Furacão Idalia atinge a Flórida com ventos de 200 km/h e expectativa de ‘danos catastróficos’

Tornados, fortes chuvas e enchentes acompanham o fenômeno, da mesma categoria do Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005

Folhapress Folhapress -
Furacão Idalia atinge costa da Flórida, nos Estados Unidos, causando fortes tempestades. (Foto: Reprodução/YouTube)

FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Com ventos de 200 km/h, o furacão Idalia atingiu a Flórida às 8h45 desta quarta-feira (30), no horário de Brasília, na região de Keaton Beach.

A expectativa é a de que o fenômeno, de categoria 3, a mesma do Katrina em 2005, que devastou Nova Orleans, na Luisiana, gere grande destruição no estado americano.

A velocidade é pouco inferior à da marca utilizada para classificar um furacão de categoria 4, de cerca de 210 km/h.

Durante a madrugada, o Idalia chegou a esse patamar, mas enfraqueceu ligeiramente, retornando para a classe 3 na sequência. Tornados, fortes chuvas e enchentes acompanham o fenômeno.

Autoridades expressaram preocupação em especial com as “storm surges”, ou seja, o avanço das ondas sobre a costa, efeito agravado pela superlua, quando o satélite está mais próximo da Terra e na fase cheia.

Na mesma toada, o Centro Nacional de Furacões alertou para impactos “catastróficos”. Imagens mostram casas próximas da praia já quase completamente submersas em alguns pontos da Flórida.

O nível do rio Steinhatchee, próximo de Keaton Beach, subiu quase 3 metros em duas horas.

Por volta das 12h, ainda no horário de Brasília, o furacão perdeu mais força conforme se aproxima da Geórgia e foi reclassificado para a categoria 1, com ventos de 144 km/h. Os efeitos, no entanto, continuam a ser sentidos.

O governador Ron DeSantis declarou estado de emergência e emitiu uma ordem de retirada de moradores em 22 dos 67 condados.

Em entrevista na manhã desta quarta-feira, o republicano pediu à população para levar o furacão a sério e afirmou esperar um grande impacto na região.

Aeroportos, pontes e rodovias foram fechados, e aulas, suspensas. Uma parceria com a Uber liberou corridas de graça para moradores de regiões afetadas em direção a abrigos de emergência.

O governo da Flórida também afirma ter negociado com hotéis para que os estabelecimentos recebam hóspedes com pets.

Nos últimos dias, autoridades orientaram a população a estocar alimentos e a deixar equipamentos eletrônicos carregados.

Mais de 200 mil pessoas já estão sem energia, situação que deve perdurar por dias, devido ao impacto dos ventos sobre a rede de infraestrutura elétrica.

A brasileira Danielle Dowling, 37, conta que se preparou comprando água e alimentos que possam ser preparados na churrasqueira, caso fique sem energia.

Ela mora em Sanford, a cerca de 40 km de Orlando, com o marido e os dois filhos, um de 16 anos e outro de 9.

Segundo autoridades locais, os impacto na região deve ser sentido por volta das 15h (no horário de Brasília), com chuvas e ventos mais fortes.

“Estamos tranquilos. Viver nos Estados Unidos é isso, todo ano sabemos que temos que nos preparar. Mas as coisas podem sempre mudar de última hora, então estou acompanhando as notícias por todos os aplicativos”, diz ela, que está no país há seis anos e comanda uma empresa de limpeza de casas de luxo.

No ano passado, a previsão também era de que Sanford não sofreria grande impacto do furacão Ian, mas Danielle diz que acabou enfrentando uma enchente com água até os joelhos.

A conjunção de enchentes e tornados provocada pelo furacão complica a estratégia de moradores para se proteger: enquanto a orientação para evitar a água é ficar na parte mais alta das casas, a tática para fugir dos fortes ventos é ficar na mais baixa.

Apesar do apelo, imagens da rede de notícias CNN mostraram, por exemplo, dois homens no mar em cima de uma espécie de embarcação inflável.

Os ventos derrubaram um carvalho de cem anos no palácio do governador em Tallahassee, de acordo com uma postagem da primeira-dama, Casey Santis, no X, ex-Twitter.

O governo federal também está apoiando o estado na resposta à crise. Durante a tarde, o presidente Joe Biden fará um pronunciamento sobre o desastre e os incêndios devastadores no Havaí.

Cerca de 14 milhões de moradores estão sob alerta, desde a área de Sarasota, no centro-oeste do estado, passando por Tampa e chegando à Baía de Apalachicola, ao norte.

Na terça, o furacão foi da categoria 1 para a 2 e chegou à 3 rapidamente em razão das temperaturas do oceano acima do normal neste verão.

Além da Geórgia, Carolina do Sul e Carolina do Norte também devem sentir os efeitos do Idalia.

Ao passar por Cuba na véspera, com ventos de 110 km/h, a tempestade provocou a retirada de milhares de moradores do oeste da ilha. Os cubanos correram para esvaziar cidades costeiras e tentar salvar barcos de pesca.

O Idalia chega aos EUA pouco depois de a tempestade tropical Hilary provocar enchentes e deslizamentos na Califórnia e em Nevada.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica prevê uma temporada de furacões, que vai de junho a novembro, mais agitada que o normal neste ano.

A piora é atribuída às temperaturas recordes do Atlântico. Quanto mais quente a água e o ar, mais força um furacão ganha, explicam especialistas.

Neste ano, há risco de ocorrência de 6 a 11 furacões só na Costa Leste, de acordo com autoridades meteorológicas dos EUA.

No ano passado, a Flórida já tinha sido atingida pelo que ainda é considerado o furacão mais letal registrado no estado.

O Ian deixou 150 mortos, e DeSantis foi criticado por não ter disparado alertas de esvaziamento das casas a tempo.

Os desastres climáticos também têm um efeito econômico, ao aumentar os custos de seguradoras e, consequentemente, os valores das apólices residenciais.

De acordo com o Instituto de Informações sobre Seguros, seis empresas do segmento ficaram insolventes na Flórida no ano passado, e ao menos 12 deixaram o estado ou colocaram uma moratória na emissão de novas apólices.

O valor anual médio, por sua vez, chegou a US$ 4.200 (mais de R$ 20 mil), o triplo do nacional.

O Idalia é um teste crucial para DeSantis, que disputa a indicação republicana para a vaga do partido na corrida pela Presidência americana no ano que vem.

Em segundo lugar nas pesquisas, bem atrás de Donald Trump, ele ainda não conseguiu deslanchar. Uma boa resposta ao fenômeno em seu estado pode ajudá-lo.

Por outro lado, se sua gestão da crise for mal avaliada, pode ser a pá de cal na candidatura.

DeSantis, que estava em campanha em Iowa, cancelou eventos e retornou ao estado para coordenar a preparação para o furacão.

Apesar da sequência de desastres climáticos associados ao aquecimento global, o governador da Flórida assinou uma lei neste ano que impede autoridades estaduais e locais de usarem como critério o chamado ESG ao escolher prestadores de serviços e investimentos.

No ano passado, ele já havia aprovado uma legislação semelhante, impedindo a adoção dos parâmetros de boas práticas em fundos de pensão estaduais.

Para o governador, ESG é uma tentativa das “elites de Davos” – em referência à sede do Fórum Econômico Mundial –  de “impor sua ideologia”.

No debate entre pré-candidatos republicanos, DeSantis não respondeu se, para ele, a crise climática é resultado de ações humanas.

Quando os moderadores pediram que os participantes levantassem a mão se achassem que sim, o governador se negou a participar do jogo. “Não somos crianças de escola.”

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