Uso de Ozempic pode reduzir vontade de consumir nicotina e bebidas alcoólicas? Especialista responde

Discussão ganhou força após usuários da medicação relatarem diminuição ou perda de interesse nas compulsões

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Mulher recebendo solução injetável para tratamento de diabetes. (Foto: Reprodução / @stefamerpik / Freepik)

Indicado para o tratamento de diabetes tipo 2 e para obesidade, o medicamento Ozempic se popularizou no mundo pela eficaz e rápida provocação na perda de peso. Mas indo além dos quilos eliminados na balança, usuários da famosa substância também vem apontando um efeito colateral intrigante: o combate a vícios. 

Se antes, por exemplo, os pacientes tinham compulsão por fumar cigarros, consumir bebidas alcoólicas e até roer as unhas ou a pele, após a ingestão do remédio, há relatos de que teriam diminuído o interesse pela dependência. 

Ao Portal 6, a psiquiatra e especialista em transtornos alimentares, Mayara Macedo, ressalta que, embora casos desse tipo tenham ganhado força, estudos comprovando a ligação entre os dois fatores ainda são embrionários. 

“Existem vários relatos, já saiu várias reportagens do Ozempic ajudando na redução do consumo alcoólico e de nicotina. Foi feito um estudo com ratos, então é algo que precisa ser muito melhor estudado para extrapolar para humanos, que percebeu que o Ozempic atua no sistema de recompensa, que é onde é gerado o vício da nicotina e da bebida alcoólica”, explica.

A pesquisa sobre o efeito foi publicada no dia 07 de junho na revista científica sobre medicina The Lancet – considerada uma das mais prestigiadas do mundo. 

Realizado por pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, estudo avaliou a capacidade da Semaglutida – princípio ativo do Ozempic – em diminuir a ingestão de álcool e também bloquear o consumo de álcool tipo recaída. 

Na pesquisa, foram aplicadas diferentes doses de substâncias em ratos, de ambos os sexos. Como resultado, os roedores que receberam a substância reduziram a ingestão de álcool pela metade em comparação aos que não receberam.

O mesmo efeito também foi notado na ingestão de álcool pós-recaída, que foi menor do que o consumo de hábito. É válido destacar que a quantidade de álcool ingerida após um período de abstinência costuma ser maior do que o consumo habitual – o que gera uma dificuldade para se livrar do vício.

Apesar dos resultados na pesquisa, Mayara reforça ser cedo para atribuir uma relação entre o remédio e o abandono ou diminuição dos vícios, uma vez que nenhum estudo do mesmo tipo foi realizado em humanos. 

“Não têm estudos em humanos ainda, não é algo que a gente possa utilizar e recomendar. Então, por enquanto, não tem essa recomendação do uso do Ozempic e não tem essa comprovação científica de que realmente traga benefícios nessa área”, reforça.

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