Goianos que vivem sonho de cursar medicina na Argentina desabafam: “estão dificultando o acesso”

Choppadas, bares de samba e coxinhas já podem ser encontrados perto de instituições de ensino em Buenos Aires

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Quantidade de brasileiros aumentou em cinco vezes em apenas sete anos (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Pelos corredores de uma instituição de ensino superior, é possível encontrar pessoas comendo coxinhas, fazendo perguntas sobre onde será a próxima aula e que horas irão ao barzinho de samba. No entanto, a universidade não se trata de uma brasileira, mas sim a Universidade Federal de Buenos Aires (UBA), onde brasileiros, incluindo goianos, já alteraram a cultura local.

Segundo levantamento feito pelo governo local, a quantidade de brasileiros que cursam Medicina aumentou em cinco vezes entre 2015 e 2022. Atualmente, são mais de 20 mil que compõem uma sinfonia de sotaques.

Entre eles, alguns poucos ‘puxam o r’, como é o caso de Renan Leigue, de 26 anos. Aluno da UBA desde fevereiro de 2023, o goiano escolheu cursar Medicina em terras estrangeiras por ser mais em conta em comparação com os anos de cursinho e mensalidades em particulares no Brasil.

(Foto: Reprodução/Redes sociais)

“Eu também queria viver uma experiência de vida legal, agregando ao meu desenvolvimento pessoal”, explicou ao Portal 6. Recém-chegado, antes dele, tiveram tantos que ele já pode aproveitar um pouco da experiência universitária brasileira sem estar no Brasil.

Isso porque, segundo o goiano, estudantes já formaram uma atlética e organizam até as famosas ‘choppadas’. No entanto, a prática se resume ao curso de Medicina “porque é uma parte da cultura brasileira e os brasileiros não vêm para cá para fazer Direito, por exemplo. Fazem Medicina”, disse.

Nas festas, bares e boates com noites temáticas ao som de artistas brasileiros, quase não se encontra argentinos. Em muitos casos, já é possível ter acesso à cardápios traduzidos não só para o inglês, mas também para o português.

Tal fluxo migratório, no entanto, também resulta em uma certa resistência. Considerando que, até o ano passado, era exigido o nível B2 em espanhol para continuar no curso, agora a universidade pede o C1. “Agora estão dificultando o acesso. Tem documentação que você só tira aqui, mas quando você vem pela primeira vez, tem dificuldades na imigração porque exigem o documento que você ainda vai tirar”, relatou Renan.

O idioma chegou a ser uma discussão central para um grupo de estudantes da Fundação Barceló, instituição particular de ensino em que alunos brasileiros organizaram um abaixo-assinado em prol da oferta de aulas em português. O pedido foi negado.

Para Luiza Miranda, estudante da UBA, de 30 anos, o idioma não foi um impedimento, visto que a goiana completou o ensino básico na Espanha.

Porém, a estudante aponta para outro grande problema: a economia. Se antes a Argentina fosse vista como um país economicamente atraente aos brasileiros, agora é preciso pensar duas vezes antes de se mudar.

“A instabilidade econômica faz você olhar o peso todo dia e, como a demanda internacional é muito alta, a demanda por aluguéis é altíssima”, afirmou à reportagem.

Ela aponta que, como resultado, os contratos são curtos, de aproximadamente seis meses, sendo que há correção de valor a cada três meses, podendo aumentar em até 25%. “Quando cheguei, em julho de 2022, o apartamento era 70 mil pesos (R$ 412 na cotação desta terça-feira (19). Agora é 250 mil (R$ 1.474)”.

“Não tem segurança alguma. Você tem que ir para casa de amigos, ficar quase um mês na espera. Agora estão cobrando quase tudo em dólar”, afirmou Luiza.

Apesar das dificuldades, a goiana optou pela UBA devido ao ensino de qualidade e ao Tratado de Bologna, decisão internacional em que graduados na Argentina possam exercer a profissão na Europa. Já Renan pensa em retornar ao Brasil, uma vez formado.

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