Seu Zé, personagem de Anápolis que nasceu de novo após acidente e agora luta para realizar sonho

"Foi uma sorte só eu ter escapado. Fiquei em coma por 48 dias, acordei no hospital sem nem entender direito o que tinha acontecido", relembra

Davi Galvão Davi Galvão -
José Carlos vai aos semáforos da região Central todos os dias para vender doces, na esperança de comprar uma nova cadeira de rodas. (Foto: Davi Galvão/Portal 6)

É antes do Sol nascer que José Carlos, de 58 anos, mais conhecido como Seu Zé, se levanta e caminha com bastante dificuldade até a cadeira de rodas que usa, para poder dar início ao dia.

Pega um ônibus saindo do Vivian Parque, bairro da região Sudoeste de Anápolis, e ruma em direção aos semáforos do Centro da cidade para poder começar a vender balinhas, doces e chocolates – de onde tira o principal sustento.

O objetivo é claro e está estampado em uma placa que carrega pendurada no pescoço: adquirir uma cadeira de rodas elétrica, que facilitaria a árdua rotina que leva.

Ao Portal 6, Seu Zé contou um pouco mais sobre a trajetória que teve e do acidente que lhe custou quase que a mobilidade total das pernas, além de diversas outras sequelas.

O ex-eletricista explicou que em 1993, quando ainda tinha 26 anos, estava realizando reparos em cabos de alta tensão quando recebeu uma alta descarga elétrica, na cidade de Flores de Goiás, na região Nordeste do estado.

“Foi uma sorte só eu ter escapado. Fiquei em coma por 48 dias, acordei no hospital sem nem entender direito o que tinha acontecido”, lembrou emocionado.

Apesar de ter conseguido sobreviver a um acidente tão grave, o episódio deixou sequelas irreversíveis. José conta que a corrente elétrica provocou um acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou com os músculos das pernas atrofiados, prejudicando enormemente a coordenação motora e parte da visão do olho esquerdo.

Apesar do trágico acontecimento, o anapolino ainda encontra um jeito de enxergar humor na situação.

“Eletricista e motoqueiro são muito parecidos, sabe? Quando tá começando a aprender, não acidenta, não cai, não acontece nada, mas aí quando fica bom no negócio, se machuca sério”, brincou.

Com o passar dos anos, a rotina de vender doces no semáforo foi ficando cada vez mais difícil. Se antes voltava para casa depois das 19h, hoje o corpo já cobra as fichas mais cedo, o que dificulta as vendas – tendo em vista o menor tempo nas ruas.

Em um dia bom, ele conta que consegue juntar, de lucro, cerca de R$ 50, valor que vem somando à aposentadoria, para comprar a nova cadeira, que custa cerca de R$ 10 mil.

“Não tenho quase nada ainda, mas não vou desistir, vai dar certo”, afirmou.

Para facilitar o comércio, Seu Zé carrega uma placa consigo, estampada com a chave pix do número de CPF (463.805.901-53), facilitando na hora de receber. E, assim, vai levando a vida – uma roda após a outra.

“Não estou aqui por caridade, quero que as pessoas realmente venham comprar meus produtos, entende?”, concluiu.

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