confundem com a história do esporte brasileiros nos últimos 35 anos. Pra se ter uma ideia do peso de Tino Marcos, no início da carreira – ainda no Cruzeiro – o sonho do Ronaldo era ser entrevistado por ele num jogo do Brasil. Há a história de um aniversário do Fenômeno em Bento Ribeiro em que a maior atração da festa foi o Tino. Ronaldo teve que pedir pra todos “deixarem o Tino em paz pra ele trabalhar.” O microfone do Tino marcou a carreira inteira do Fenômeno e de muitos outros craques. Foi o repórter do tetra e do penta.

Soube se reinventar, mudando a linguagem das reportagens ao longo do tempo. Generoso, ajudou na carreira de inúmeros repórteres (me incluo nessa longa lista). Foi inspiração de muita gente. Qual repórter não foi chamado de Tino nas ruas? Virou sinônimo do ofício.

Tino continuará conosco ainda no mês de fevereiro para finalizar os episódios de uma série olímpica para o JN, que irá ao ar em julho. Será seu último presente para todos como repórter. Mas as portas da Globo sempre estarão abertas para qualquer tipo de parceria com o Tino no futuro.

Em nome da Globo e de todos os colegas só tenho a agradecer, Tino, por tudo o que fez nesses anos. Por ter sido quem foi. Pela herança que deixa.

-Galvão!
-Diga, Tino!
-Sentiu.
Sentiremos todos, Tino.
Seja feliz com Virginia, Pilar e Laura.
Sinta-se abraçado por todos os seus colegas e fãs,
Renato”

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