Cidade mais indígena do Brasil deu única vitória a Lula em estado pró-Bolsonaro

Dentre as 10 cidades com mais indígenas proporcionalmente no país, duas estão em Roraima

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Imagem mostra ex-presidente Lula à esquerda e presidente Jair Bolsonaro à direita. (Fotos: Ricardo Stuckert e Agência Brasil – Montagem: Portal 6)

JOSÉ MATHEUS SANTOS
RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Uiramutã, no nordeste de Roraima, é a cidade com maior número de indígenas proporcionalmente entre todas as cidades do Brasil. 96,11% dos habitantes são identificados com a etnia.

A 289 quilômetros de Boa Vista, a cidade fica praticamente toda dentro de uma reserva indígena.
Os dados do Censo 2022 foram divulgados nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo os dados gerais do Censo, divulgado em junho, Uiramutã tinha 13.751 habitantes em 2022. Levando em conta o percentual, a cidade tem mais de 13,2 mil pessoas indígenas. A cidade é a décima maior dentre os 15 municípios de Roraima.

O estado é a unidade federativa com proporcionalmente mais indígenas do país (15,29% da população se identificou dessa forma. Em números absolutos, são 97.320 indígenas, o que o coloca em quinto no ranking.

Dentre as 10 cidades com mais indígenas proporcionalmente no país, duas estão em Roraima: além da líder Uiramutã, Normandia ocupa a sexta posição, com 88%.

Nas eleições de 2022, Uiramutã foi a única cidade do estado onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vencedor, com 68% dos votos —Jair Bolsonaro (PL) ganhou em todos os outros municípios de Roraima. No estado, o então candidato a reeleição recebeu 76% dos votos.

A cidade fica localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Também fica no município o ponto mais ao norte do país, segundo o IBGE.

A Terra Indígena Raposa Serra do Sol engloba a maior parte da área de Uiramutã. Para adentrar nesses limites, é preciso autorização.

“O município teve uma mudança muito grande ao longo da década de 2000 com a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol a partir das determinações do Supremo Tribunal Federal. E esse foi o primeiro Censo a documentar em detalhes esse novo momento de ocupação territorial do município de Uiramutã”, explica Fernando Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE.

No território de Uiramutã, estão presentes ainda o Monte Caburaí, com quase 1.500 metros de altitude, e o Monte Roraima, um dos mais altos do país.

O município tem dificuldades de acesso, porque a estrada para Boa Vista é, em parte, de terra, pela RR-319. São seis horas de viagem até a capital do estado, que também tem um contingente expressivo de indígenas —mais de 20,4 mil, o nono maior do país em números absolutos.

Os dados mais detalhados sobre a população ainda serão divulgados, mas o IBGE aponta que a essa presença de indígenas em Boa Vista provavelmente foi impulsionada por migrações para estudo ou trabalho.

O estado de Roraima também tem em parte de seu território a Terra Indígena Yanomami, que tem enfrentado instabilidades em razão do garimpo.

“Tem algumas situações de migração da Venezuela para o Brasil, com grande parcela de imigrantes sendo indígenas, e uma parcela muito grande de indígenas, nos municípios, são residentes na terra indígena Yanomami, com crescimento demográfico e questões que lhes afetam do ponto de vista da saúde, entre outros”, diz Damasco.

Uiramutã tem o menor núcleo urbano de Roraima. As principais atividades econômicas são a criação de animais, sobretudo o gado, mineração e turismo, impulsionado por cachoeiras. Duas delas são abertas aos turistas, como a Cachoeira do Urucá e as Corredeiras do Paiuá. Já as Cachoeiras da Andorinha e Tamanduá e o Vale dos Cristais precisam de autorização para entrada porque estão em território indígena.

A 840 metros de altitude, a cidade tem diversas serras e vales às margens dos rios Maú, Cotingo, Canã e Ailã.

População indígena por unidade da federação em números absolutos

Amazonas – 490.854
Bahia – 229.103
Mato Grosso do Sul – 116.346
Pernambuco – 106.634
Roraima – 97.320
Pará – 80.974
Mato Grosso – 58.231
Maranhão – 57.214
Ceará – 56.353
São Paulo – 55.295
Minas Gerais – 36.699
Rio Grande do Sul – 36.096
Acre – 31.699
Paraná – 30.460
Paraíba – 30.140
Alagoas – 25.725
Santa Catarina – 21.541
Rondônia – 21.153
Tocantins – 20.023
Goiás – 19.522
Rio de Janeiro – 16.964
Espírito Santo – 14.411
Rio Grande do Norte – 11.725
Amapá – 11.334
Piauí – 7.198
Distrito Federal – 5.813
Sergipe – 4.708
Fonte: Censo população indígena 2022/IBG
Proporção de indígenas na população por unidade da federação
Em %
Roraima – 15,29
Amazonas – 12,45
Mato Grosso do Sul – 4,22
Acre – 3,82
Bahia – 1,62
Mato Grosso – 1,59
Amapá – 1,55
Rondônia – 1,34
Tocantins – 1,32
Pernambuco – 1,18
Pará – 1
Maranhão – 0,84
Alagoas – 0,82
Paraíba – 0,76
Ceará – 0,64
Espírito Santo – 0,38
Rio Grande do Norte – 0,36
Rio Grande do Sul – 0,33
Santa Catarina – 0,28
Goiás – 0,28
Paraná – 0,27
Piauí – 0,22
Sergipe – 0,21
Distrito Federal – 0,21
Minas Gerais – 0,18
São Paulo – 0,12
Rio de Janeiro – 0,11
Fonte: Censo população indígena 2022/IBGE

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