Por causa da pandemia, humor na TV aberta caminha para buraco, diz Carlos Alberto de Nóbrega

Nóbrega diz que levou um susto quando conseguiu retornar aos estúdios da emissora de Silvio Santos

Folhapress Folhapress -
Carlos Alberto de Nóbrega. (Foto: Ronny Santos/Folhapress)

Leonardo Volpato, de SP – Dois bancos, distanciamento e piadas sem risada. As mudanças no formato de A Praça É Nossa (SBT) por causa da pandemia não têm agradado totalmente Carlos Alberto de Nóbrega, 84, comandante da atração há quase 35 anos.

Em conversa com o jornal Folha de S.Paulo, Nóbrega diz que levou um susto quando conseguiu retornar aos estúdios da emissora de Silvio Santos e se deparou com uma série de mudanças. Embora necessárias, na avaliação dele, as alterações prejudicaram o clima do humorístico.

“Foi muito difícil, pois existem protocolos rígidos a serem seguidos. Só que isso tira muito do clima gostoso que tínhamos, da alegria e das brincadeiras. Está tudo diferente. Isso me atrapalhou muito. Sinto falta do calor humano e das risadas que nos ajudavam.”

Ele revela ainda outra situação que também o assustou. Quando dois colegas de elenco receberam diagnósticos positivos de Covid-19 nos exames de rotina no canal –Giovani Braz, que interpreta o bêbado Saideira, e o comediante Diogo Portugal. Eles não tiveram sintomas graves da doença.

Agora, o apresentador senta em um banco e o colega comediante em outro. “Eu sentado naquele banco não tinha posição. Ficou complicado. Na quinta-feira [10 de junho], eu cancelei a gravação. Não tinha clima para gravar.”

Carlos Alberto de Nóbrega conta que sempre começa as filmagens contracenando com o humorista Matheus Ceará. Porém, não tinha as risadas da plateia nem as gargalhadas colocadas pela produção para conduzir as esquetes e nortear os momentos de graça.

“Ninguém pode imaginar o quanto eu senti. O riso é o aplauso do comediante. Fiquei apavorado. Não tínhamos artistas nem para completar os 72 minutos no ar que eu tenho na programação”, desabafa. A questão das risadas, diz ele, já foi solucionada.

Outro fator bastante sentido por ele foi o distanciamento. A partir de agora, todos têm um camarim próprio cujas portas ficam abertas o tempo todo. Nóbrega também não pode mais passar o texto com cada comediante como era de praxe.

Na dinâmica de A Praça É Nossa, os estúdios recebem menos câmeras e cada comediante entra sozinho para ficar ao lado de Nóbrega. Nesse retorno de inéditos, a audiência tem sido em torno de seis pontos na Grande SP (cada ponto do Kantar Ibope equivale a cerca de 76 mil domicílios). E o apresentador conta que começou a chamar gente de fora para incrementar o humorístico.

Entre as novidades estão os humoristas de stand-up comedy Mhel Marrer e Cris Pereira. A participação de ambos tem agradado ao comandante que quer inovar ainda mais o elenco. “Queria trazer Moacyr Franco, conversei com ele, mas o financeiro não encaixou. Convidei Fábio Rabin, mas não rolou por algum motivo. O ruim de parar é que na volta o público quer novidades e os quadros antigos ao mesmo tempo.”

Apesar disso, outra dificuldade é acertar a mão nas piadas em plena pandemia. “O humor na TV aberta está indo para o buraco. Acabaram os caras engraçados. A gente já luta contra o politicamente correto. Hoje tudo é agressivo, preconceituoso”, diz o artista.

Mesmo com todas as mudanças, o apresentador diz que poder trabalhar é uma bênção. Ele já foi vacinado contra a Covid e pôde retornar após a segunda dose –o humorista ficou de 15 de março de 2020 até o começo de maio em casa. “Por duas vezes eu quase implorei para voltar até que Silvio Santos proibiu a minha entrada. No bom sentido, é claro.”

Apesar de todos os cuidados, Carlos Alberto de Nóbrega contraiu a Covid-19 em fevereiro e teve de ficar alguns dias internado. Ele diz que não teve quase nenhum sintoma durante dez dias, apenas uma febre leve. Só que no retorno ao trabalho ele tem sentido algumas sequelas do coronavírus.

“Estou com cansaço, subo escada e fico cansado. Minha memória foi para a cucuia. Nunca usei dália [cartaz com dizeres] e agora estou fazendo uso na Praça. Tenho dor na perna e está pior agora do que quando eu estava no hospital”, afirma o apresentador.

A principal preocupação dele, porém, é o filho, Marcelo de Nóbrega, que teve problemas recentes de coração não pode voltar à direção de A Praça É Nossa. Dois anos atrás, em março de 2019, Marcelo teve oito paradas cardíacas. “Espero que até o final do ano todos os adultos estejam vacinados.”

LIVRO DE MEMÓRIAS PARA 2022

O apresentador Carlos Alberto de Nóbrega usou o período de quarentena de mais de um ano isolado em um sítio em Itu (a 442 km de São Paulo) para escrever histórias e memórias de sua vida. Ele afirma que a obra já está pronta e aguarda o fim da pandemia para ser lançada.

“Resolvi escrever a minha história que eu vi e vivi em 64 anos de carreira. Como começaram os programas que fiz, as injustiças que vi e levei. É um projeto bem interessante que surgiu por causa da pandemia”, diz o apresentador que iniciou a carreira artística como roteirista de quadros humorísticos para a atração do pai, o Programa Manuel de Nóbrega, na Rádio Nacional, em São Paulo.

Carlos Alberto de Nóbrega, que aos 40 anos perdeu o pai, Manuel de Nóbrega, criador do formato “A Praça da Alegria”, afirma que a ideia inicial era transformar essas lembranças em palestras pelo Brasil. O isolamento social, porém, adiou os planos dele que começariam em 2020 e que haviam sido acertados com uma empresa de Brasília no ano anterior.

Para não perder o conteúdo que ele tinha colocado no papel, ele transformou as vivências em obra física. “Fiquei três meses ocupado mentalmente e foi bom para me deixar menos angustiado”, diz Nóbrega, que já lançou outras obras no passado como “A Luz que Não se Apaga” (2004).

“Está tudo pronto, tem fotos e lembranças. Só que agora eu vou esperar para lançar após a pandemia. Quero uma noite de autógrafos”, comenta o apresentador, ao revelar que ter começado até fonoaudiologia para empostar melhor a voz, caso fizesse palestras.

A quarentena de Nóbrega foi necessária. Chegou um determinado momento, porém, em que ele não aguentava mais ficar preso dentro de casa. “Comecei a querer fazer alguma coisa. Fazia umas lives, mas entrei em uma puta depressão, sou agitado e não paro. Quando me vi no sítio, no verão, até que estava bom, mas quando esfriou eu fiquei doido.”

“Já estava traumatizado e enjoado. Via programas voltando [à TV] e a Praça não voltava. Fiquei nervoso”, rememora diz Nóbrega, que chegou a apresentar reprises de A Praça É Nossa direto de casa.

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