Avião de líder mercenário que desafiou Putin cai e mata todos a bordo

Ievguêni Prigojin seria o mais próximo ex-auxiliar do presidente russo a morrer em circunstâncias obscuras, se confirmada presença na aeronave

Folhapress Folhapress -
Ievguêni Prigojin, líder do grupo russo Wagner, estaria entre mortos em queda de avião. (Foto: Reprodução / YouTube)

IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O líder do grupo mercenário Wagner, que protagonizou há exatos dois meses um motim contra a cúpula militar da Rússia no maior desafio ao presidente Vladimir Putin em mais de 20 anos, estava na lista de passageiros de um jato executivo que caiu perto de Tver, na Rússia. Todas as pessoas a bordo morreram.

O acidente ocorreu na noite desta quarta (23) na rota que o jato de fabricação brasileira Embraer Legacy 600 fazia entre Moscou e São Petersburgo, um dia depois de Ievguêni Prigojin reaparecer em suas redes sociais com um vídeo que teria sido gravado durante operações do Wagner na África.

Segundo o Ministério das Situações de Emergência, a lista de passageiro tinha três tripulantes e sete passageiros, incluindo o líder.

Mas o primeiro relato do órgão sobre as buscas afirma que só foram encontrados oito corpos nos escombros.

O jato tinha matrícula RA-02785, e desde 2019 estava sob sanção dos Estados Unidos por ser considerado de propriedade de Prigojin, que era um aliado próximo de Putin.

Ele foi visto embarcando na aeronave diversas vezes, inclusive quando foi para Belarus após o motim fracassado de 24 de junho.

O episódio nunca foi explicado totalmente, com diversas contradições em seu curso. Se confirmada a morte do empresário em solo russo, contudo, será muito difícil para o Kremlin evitar as acusações de queima de arquivo.

Nesta mesma quarta, um dos principais generais russos, Serguei Surovikin, foi demitido da chefia das Forças Aeroespaciais após uma nebulosa investigação acerca de suas ligações com Prigojin e o motim, embora ninguém fale isso oficialmente na Rússia.

Na semana passada, um general acusado pelo opositor Alexei Navalni de ter gerenciado a construção de um palácio para Putin, que estava preso, morreu na cadeia.

E um coronel ligado ao alto escalão militar por suspeita de envenenamento, o que levou a especulações acerca de uma ação coordenada.

Ao longo dos anos, diversos adversários de Putin, principalmente políticos rivais como Boris Nemtsov (morto a tiros em 2015) e jornalistas como Anna Politkovskaia (executada em 2006) tiveram mortes violentas ou misteriosas.

Desde o início da Guerra da Ucrânia, ao menos 12 executivos de destaque no país tiveram tal destino.

Prigojin é o mais próximo ex-auxiliar do presidente russo a morrer em circunstâncias obscuras, se confirmada sua presença na aeronave.

Conhecido como “chef de Putin”, por ter fornecido serviços de alimentação no Kremlin e ao governo russo, em contratos anuais de US$ 1 bilhão.

Seu grupo mercenário, atuante desde 2014 a serviço do Kremlin em diversos países, recebia outro US$ 1 bilhão e foi instrumento importante na guerra até o rompimento de Prigojin com a cúpula militar russa, antes do motim.

Prigojin bateu de frente com o poderoso ministro da Defesa, Serguei Choigu, a quem acusava de sabotar os trabalhos de seus mercenários.

No auge de sua atuação na Ucrânia, talvez 50 mil soldados tenham estado sob controle do Wagner, boa parte deles condenados que trocaram a liberdade pelo combate.

Na brutal batalha de Bahkmut, a mais cruel da guerra até aqui, Prigojin disse ter perdido 16 mil homens, 10 mil deles ex-detentos – como ele, aliás, que iniciou sua carreira como um criminoso de rua na mesma São Petersburgo em que cresceu Putin.

O Wagner, que tem atuação forte também na Síria e em países africanos como o Níger ora vivendo um golpe militar, prevaleceu naquele embate em maio, após meses.

Mas Choigu buscou enquadrar os mercenários na sequência, obrigando-os a assinar contratos com seu ministério.

O motim de Prigojin, segundo o próprio, foi para salvar o controle de seu grupo, que ele dizia ter 25 mil homens armados na Rússia.

Mas tudo no episódio permaneceu obscuro, até porque Putin recebeu o ex-aliado e o comando do Wagner cinco dias após o motim, para ouvir suas razões.

Ao mesmo tempo, a TV estatal russa o ridicularizava, mostrando disfarces toscos, armas, ouro e dinheiro apreendidos em sua casa.

Putin oscilou no episódio, chamando os rebeldes de traidores da pátria inicialmente e, depois, os perdoando.

Ninguém foi preso ou punido oficialmente, ainda que cerca de 12 soldados russos tenham morrido em combate com as forças do mercenário, que abateram helicópteros e um avião na sua marcha fracassada a Moscou.

Mesmo o mercenário seguia uma incógnita. O Kremlin disse que o Wagner não mais receberia fundos públicos e não poderia trabalhar na Rússia, mas que poderia manter seus contratos em países africanos, por exemplo.

No vídeo divulgado na terça (22), ele aparentava estar em terreno africano, e falava do orgulho de levar a força da Rússia para o continente, embora não fosse possível verificar de quando era a gravação.

Outra interrogação é o papel do ditador belarrusso, Aleksandr Lukachenko, aliado do Kremlin que mediou o acordo que pôs fim à revolta no dia 24 de junho.

Ele recebeu membros do Wagner, naquilo que vizinhos da Otan [aliança militar ocidental] considera um prelúdio para ações de desestabilização na fronteira, dizendo que eles treinariam seu exército.

Nunca ficou clara a relação entre Lukachenko e Prigojin no caso, objeto também da apuração que levou à detenção do general Surovikin.

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