Lula empata com Bolsonaro entre evangélicos mais pobres, aponta Datafolha

Levantamento indica que a economia divide espaço com a identidade religiosa na formação do voto de parte dos fiéis

Folhapress Folhapress -
Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

As campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazem apostas diferentes para cativar o eleitorado evangélico. A do atual presidente elegeu a pauta moral, enquanto a do petista prefere virar a chave para o tema econômico, na expectativa de que a dificuldade de garantir o pão nosso de cada dia, em meio à crise econômica, leve esse fiel a rejeitar mais quatro anos de bolsonarismo no poder.

Números da mais recente pesquisa Datafolha mostram que as duas estratégias podem ganhar tração, a depender do grupo social. A arrancada de Bolsonaro nessa parcela religiosa se deve sobretudo aos fiéis de renda média e alta, enquanto, entre os mais pobres, Lula se mantém em empate técnico com o rival.

Novo recorte feito pelo Datafolha revela que o ex-presidente tem 41% das intenções de voto no primeiro turno entre os evangélicos que ganham até dois salários mínimos, contra 38% de Bolsonaro. Esse grupo representa 53% dos fiéis entrevistados.

Na outra fatia, os evangélicos que recebem mais de dois salários mínimos por mês, Bolsonaro dispara: tem 61% da predileção, e o petista, 22%.

A conta explica a prevalência do presidente nesse nicho como um todo: 49% dos evangélicos estão com ele, e 32% dizem optar por seu adversário à esquerda.

O levantamento indica que a economia divide espaço com a identidade religiosa na formação do voto de parte dos fiéis. Quanto menor a renda, mais sensível fica esse eleitor a fatores como a inflação.

A tendência de votar em Lula cresce. Não o bastante, contudo, para impedir que crença e temas morais roubem votos do petista entre os mais pobres, sugere o Datafolha.

O desempenho do ex-presidente entre os evangélicos de baixa renda é bem inferior ao apoio de 60% que ele tem entre eleitores pobres de outras religiões ou sem religião.

Já a dianteira de Bolsonaro entre crentes com renda superior a dois salários sinaliza que o componente religioso encontra terreno mais fértil na porção do eleitorado que pode ter sentido algum alívio no cenário econômico.

De acordo com a pesquisa, os brasileiros de renda mais polpuda perceberam um impacto maior de medidas como a redução do preço dos combustíveis e alguma recuperação no mercado de trabalho.

Esse conforto relativo pode explicar a redução do peso das preocupações econômicas na formação do voto, facilitando a infiltração de temas morais martelados pelos bolsonaristas -aborto, drogas, etc.

Entre evangélicos de renda média e alta, 54% consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom, e 20% tacham a gestão de ruim ou péssima. Na faixa de fiéis de baixa renda, a aprovação do presidente é de 35%, e a desaprovação, de 34%.

A margem de erro dos resultados por faixa de renda entre os evangélicos é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos. No levantamento geral, sem distinção por religião, é de dois pontos, também para mais e menos.

As diferenças na avaliação do governo se refletem nos índices de rejeição a Bolsonaro. No grupo de evangélicos de baixa renda, 44% dizem não votar no presidente “de jeito nenhum”. Na faixa acima, 24% dos fiéis o rejeitam.

A balança se inverte no caso de Lula: 40% dos evangélicos mais pobres não votam no petista, e essa oposição chega a 67% entre fiéis com renda superior a dois salários.

A disputa concentrada entre Lula e Bolsonaro faz com que o cenário se repita nas projeções de segundo turno. O petista é o favorito de 47% dos evangélicos mais pobres, mas tem o apoio de apenas 25% entre aqueles com renda maior. Já o atual presidente está em empate técnico com Lula no primeiro grupo, com 43%, mas abre vantagem na segunda faixa dos fiéis -aparece com 68%.

Para o cientista político Vinicius do Valle, diretor do Observatório Evangélico, essa pormenorização do comportamento eleitoral dos fiéis traz implicações para os próximos passos das campanhas.
“Se Bolsonaro conseguisse melhorar a economia, teria um índice de votação ainda maior no grupo. Do ponto de vista da estratégia lulista, introduzir a questão econômica dialoga com os evangélicos mais pobres.”

Dados do Iser (Instituto de Estudos da Religião), segundo um de seus pesquisadores, o sociólogo Clemir Fernandes, corroboram o Datafolha. “A chamada pauta moral-religiosa é importante para o eleitorado evangélico mais pobre, principalmente mulheres, mas não é determinante para decisão final do voto.”

“A inflação é um agravante, mas a pobreza aguda e continuada desse enorme contingente é fator racional de opção por Lula, tido como o mais capaz de enfrentar a luta contra a pobreza”, afirma ele.

Valle ressalta que o sufoco financeiro pode segurar a dianteira de Bolsonaro nas igrejas, mas evangélicos pobres ainda abraçam Lula menos do que o brasileiro médio de igual renda. “Isso permite caracterizar esse segmento como mais conservador em termos de voto. É um dos motores em sentido contrário ao conjunto da população.”

Evangélicos são um em cada quatro brasileiros, segundo a pesquisa Datafolha, realizada de 16 a 18 de agosto com 5.744 pessoas de 281 cidades e registrada no TSE com o número BR-09404/2022.

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