As frases de Bolsonaro em Anápolis que repercutem como polêmica mesmo após ele ir embora

Líder do Executivo abordou mais uma vez o tema da origem do vírus e sugeriu que ele pode ter sido criado em laboratório

Folhapress Folhapress -
(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)

Daniel Carvalho e Ricardo Della Colletta – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a questionar, nesta quarta-feira (9), vacinas contra a Covid-19 e difundiu desinformação ao afirmar, incorretamente, que os imunizantes estão em fase experimental.

“[Remédios do chamado tratamento precoce] não têm comprovação científica. E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está [em estado] experimental”, disse.

A fala do presidente é falsa porque as vacinas contra a Covid-19 não estão em estado experimental. No Brasil, diferentes imunizantes receberam o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), tendo passado por análises de segurança, qualidade e eficácia.

Mesmo as vacinas que receberam luz verde para aplicação emergencial passaram por esse tipo de avaliação.

Para uma vacina ser aprovada no Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) analisa, entre outras informações, dados de como ela é produzida, como foram feitos os estudos que chegaram à conclusão de segurança e eficácia, como ocorre o controle de qualidade e como será o monitoramento após a liberação para a população.

O produto entra na campanha de imunização do país apenas após o aval do órgão regulador.

O registro de um imunizante ocorre quando há estudos completos sobre a vacina. Já o uso emergencial abre espaço para vacinas que já tenham dados de segurança e eficácia, mas que ainda podem ter estudos a serem concluídos.

Com o aval emergencial, o uso fica limitado preferencialmente a campanhas públicas e ao período de pandemia. Já o registro dura mais tempo e permite também que as vacinas possam ser comercializadas na rede privada.

Bolsonaro fez seu pronunciamento em uma igreja evangélica em Anápolis (GO).

Além de desinformar sobre o atual status das vacinas contra a Covid, ele mais uma vez afirmou que as mortes por Covid no Brasil estão superdimensionadas. Bolsonaro fez ainda uma defesa enfática da hidroxicloroquina e de outros medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento do vírus.

O presidente tem insistido na tese de que há supernotificação nos registros de casos e mortes da doença citando relatórios do TCU (Tribunal de Contas da União). Ele chegou a dizer na última segunda-feira (7) que um documento do órgão teria questionado o número de mortos no país em 2020, mas acabou desmentido pela corte.

“Se retirarmos as possíveis fraudes, teremos em 2020, sim, o país, o Brasil, como aquele com menor número de mortos por milhão de habitantes por causa da Covid”, disse o presidente no culto nesta quarta.

“Que milagre é esse? O tratamento precoce. Quem aqui tomou cloroquina levanta o braço por favor.”

Em outro momento, Bolsonaro disse que, com o tratamento precoce, será possível buscar uma maneira para diminuir o número de óbitos pela Covid no país.

“Acredito que este fato, levando-se em conta os acórdãos do TCU, levando-se em conta o número de mortos, números oficiais, nós podemos sim buscar o ponto de inflexão e uma maneira de diminuir drasticamente o número de mortes no Brasil pelo tratamento precoce”, disse.

O presidente abordou mais uma vez o tema da origem do vírus e sugeriu que ele pode ter sido criado em laboratório -tese rechaçada pelo governo chinês.

“Ainda, eu não tenho provas, mas esse vírus nasceu de um animal ou nasceu num laboratório? Eu tenho na minha cabeça de onde ele veio e para quê. Mas ele está aí, entre nós”, disse.

Uma apuração da OMS (Organização Mundial da Saúde) destacou que o mais provável é que o Sars-Cov-2 tenha surgido naturalmente, a partir da passagem de um hospedeiro animal para o ser humano.

Mas um relatório recente da inteligência dos Estados Unidos reacendeu suspeitas de que ele pode ter vazado de um laboratório na cidade chinesa de Wuhan, onde a doença foi identificada primeiro.

A CPI da Covid no Senado tem investigado a demora do governo em negociar imunizantes contra a Covid e a retórica antivacina de Bolsonaro.

Outro foco de apuração da comissão é o incentivo do governo federal ao tratamento precoce, que consiste no uso de substâncias sem comprovação científica para o tratamento da Covid.

Durante a cerimônia religiosa, Bolsonaro investiu contra o trio de senadores que hoje comanda os trabalhos da CPI: o presidente Omar Aziz (PSD-AM), o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL).

“Que CPI é essa? De Renan Calheiros, de Omar Aziz? Daquela pessoa alegre do Amapá?”, disse Bolsonaro.

Sem citar nomes, ele disse ainda que dá opiniões sobre o vírus a partir de conversas com pessoas que “se preocupam e pesquisam sobre o assunto”.

“Não veio da minha cabeça o que eu falo sobre essa doença, veio de conversas com pessoas que realmente se preocupam e pesquisam sobre o assunto também.”

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