Trump diz que vai impor tarifa de 50% sobre a União Europeia a partir de junho
Mercados de ações haviam se recuperado da queda de abril, ajudados por movimentos como o recuo de Trump


MATHEUS DOS SANTOS
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (23) que está recomendando uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia a partir de 1º de junho, afirmando que a negociação comercial coma UE tem sido difícil.
A medida escalona a guerra comercial com o bloco apenas duas semanas depois de os EUA concordarem com a China em reduzir tarifas em um pacto que confortou investidores globais.
Caso se confirme, a tarifa de 50% seria mais do que o dobro da taxa que o presidente dos EUA anunciou para a UE em seu autoproclamado Dia da Libertação em 2 de abril.
“A União Europeia, que foi formada com o propósito principal de tirar vantagem dos Estados Unidos no comércio, tem sido muito difícil de lidar”, disse Trump no Truth Social. “Nossas discussões com eles não estão levando a lugar nenhum!”
O presidente dos EUA também atacou o bloco por “barreiras comerciais, impostos, penalidades corporativas ridículas, barreiras comerciais, manipulações monetárias, processos injustos e injustificados contra empresas americanas”.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse que a ameaça de Trump ao bloco ‘não ajuda ninguém’, e que Berlim continuaria a apoiar a UE nas negociações com Washington.
“A Comissão Europeia tem nosso total apoio para manter o acesso ao mercado americano, e acredito que tais tarifas não ajudam ninguém. Elas apenas fariam com que o desenvolvimento econômico em ambos os mercados sofresse”, disse Wadephul.
O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, deve conversar com o comissário de comércio da UE, Maro Šefčovič, ainda nesta sexta. Ao Financial Times a Comissão Europeia disse que não comentaria as declarações de Trump antes da conversa.
Os mercados de ações haviam se recuperado da queda de abril, ajudados por movimentos como o recuo de Trump, mas foram abalados pela mais recente ofensiva comercial do presidente.
Após a publicação, os índices de Wall Street abriram em queda nesta sexta, com o índice Dow Jones caindo 0,94%, S&P 500 recuando 1,18%, e o Nasdaq Composite em baixa de 1,53%.
O movimento do presidente “coloca em dúvida a visão de que os mercados conterão Trump”, disse Andrew Pease, estrategista-chefe de investimentos da Russell Investments.
Os EUA impuseram uma taxa recíproca de 20% sobre a maioria dos produtos da UE em abril, mas a reduziram pela metade até 8 de julho para permitir tempo para negociações. Mantiveram níveis de 25% sobre aço, alumínio e peças de automóveis e estão prometendo ação semelhante em produtos farmacêuticos, semicondutores e outros bens.
O bloco deve agora escolher entre retaliar ou ceder às exigências dos EUA para fazer concessões.
Os estados-membros aprovaram um pacote de 21 bilhões de euros (R$ 136 bilhões) de tarifas de até 50% sobre itens como milho, trigo, motocicletas e roupas -medidas que atualmente não devem entrar em vigor até 14 de julho, mas poderiam ser rapidamente implementadas.
A Comissão Europeia ainda está consultando sobre uma lista maior de 95 bilhões de euros (R$ 614 bilhões) de possíveis medidas, que inclui aeronaves Boeing, carros e uísque bourbon.
Autoridades americanas têm ficado frustradas com a falha da União Europeia em oferecer concessões que outros países fizeram, com Howard Lutnick, secretário de comércio dos EUA, dizendo na quinta-feira (22) que Bruxelas era “impossível” de negociar.
Washington quer que Bruxelas reduza as barreiras à importação para diminuir o tamanho do déficit comercial dos EUA em bens com o bloco, que totalizou US$ 192 bilhões (R$ 1 trilhão) em 2024.
A administração Trump considera o atual patamar tarifário de alimentos e produtos da UE protecionistas e quer que o bloco elimine unilateralmente as tarifas. A UE propôs que ambos os lados eliminem tarifas sobre todos os produtos industriais e alguns agrícolas.
Bruxelas também se ofereceu para ajudar a combater a sobrecapacidade chinesa em setores como aço e automóveis, e para discutir restrições à exportação de tecnologia para Pequim.
Mas recusou-se a discutir a eliminação de impostos digitais nacionais ou IVA (Imposto sobre Valor Agregado), principais demandas dos EUA, ou o enfraquecimento da regulamentação da UE sobre empresas de tecnologia americanas.
Também nesta sexta, o presidente republicano ameaçou a Apple com uma tarifa de 25% sobre iPhones, a menos que a empresa produza o smartphone nos EUA. É um novo capítulo do impasse com o CEO da Apple, Tim Cook.
Cook disse este mês que as fábricas indianas forneceriam a “maioria” dos iPhones vendidos nos EUA nos próximos meses, enquanto a Apple tenta evitar as tarifas sobre produtos fabricados na China impostas por Trump como parte de sua guerra comercial.
“Há muito tempo informei a Tim Cook, da Apple, que espero que seus iPhones que serão vendidos nos Estados Unidos da América sejam fabricados e construídos nos Estados Unidos, não na Índia ou em qualquer outro lugar”, escreveu o presidente dos EUA em uma postagem no Truth Social.
As publicações de Trump nesta sexta contrastam com os movimentos de sua administração para reduzir as tensões comerciais. Os EUA fecharam recentemente um acordo comercial com o Reino Unido e uma trégua com a China.
Mas as negociações com outros países desde então avançaram lentamente, e autoridades de Trump sinalizaram recentemente que adotariam uma abordagem mais dura, alertando que países que não estivessem negociando de “boa fé” enfrentariam novamente tarifas máximas.