Mulher morre em UPA de Anápolis após esperar transplante de medula óssea por 42 dias

Durante parte do período, ela ficou internada na unidade sem ter diagnóstico de aplasia medular confirmado

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Paciente Maria Helena Dutra Rodrigues. (Foto: Arquivo Pessoal)

Atualizada às 15h 

A luta para a realização de um transplante de medula óssea resultou na morte da paciente Maria Helena Dutra Rodrigues, de 52 anos, após ela ficar por dois meses na lista de espera para a execução do procedimento. O óbito aconteceu no dia 1º de maio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vale da Esperança, em Anápolis.

Em entrevista ao Portal 6, a filha dela, Lainy Gabrielli, conta que a mãe havia sido internada na UPA no dia 18 de março deste ano, após ser diagnosticada com uma deficiência nas plaquetas.

No entanto, durante uma biopsia, feita no final de abril, foi descoberto que ela estava com aplasia medular e que necessitaria realizar, com urgência, um transplante de medula óssea no Hospital Estadual de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), em Goiânia.

Desde então, Lainy, juntamente com uma tia, iniciaram o processo no Ministério Público para tentar conseguir uma vaga na unidade de saúde.

“Todo dia eu ia no Ministério Público, junto com a minha tia. Cansamos de brigar por nossos direitos e mesmo assim continuamos e nada foi feito”, desabafa.

Após mais de um mês, depois de diversas transfusões de sangue e já na semana do falecimento da mãe, ela relembra que chegou a receber uma carta do médico responsável afirmando que, caso a mulher não saísse da UPA, a chance de óbito dela era de “100%”.

“O caso dela era gravíssimo! Ela ficou na UPA, que nem é hospital, durante quase 2 meses. Eles [Ministério Público] viram e disseram que não foi omissão. Se isso não é omissão, eu não sou eu, porque todo mundo sabia da gravidade, eles sabiam. E no final, infelizmente, minha mãe não aguentou a boa vontade deles”, argumenta.

O Portal 6 solicitou um posicionamento da Prefeitura de Anápolis e da UPA da Vila Esperança, para a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa  que o pedido de consulta em hematologia/transplante de medula óssea foi feito por Anápolis para a regulação estadual no dia 28 de abril e já estava em análise pela equipe. Entretanto, na segunda-feira (01º), o município informou o óbito e o cancelamento da ficha da paciente.

O que é aplasia medular?

Em entrevista ao Portal 6, a médica hematologista, Maria Amorelli, explica que a aplasia medular, também conhecida como Anemia Aplástica (AA), é uma doença rara capaz de causar a diminuição na quantidade das células sanguíneas presentes no corpo humano.

De acordo com a profissional, a doença pode não ter uma causa específica ou surgir em decorrência de infecções virais, inflamações ou até casos imunológicos.

Os sintomas característicos da aplasia são palidez, manchas roxas, taquicardia, cansaço, manchas vermelhas na perna, sangramento e alteração de imunidade.

Segundo Maria Amorelli, a doença pode apresentar uma variação indo de casos leves até graves – o que vai alterar a forma como o tratamento.

“Há casos leves, moderados e graves. A depender do quadro, a situação pode evoluir em questão de poucos meses, o que requer um tratamento mais severo”, explica.

Em casos leves e moderados, a pessoa identificada deve realizar, inicialmente, transfusões de sangue, além de utilizar medicamentos imunossupressores e antibióticos.

Já em situações mais graves, como a que aconteceu com Maria Helena Dutra Rodrigues, a recomendação é que o paciente realize um transplante de medula óssea a fim de reconstituir a função do tecido.

Leia nota da SES na íntegra:

A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás informa que o pedido de consulta em hematologia/transplante de medula óssea foi feito por Anápolis para a regulação estadual na 6ª feira (28/04) e já estava sob análise da equipe de regulação de transplantes. Na segunda-feira (02/05), Anápolis informou sobre o óbito e solicitou o cancelamento da ficha da paciente. 

A SES ressalta que a referência principal para transplante de medula óssea em Goiás é o Hospital de Câncer Araújo Jorge, regulado pela SMS de Goiânia — a quem a SMS de Anápolis também tem acesso direto para as solicitações de vaga. 

A SES lembra ainda que o HGG foi habilitado recentemente para esse tipo de transplante HGG e a grade de consultas a serem reguladas pela SES será  definida por tratativas em curso. 

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

PublicidadePublicidade