Ministra na França posa para Playboy e sofre ataques do governo e da oposição

Capa com a secretária de Estado da França, Marlène Schiappa, será lançada nesta quinta-feira (06)

Folhapress Folhapress -
(Foto: Reprodução/YouTube)

FERNANDA MENA
TOULOUSE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A secretária de Estado da França Marlène Schiappa, 40, vai estampar a capa da próxima edição da revista Playboy a ser lançada na próxima quinta-feira (6), dia marcado para mais uma jornada de mobilização contra a impopular reforma da Previdência do governo francês.

Com isso, mesmo antes de chegar às bancas, o ensaio abriu um novo e indiscreto capítulo na crise política que ronda o presidente Emmanuel Macron, após ele mesmo ter sido alvo de piadas por concedido uma entrevista à revista infantil em quadrinhos Pif Gadget no momento em que o país enfrenta uma ebulição nas ruas.

Completa o quadro a entrevista do Ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, linha de frente da reforma da Previdência, à revista “Tetû”, na qual ele assume sua homossexualidade.

As aparições extravagantes num momento de tensão política e social foram apontados pela oposição como cortina de fumaça. Mas coube ao ensaio de Schiappa para a revista erótica um lugar de destaque entre as críticas, que vieram do governo e da oposição, além de uma advertência da própria primeira-ministra, Elisabeth Borne.

Célebre por evocar a igualdade de gênero, Borne teria telefonado a Schiappa para afirmar que sua aparição na revista “não foi nem um pouco apropriada, especialmente no período atual” que o país atravessa.

Nos bastidores, especula-se que o caso fragilize de maneira irreparável a administração de Borne, que não teria sido informada das negociações de Schiappa com a Playboy, ou que possa levar à demissão da ministra.

Schiappa foi ao Twitter reafirmar sua posição. “Defender o direito da mulher de dispor de seu corpo em todo lugar, o tempo todo. Na França, as mulheres são livres, por mais que isso desagrade aos retrógrados e aos hipócritas”, escreveu.

Imagens da Playboy vazadas revelam um ensaio recatado, em que a secretária de Estado aparece com as cores da bandeira da França e de vestido longo branco. As fotos ilustram uma entrevista de 12 páginas em que ela fala sobre direitos das mulheres, aborto e literatura erótica.

Titular da pasta de Economia Social e Solidária e da Vida Associativa, Schiappa integra o governo Macron desde 2017, quando assumiu o então inédito ministério de Equidade de Gênero. Ela é autora de livros sobre feminismo e de títulos eróticos, em geral assinados sob pseudônimo, além de um livro com dicas sexuais para pessoas acima do peso, pelo qual foi acusada de reforçar estereótipos gordofóbicos.

A deputada do Partido Verde Sandrine Rousseau abriu fogo contra a ministra. “Os corpos das mulheres têm de poder ser expostos em todos os lugares, e eu não tenho nenhum problema com isso, mas existe um contexto social”, disse.

“Onde está o respeito pelo povo francês, pelas pessoas que terão que trabalhar dois anos a mais [por causa da reforma da Previdência], que estão se manifestando e perdendo dias de pagamento, que não podem comer por causa da inflação?”, indignou-se a deputada.

Jean-Luc Mélenchon, líder do partido ultraesquerdista França Insubmissa e terceiro lugar na última corrida presidencial, afirmou que “a França está saindo dos trilhos”. “Num país onde o presidente se expressa na Pif e sua ministra, na Playboy, o problema é a oposição”, ironizou.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin saiu em defesa da colega durante entrevista ao canal francês CNews em que classificou Schiappa como “uma mulher de caráter”.

O editor da Playboy, Jean-Christophe Florentin, também saiu em sua defesa, afirmando que a secretária de Estado tinha entendido que a revista erótica “não era para velhos machistas” e que podia, portanto, ser um instrumento da causa feminista.

O que poderia ser apenas um desconforto num contexto normal, ganhou proporções explosivas graças à série de protestos que já levaram milhares de franceses às ruas contra a reforma da Previdência. Aprovada graças a um dispositivo considerado pouco democrático, a reforma previdenciária eleva a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos, e aumenta os anos de contribuição para acesso à pensão integral de 42 para 43 anos.

A legislação, que ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Constitucional, também aumenta a idade mínima de aposentadoria para atividades mais penosas, como policiais e bombeiros, de 57 para 59 anos.

Segundo o governo, a reforma representa uma economia de – 18 bilhões (cerca de R$ 101 bilhões). O movimento é, porém, repudiado pelos franceses, que prezam a qualidade de seu sistema público de segurança social.

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