Baixo número de deputadas na Alego traz consequência para a sociedade goiana

Ouvida pelo Portal 6, a advogada eleitoral Nara Bueno afirmou que falta de nomes afeta diretamente a democracia

Emilly Viana Emilly Viana -
Fachada da Alego, em Goiânia. (Foto: Maykon Cardoso / Alego)

30Mais da metade dos lares goianos são chefiados por mulheres, com 53,3% – conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021. Isso significa que são elas as donas das tomadas de decisões e que colocam comida na mesa.

Por outro lado, há um abismo de representatividade delas na política em Goiás. Ao fazer um recorte atual na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), são apenas 02 mulheres ante 39 homens – sendo apenas 5,12% das parlamentares.

Ao Portal 6, a advogada especialista em Direito Eleitoral, Nara Bueno, explica quais são os impactos que esse descompasso pode gerar na sociedade goiana como um todo. Na prática, pautas sociais importantes nas quais tratam de questões femininas são mais difíceis de serem colocadas em discussão e aprovação.

A título de exemplo, nesse caso em esfera nacional, a oferta gratuita de absorventes para mulheres em vulnerabilidade social.

Entre outros casos, foco com apelo na empregabilidade, segurança alimentar, assédios moral e sexual de tantos lares chefiados pelo sexo feminino. “Um homem pode representar uma mulher? Pode. Porém, ele não vai entender e ter a sensibilidade de lidar e dar luz a todas as questões femininas. O maior exemplo disso é como foi tratada a verba para absorvente pelo Governo Federal”, avalia.

Além da falta de sensibilidade às necessidades levantadas pelo grupo, a maioria masculina poderá contribuir com a desigualdade e violência. “Há limites nessa compreensão às pautas das mulheres que também passam pela experiência. A tomada de decisões neste contexto será privilégio de um só público, que muitas vezes é segregador ou o agressor”, denuncia.

Assim, para a especialista, a falta de representação impacta diretamente a democracia. “Se demograficamente a população tem esse perfil, isso tem que estar refletido na Assembleia. É assim que funciona uma democracia representativa, na qual as demandas de todos os grupos devem ser pautadas”, explica.

Histórico

A participação feminina na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) nos últimos 11 anos dá, literalmente, para contar nos dedos. Em três legislaturas, cinco mulheres ocuparam o cargo de deputada estadual. São elas: Adriana Accorsi (PT), Eliane Pinheiro (PSDB), Isaura Lemos (PCdoB), Lêda Borges (PSDB) e Sônia Chaves (PSDB).

No total, foram oito mandatos. Todas elas foram eleitas duas vezes, com exceção de Sônia Chaves – a única negra entre as parlamentares.

Ainda assim, atualmente o gênero é representado por duas mulheres – Adriana Accorsi e Lêda Borges. O número é 50% menor que na última legislatura, quando quatro parlamentares do sexo feminino cumpriam mandato na Alego.

Outros grupos

Segundo a especialista, quando observada as características das mulheres que ocupam cadeiras na Alego, a representatividade de outros grupos é praticamente nula. “O que temos hoje são pessoas brancas, com ensino superior e que não fazem parte da comunidade LGBTQIA+. Não é uma crítica às parlamentares que estão lá, pois elas já fazem um papel importante. Porém, essa necessidade de mais mulheres, além de numérica, é de diversidade”, ressalta.

Carreira curta

Além de poucas eleitas, Nara Bueno destaca que a vida política das mulheres é mais curta. “É muito comum no país e no estado acompanharmos homens, a título de exemplo, em nono ou décimo mandato. Já a permanência das mulheres para mais de duas legislaturas é um desafio”, aponta.

Em cargos majoritários, avalia a advogada eleitoralista, a dificuldade é ainda maior. “Ali elas dependem muito de uma política do partido. Tem que ter o investimento que, principalmente em anos não eleitorais, está nas mãos de homens”, diz.

Nas eleições deste ano, em Goiás, são apenas quatro pré-candidatas neste quesito: Denise Carvalho (PCdoB) e Manu Jacob (PSOL) na corrida para o Senado, e Cíntia Dias (PSOL) e Helga Martins (PCB) para o Governo.

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