Goiás só tem duas deputadas estaduais e baixa representatividade trava pautas femininas na Alego

Portal 6 conversou com uma delas e também ouviu especialista, que aponta características do estado que explicam o retrocesso

Emilly Viana Emilly Viana -
Adriana Accprsi (PT) e Lêda Borges (PSDB) são únicas a representar as mulheres na Alego. (Foto: Hellenn Reis / Alego)

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, em 2020, 52,3% do eleitorado goiano era feminino. Mesmo sendo maioria – cerca de 2,4 milhões mulheres estavam aptas a votar – a proporção se inverteu drasticamente no número de representantes eleitas. Hoje, na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), apenas duas deputadas cumprem mandatos diante de 41 cadeiras.

Uma das parlamentares, Lêda Borges (PSDB) defende que a baixa representatividade se deve ao modus operandi do sistema partidário goiano, de modo geral. “É machista e as conquistas acontecem com muita dificuldade. Há 19 anos as mulheres eram sete na Alego, olha como Goiás retrocedeu”, lembra.

Com a eleição, os obstáculos continuam. Uma situação apontada por ela é a tramitação do projeto, de sua autoria, que prevê a liberação gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade. Um ano antes da polêmica com o Governo Federal, de acordo com Lêda, a proposta foi apresentada e ficou parada na Casa.

“Digo que perdemos a oportunidade de sair na frente e ser vanguarda na área. O assunto só teve visibilidade depois que o governador entendeu que era importante, e, para mim, ele queria era contestar o presidente”, opina.

Ela também avalia que, embora passem pelo legislativo, as mulheres não costumam alcançar posições mais altas. “Nunca tivemos uma presidente na Assembleia e isso é um absurdo. Também mostra que, quanto mais próximo do poder de decisão, mais rara é essa representatividade”, aponta.

Agora, o receio é que o cenário se agrave. “Não temos nenhuma parlamentar em primeiro mandato há muito tempo, o que já mostra como é complicado para a mullher entrar no legislativo sem vivência na Assembleia, e isso é muito preocupante. Com as duas disputando vagas na Câmara Federal em outubro, Goiás pode ficar sem deputadas mulheres”, teme.

O Portal 6 também entrou em contato com Adriana Accorsi (PT) para ouví-la sobre as dificuldades enfrentadas pelas deputadas estaduais, mas não conseguiu retorno até o fechamento desta edição.

Causas históricas

A advogada eleitoralista Anna Raquel Gomes argumenta que, entre as causas para a representação insuficiente no legislativo, está o conservadorismo histórico do estado, que ainda deixa marcas. “Por muito tempo, foram os coronéis a ocupar esses espaço de poder. Em geral, homens brancos, heterossexuais e possuidores de terras, que eram considerados os sujeitos de direitos e naturais detentores de poder. O que mudou muito pouco”, conta.

As mulheres, por outro lado, tinham poucas perspectivas. “Eram tidas como pessoas que deveriam estar dentro de casa, cuidando dos filhos, enquanto os homens tomavam as decisões. Essa é uma herança que ainda pesa muito e não tem sido fácil de desconstruir”, lamenta.

Mestre em Direitos Humanos, a especialista aponta que a situação esbarra em questões perpetuadas em ambientes determinantes. “À mulher, muitas vezes se condiciona a escolha entre cuidar da casa e ter um trabalho, uma empresa ou lançar-se candidata. Elas também, em sua maioria, têm menos apoio de casa e dos partidos que os homens, para quem costuma ser natural esse tipo de carreira”, pontua.

O agravamento na violência de gênero, segundo a advogada, é causa direta do problema. “Nós somos o segundo estado que mais violenta mulheres e isso também é reflexo da baixa representatividade e cultura machista que assola decisões dos parlamentares. Com políticas públicas adequadas, que só poderão ser pautas com a participação do grupo, essa não seria a nossa realidade”, projeta.

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