Novamente suspensas, cirurgias cardíacas pelo SUS em Anápolis não devem ser retomadas tão cedo

Ano de 2022 começou com cerca de 100 pacientes aguardando na fila de espera, mas sete não conseguiram esperar e morreram

Karina Ribeiro Karina Ribeiro -
Imagem de centro cirúrgico. (Foto: Reprodução/ HEG)

Não há quantidade de válvulas para cirurgias de coração que atenda atualmente o mercado nacional, independente de suplementação para pagamento do produto.

Essa realidade vai ao encontro de uma série de fatores que levaram à queda da produção de um dos itens essenciais para quem precisa da cirurgia para continuar a viver.

Desde os primeiros dias de 2022, o Portal 6 produziu várias reportagens contanto o drama de pacientes e familiares de Anápolis que aguardam ansiosamente na fila da sobrevivência para a realização de cirurgias cardíacas.

Um dos imbróglios, que era o baixo preço pago pela tabela Sistema Único de Saúde (SUS), que não era alterado pelo Governo Federal desde os anos 2000, chegou a ser solucionado pela própria Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) com a complementação do valor dos insumos.

No entanto, conforme um representante desta indústria ouvido pela reportagem, o problema é de outra natureza e deixa todos os atores envolvidos neste processo sem ter muito o que fazer.

“A Prefeitura de Anápolis conseguiu suprir a questão financeira, mas agora o que falta é produto para entregar. Empresas fecharam e não se consegue achar plástico para fazer as válvulas. O mercado está um caos, todo mundo ajudando um ao outro”,  desabafou.

Ele também explicou que, neste mês, não conseguiu entregar nem 10% da capacidade de produção de válvulas que a indústria é capaz.

“Quando encontra o plástico, que é a matéria-prima da válvula, está caro e, mesmo adquirindo, estão pedindo até três meses para entregar”, confidenciou.

Na prática, com a quebradeira ou debandada de outras empresas para o exterior, do dia pra noite, o volume de pedidos aumentou em 55%. Para completar a tragédia, o custo de produção com a falta de matéria-prima também aumentou.

“É dramático! Nem se tivéssemos matéria-prima conseguiríamos entregar. Precisa de dois anos de treinamento para um funcionário conseguir produzir esse tipo de produto”, revelou.

Em tempo

O ano 2022 começou com cerca de 100 pacientes aguardando a fila de espera para o procedimento de cirúrgias cardíacas no município, sendo que 40 já estavam com toda a documentação pronta. Pelo menos sete pessoas não conseguiram esperar e morreram.

Um dos empecilhos era o baixo valor repassado pela Sistema Único de Saúde (SUS) para cobrir os custos dos materiais. A Prefeitura Municipal de Anápolis chegou a autorizar a suplementação  desse valor, conforme divulgado no Diário Oficial do Município (DOM) no dia 06 de janeiro.

Na ocasião,  foi anunciado o início dos procedimentos – que trouxe alívio e esperança para essas famílias. Entretanto, na quinta-feira (27), um documento da Semusa informou que as cirurgias estavam novamente paralisadas.

Conforme o ofício, as indústrias não conseguem fornecer os produtos. O motivo apresentado foi a defasagem de preço, algo que vai contra o que a própria Semusa já havia considerado resolvido.

‘Dessa maneira, informo que a Central de Regulação de Anápolis, devolverá todas as AIHs [Autorização de Internação Hospitalar] solicitando cirurgia cardíaca, só retornando a recebê-las após os gestores regionais encontrarem soluções para as retomadas das cirurgias cardíacas’, afirma o documento.

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