Na mira da Prefeitura, ambulantes encaram incerteza e insegurança para sobreviver em Anápolis

Trabalhadores autônomos enchem o Centro da cidade e ainda sofrem com vendas abaixo do esperado

Lucas Tavares Lucas Tavares -
Banca de brinquedos no Centro de Anápolis. (Foto: Lucas Tavares)

Se a realidade ainda não é a mesma do patamar pré-pandemia, os ambulantes de Anápolis começam a observar vendas melhores se comparadas ao período de medidas restritivas na cidade.

Vendedoras autônomas ainda lamentam baixos rendimentos e precisam lidar com outros desafios, como informalidade, inflação alta, insegurança e burocracias.

A reportagem do Portal 6 percorreu as ruas do Centro da cidade para ouvir diversas trabalhadoras autônomas, em situações diferentes e que, nos últimos anos, passaram pelos piores momentos.

Vendedora ambulante, Lúcia Leite, de 57 anos, teve um ponto de comércio por mais de 14 anos. Porém, por conta da crise sanitária e financeira, precisou abrir mão do espaço.

“Agora ficamos na Praça bom Jesus e no Parque Ipiranga. Faz três anos que estamos tentando regularizar, mas está muito difícil”, disse sobre o processo de regulamentação da Prefeitura.

“Precisamos de uma ajuda. Por exemplo, a casa do artesanato fechou. Poderia deixar a gente ficar lá, cabem umas seis pessoas, nem que a gente pague uma taxa. Tem muita família aqui trabalhando para pagar as contas”, continua.

A informalidade e a incerteza que ela gera são situações que apareceram no radar da Prefeitura de Anápolis.

De acordo com o prefeito Roberto Naves (PP), em Audiência Pública na Câmara Municipal, a questão dos ambulantes é “um problema que está se agravando”.

“Precisamos, além de políticas públicas eficazes, estar atentos para colocar limites e, ao mesmo tempo, cuidar das pessoas”, afirmou o chefe do Executivo.

A Administração Municipal foi questionada pela reportagem sobre o processo de regularização de vendedores ambulantes e pediu dados sobre os que já estão cadastrados.

No entanto, a Prefeitura informou que não há estatísticas concretas e criou, a partir da minirreforma administrativa, uma Diretoria de Posturas para endereçar o tema. Confira a nota ao final da matéria.

Período crítico

Dona de um ponto de comércio, na Praça Bom Jesus, Rosemeire de Jesus Silva, de 50 anos, diz que os piores dias passaram, mas que as vendas ainda não voltaram ao normal.

“Está devagar. Antes da pandemia, sempre quando era época de pagamento, o comércio ficava bom. Mas agora está ruim o mês todo. Mudou muito, nem as pessoas na rua você vê mais. O comércio parou”, lamentou.

Segundo ela, se a comparação for com o período mais crítico da pandemia, com as restrições, por exemplo, a situação melhora um pouco e relembrou outro problema.

“No auge da pandemia a coisa ficou feia, parou tudo. Agora que está começando a normalizar. Mas as coisas estão muito caras. Eu compro minha mercadoria no atacado, se eles aumentam, eu tenho que aumentar também”, explicou.

Contraponto

Outras vendedoras autônomas, no entanto, discordam de alguns pontos trazidos, principalmente sob a perspectiva de melhora financeira em um futuro próximo.

É o caso de Jaqueline Batista, de 31 anos. Ela possui uma banca de brinquedos na Rua Engenheiro Portela e comemora a retomada dos negócios sem restrições.

“Melhorou 90%, não vou dizer cem porque ainda tem muita gente com medo, e deve ter mesmo. Mas melhorou bastante, graças a Deus”.

Para ela, o período de restrição, no auge da Covid-19, foi mais difícil, mas “quem se preveniu, que tinha um extra guardado, conseguiu manter”, concluiu.

Dona Maria da Abadia de Sá, que tem 66 anos, discorda. Para ela, as vendas seguem abaixo do esperado.

“Está muito fraco, não vende nada. Não está no mesmo patamar de antes, já esteve muito melhor. Aquele período que ficamos 15 dias sem trabalhar acabou com tudo, não vende mais. Essa doença acabou com todo mundo, acabou com recursos, com tudo”, disse.

Insegurança

Todas as vendedoras entrevistadas trabalham na região Central de Anápolis, próximo à Praça Bom Jesus. A região está repleta de vendedores ambulantes e comerciantes autônomos. Mas o local está sendo visto de outra forma pelos moradores da cidade.

“Nós estamos precisando mesmo é de segurança aqui. É um lugar lindo, que muitas famílias trazem as crianças para passear, mas está totalmente abandonada”, afirmou a artesã, Lúcia Leite.

“Muita gente fica com medo de vir aqui por conta do tráfico. Tem que ter polícia 24h. O Poder Público precisa dar uma olhada nisso”, concluiu.

Confira a nota enviada ao Portal 6, pela Prefeitura de Anápolis, sobre a situação dos Vendedores Ambulantes na cidade

A Prefeitura de Anápolis informa que está tomando providências para regularizar a situação do comércio ambulante na cidade, realizando um levantamento que analisa os casos em que o trabalhador depende da atividade para sustento da família, diferenciando-os daqueles que lucram indevidamente por apropriarem-se de várias bancas, obtendo vantagens sobre outros trabalhadores. A criação da Diretoria de Postura, em novo organograma aprovado pela Câmara Municipal, vai permitir intensificar ainda mais este mapeamento.

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