DOUGLAS GAVRAS
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em um pleito marcado pela ausência de eleitores e boicote da oposição, os apoiadores de Nicolás Maduro conquistaram neste domingo (25) 23 dos 24 governos estaduais na Venezuela e projetam uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, de acordo com o primeiro boletim oficial.
O governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) venceu em todos os estados, exceto Cojedes, e a coalizão de Maduro obteve 82,68% dos votos nas listas nacionais do Parlamento, de acordo com o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), controlado pelo chavismo.
O regime recuperou o governo de três estados-chave: Zulia (na fronteira com a Colômbia), Nueva Esparta (que inclui a ilha de Margarita) e Barinas (terra natal de Hugo Chávez). O único vitorioso da oposição foi Alberto Galíndez, reeleito pelo estado de Cojedes (no centro do país). Ele criou um outro partido após ser expulso do tradicional PJ (Primero Justicia).
Os dados foram divulgados no início da madrugada, a partir da apuração de cerca de 90% das mesas eleitorais. Ainda é preciso aguardar o escrutínio dos resultados de cada distrito eleitoral.
Os venezuelanos voltaram às urnas na primeira votação desde a contestada eleição presidencial que levou a um terceiro mandato de Nicolás Maduro, em julho passado, com várias evidências de fraude.
Ao contrário do que apontam os institutos de pesquisa -que falam em recorde de abstenção- e da líder oposicionista María Corina Machado -que divulgou um vídeo após o fim das votações dizendo que 85% dos eleitores não votaram-, o CNE divulgou que o comparecimento foi de 42,6%.
Apesar da baixa participação, a instituição eleitoral decidiu, no último minuto, prorrogar o período de votação, que estava previsto para terminar às 18h locais (19h em Brasília), alegando que havia uma grande quantidade de pessoas nas filas.
“Hoje demonstramos a força do chavismo e que este povo conseguiu resistir”, disse Maduro.
Segundo os dados divulgados pelo CNE, 4.553.484 votos foram dados à coalizão de nove partidos que sustenta o regime chavista Grande Polo Patriótico Simón Bolívar.
Para a oposição, foram 344.422 votos (6,25%) para a Aliança Democrática e 285.501 (5,18%) para a Aliança Única da UNTC, liderada por Henrique Capriles. A formação Fuerza Vecinal obteve 2,57%, com 141.566 votos. Outros partidos menores e votos nulos totalizaram 182.351 votos, o equivalente a 3,31% do total.
Nesta segunda-feira (26), Capriles publicou em seu perfil no X que o resultado era previsível e que a abstenção venceu em um processo eleitoral marcado por “desconfiança, decepção, raiva e medo”. “O regime comemora hoje”.
“Eu os representarei com força e determinação. Maduro e sua liderança podem querer parecer vitoriosos, mas não são. O que aconteceu ontem não muda a crise econômica, social e política. O país não acordou melhor hoje. O país continua sua busca para restaurar sua democracia e o pleno exercício dos direitos de seu povo”, escreveu.
Além de Capriles, a oposição no Parlamento venezuelano deve contar com Stalin González, Bernabé Gutiérrez e Timoteo Zambrano, que decidiram participar da disputa, argumentando que era necessário defender espaços.
As eleições incluíram pela primeira vez a região de Essequibo, uma área em disputa há mais de um século com a Guiana, onde foi eleito um governador chavista que, na prática, não terá autoridade direta sobre o território, uma vez que está sob o controle do país vizinho.
O eleito foi o militar Neil Villamizar, um oficial de carreira na Marinha, que prometeu trazer a “venezuelanidade” para o território. Como o território está sob disputa, as eleições se deram em centros eleitorais no estado vizinho de Bolívar.