Melhores condições e incentivo: pesquisadora premiada da UFG avalia como aumentar a presença feminina na ciência

Portal 6 conversou com Telma Woerle, da área de Inteligência Artificial, para entender quais são os desafios, expectativas e o cenário atual da participação das mulheres nas pesquisas científicas

Natália Sezil Natália Sezil -
Melhores condições e incentivo: pesquisadora premiada da UFG avalia como aumentar a presença feminina na ciência
Telma Woerle é docente da graduação de Inteligência Artificial na Universidade Federal de Goiás. (Foto: Acervo pessoal)

Dia Internacional da Menina e Mulher na Ciência – foi essa a nomeação feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao dia 11 de fevereiro. Desde 2015, a data é uma comemoração à importância da participação e representatividade feminina na ciência e na tecnologia.

Embora momento de celebração e símbolo do avanço realizado na área, o dia também fica marcado como um lembrete de que a equidade de gênero neste campo ainda precisa ser alcançada: dados da ONU apontam que apenas 35% das cientistas do mundo são mulheres.

O número ainda é baixo, e há muito caminho a ser trilhado nesse sentido, mas essa porcentagem não só indica o que ainda falta ser feito – ela também prova que há muitos projetos de destaque sendo desenvolvidos por mulheres em todo o mundo.

Em Goiás, esse cenário não é diferente. Nomes femininos têm alcançado o topo das premiações ao colaborar no desenvolvimento de medicamentos, no avanço da Inteligência Artificial e em pesquisas inovadoras em todas as áreas do conhecimento.

Telma Woerle, docente e pesquisadora do Instituto de Informática (INF) da Universidade Federal de Goiás (UFG), é um desses nomes.

Atuando na área há mais de dez anos, Telma conquistou primeiro lugar na categoria de Inovação para o setor público na edição 2024 do Prêmio Goiano de Ciência, Tecnologia e Inovação promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), cuja cerimônia foi realizada na última quinta-feira (06).

Ao Portal 6, ela compartilhou quais foram as motivações para seguir na carreira científica e explicou como enxerga o cenário atual para as jovens mulheres que estão se inserindo nesse mercado.

À reportagem, Telma revelou que teve contato com a Iniciação Científica ainda na graduação, o que a motivou a buscar a melhor qualificação. “Tinha um sonho de poder contribuir realmente com novas soluções, que eu acho que é o principal papel da ciência: buscar soluções para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos”.

Falando sobre o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), projeto de destaque do INF, Telma considera que o centro proporcionou a ela e aos colegas pesquisadores o primeiro contato com a ciência enquanto solução de uso comercial, levando-os a perceber que aquilo poderia ser transformado em algo para a vida real mesmo em um curto prazo.

E as mulheres ocupam esse espaço universitário?

A pesquisadora avalia que os primeiros anos do ensino têm grande participação feminina nas áreas das ciências exatas, mas que o resultado muda quando se avalia o cenário universitário.

“Quando a gente olha para a educação básica, Fundamental e Médio, eu vejo uma crescente participação das mulheres, das meninas. Às vezes estão ali nas Olimpíadas de Ciências, Matemática, Robótica, Programação… tem uma grande participação feminina. Inclusive, em alguns casos chega a ser meio a meio”, conta.

“E depois, por algum motivo, essas meninas acabam optando por outras carreiras que não sejam na área de exatas”. Nesse sentido, são diversos os fatores que podem levar a isso, e Telma detalha: “desde o desejo por fazer a diferença em outras áreas até construção familiar, de qual deveria ser a carreira, a estrutura”.

Quanto ao incentivo, a pesquisadora defende que ele precisa vir de diversos lugares. Enquanto o Estado de Goiás realiza editais de fomento à pesquisa exclusivos para mulheres, também é importante que o cenário familiar se afaste da ideia de que algumas tarefas domésticas são específicas às garotas e incentive os gostos pelas áreas tecnológicas.

E o futuro?

Telma também compartilhou as expectativas sobre os próximos passos das mulheres na ciência: “eu espero realmente que a gente continue evoluindo como sociedade, que as condições continuem sendo igualitárias”.

“Que cada vez mais mulheres busquem ocupar esses espaços, que elas entendam que podem e conseguem, independente da idade. E não precisa ser nas áreas exatas, é na ciência como um todo”, afirma.

Ela continua: “a gente sabe que o caminho, às vezes, pode não ser fácil, mas que se a gente não batalhar hoje, como outras batalharam lá atrás pelos direitos que temos hoje, o mundo para os nossos filhos ou para as nossas filhas não vai ser melhor”.

“Ele pode até regredir e é uma luta de cada um”, concluiu.

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