China e EUA disputam primazia com aviões espaciais em missões secretas

Força Espacial americana realizará sétima missão conduzida pela frota de miniônibus espaciais não tripulados

Folhapress Folhapress -
Drone X-37B, da frota Espacial estadunidense. (Foto: Divulgação/ Boeing)

SALVADOR NOGUEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o próximo lançamento do veículo X-37B, os Estados Unidos avançam mais um passo na escalada pela militarização do espaço.

Esta será a sétima missão conduzida pela frota de miniônibus espaciais não tripulados desenvolvidos pela Boeing e hoje pertencente à Força Espacial americana.

O lançamento ocorre depois que a China levou ao espaço seu próprio miniônibus espacial, em sua terceira missão, no dia 14.

Do veículo chinês, nada se sabe. Do americano, só se conhece o lado de fora. Em ambos os casos, os militares fazem enorme segredo das atividades que serão realizadas no espaço.

A simultaneidade parece ser mera coincidência. Os americanos planejavam lançar seu veículo no dia 7 de dezembro, mas houve adiamentos sucessivos que empurraram a partida para a próxima quinta (28) e, caso não seja possível nesse dia, haverá uma nova tentativa na sexta (29).

Poderia o X-37B ser usado para espionar o veículo chinês, até agora jamais visto pelo público mesmo em fotografias?

É improvável, embora nada se possa descartar considerando os aspectos secretos dessas missões. Há de se levar em conta que eles parecem destinados a órbitas radicalmente diferentes.

Enquanto o veículo chinês foi levado ao espaço por um foguete de médio porte Longa Marcha 2F, numa órbita baixa de 333 por 348 km de altitude (dado não divulgado pela China, mas identificado e divulgado pela Força Espacial dos EUA), o X-37B americano será lançado por um foguete bem mais potente, o Falcon Heavy, da SpaceX.

Por sinal, há cinco anos, quando a Força Espacial iniciou a busca pelo veículo lançador capaz de colocar o X-37B em sua missão, ela indicou a necessidade de levar cerca de 6.350 kg a uma órbita de transferência geoestacionária.

Trata-se de um traçado bastante alongado que, em seu perigeu, transita a poucas centenas de km do chão, mas no apogeu passa a 35 mil km do planeta, onde costumam orbitar muitos dos satélites de telecomunicações.

Com os lançadores usados nas missões anteriores (os foguetes Atlas 5 e Falcon 9), esse perfil de missão sequer era possível. Será portanto a primeira vez que uma órbita desse tipo é usada para uma missão do X-37B.

A escolha parece consistente com o esforço constante de testar e forçar os limites do veículo (o que no jargão aeronáutico é referido como “empurrar o envelope”).

Com efeito, a cada nova missão do X-37B, seu tempo de estadia no espaço aumentou. Se o primeiro voo, em 2010, durou 224 dias, o sexto, iniciado em 2020, se estendeu por 908 dias -quase três anos- antes do retorno à Terra.

Essa, por sinal, é uma das características únicas desses miniônibus espaciais: a exemplo de seus irmãos maiores desenvolvidos pela Nasa e lançados entre 1981 e 2011, ele sobem propelidos por foguetes e descem como planadores, usando asas para se guiar a uma pista de pouso.

Como são menores e não tripulados, são ainda mais versáteis que os antigos veículos da Nasa e capazes de missões muito mais longas -perfil ideal para aplicações militares.

Pois bem. O que esses veículos vão fazer no espaço? Do ponto de vista militar, eles podem servir essencialmente a quatro propósitos: incremento de força, apoio espacial, controle espacial e aplicação de força.

Como incremento de força, o veículo poderia oferecer inteligência e reconhecimento de terreno (função de satélite-espião), comunicações e meteorologia.

No apoio espacial, o X-37B poderia ser usado para levar satélites ao espaço ou mesmo recuperar satélites danificados -um perfil de missão que já existia para os ônibus espaciais da Nasa, até o acidente com o Challenger, em 1986.

Como elemento de controle espacial, ele poderia ter papéis ofensivo (prejudicando o funcionamento de satélites inimigos e mesmo os destruindo) e defensivo (monitorando o ambiente espacial e detectando ataques a satélites, evitando-os).

Finalmente, como aplicação de força, ele poderia ser usado para atacar alvos terrestres. De acordo com especialistas, o veículo poderia ser equipado com armas de precisão como mísseis hipersônicos guiados por laser ou GPS, que poderiam ser usadas para atacar alvos no meio do território inimigo.

Até o momento, a Força Espacial diz não ter levado armas ao espaço com seu programa de testes, o que descarta esse último uso –ao menos por enquanto.

Mantendo a máxima discrição quanto a essa sétima missão, o Pentágono diz que ela cobrirá “uma vasta gama de testes e objetivos experimentais”.

“Esses testes incluem operar o avião espacial reutilizável em novos regimes orbitais, experimentar futuras tecnologias de reconhecimento do domínio espacial e investigar os efeitos de radiação sobre materiais fornecidos pela Nasa”, disse em nota a Força Espacial.

Traduzindo do “miliquês” para o português: voar mais alto e mais longe, espionar satélites em órbita e realizar experimentos científicos.

Mais que isso, não saberemos. Da missão chinesa então, menos ainda.

A única coisa certa é que as duas maiores potências espaciais do século 21 estão ampliando o escopo de suas ações militares no espaço, o que, como tantas coisas por esses tempos, soa tão inevitável quando indesejável para o futuro da humanidade.

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