Indústrias farmoquímicas do Daia serão afetadas se Brasil retaliar EUA?

Ao Portal 6, presidente executivo do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás explica possíveis consequências

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
farmacêutica
Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). (Foto: Divulgação/Codego)

Concentrando 20 indústrias do setor de medicamentos em atividade, o Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) se consagra, hoje, como o segundo maior polo farmoquímico do Brasil, onde estão empregadas mais de 6 mil pessoas, conforme dados da Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro (Ascoferj).

O setor, no entanto, teme as consequências de uma possível retaliação, após o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A taxa entra em vigor em 1º de agosto.

Ao Portal 6, o presidente executivo do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás, Marçal Henrique Soares, afirma que, caso o governo brasileiro decida, de fato, dar um “contra-golpe”, os impactos no setor da saúde atingiriam principalmente os consumidores brasileiros, e não afetariam, em sua maioria, os Estados Unidos.

Ele explica que, atualmente, até 15% das importações brasileiras no setor farmoquímico — substâncias químicas utilizadas na produção de medicamentos e outros produtos farmacêuticos — são oriundas dos EUA e enviadas, por exemplo, as indústrias químicas, como é o caso do Daia.

Por isso, caso o país decida aplicar uma tarifa, os produtos importados — como medicamentos contra o câncer, doenças raras, autoimunes e crônicas e terapias avançadas, como os de terapia gênica — sofreriam um aumento no preço, que seria repassado as indústrias farmacêuticas e, posteriormente, aos consumidores, podendo até inviabilizar a compra de alguns itens.

“Se houver uma retaliação de 50% de volta, os nossos custos para alguns medicamentos que usam matéria-prima americana ficariam inviáveis de serem produzidos por aqui”, explica.

Marçal salienta que as empresas dos EUA têm forte presença no setor farmacêutico brasileiro, com subsidiárias ou escritórios regionais em todo o território nacional, além de estruturas comerciais e, em alguns casos, unidades de produção ou distribuição.

Além disso, as farmacêuticas americanas são líderes mundiais em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos inovadores e figuram entre as principais fornecedoras de medicamentos de referência — sendo muitos deles, inclusive, adquiridos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“No caso de uma retaliação, só o Brasil, os pacientes e a população em geral vão sentir. Você imagina um medicamento pronto — e a gente importa muitos medicamentos de alta complexidade, para doenças raras… Importamos muitos medicamentos para câncer, por exemplo — então imagine esse medicamento 50% mais caro, se houver uma retaliação”, destaca.

Apesar do temor diante das incertezas sobre o futuro, Marçal se mantém positivo e afirma que uma provável retaliação, pelo menos na área da saúde, não deve ocorrer.

“Não acredito que vá acontecer [retaliação] na área da saúde, porque eles [o Governo] sabem que é algo que os brasileiros não conseguiriam bancar financeiramente. Além disso, há a questão da judicialização — e aí o município ou o estado é obrigado a pagar por determinado medicamento. Então, se houver uma retaliação nesse sentido, o setor público também sofre”, finaliza.

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