ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER E FÁBIO PESCARINI
O recente conflito entre Israel e Irã mexeu com o público da Marcha para Jesus. A bandeira branca e azul com uma estrela de Davi no centro aparece em tudo o que é canto do evento, que toma as ruas do centro e da zona norte de São Paulo nesta quinta (19). Vendida por R$ 35 por ambulantes, a flâmula rivaliza em popularidade com faixas para a cabeça onde Jesus está impresso em glitter.
O símbolo já era praxe em edições passadas, mas sua presença agora é ostensiva.
O apóstolo Estevam Hernandes, que trouxe a Marcha para o Brasil em 1993, diz que “esta liga do povo evangélico com Israel é exatamente por tudo aquilo que nós temos na Bíblia”. Estamos falando da “terra santa” habitada pelo “povo que nos deu Jesus Cristo”, o que “gera um laço espiritual muito, muito forte, pró-Israel”.
Hernandes se diz contra guerras de modo geral, mas acha justificável os ataques do governo Benjamin Netanyahu contra o Irã, pela suspeita de que essa teocracia muçulmana estaria prestes a fabricar bombas nucleares.
Conta que esteve em Israel no ano passado e teve acesso a “imagens muito difíceis até de ver” dos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023. Como “Estado soberano”, Israel tinha direito de se defender.
“Agora, em relação ao avanço dessa guerra, creio que já deveria ter tido uma solução diplomática, porque nós vemos que o Hamas acaba usando o próprio povo palestino como escudo, mas o povo em si não tem nada a ver com isso”, afirma.
O empresário Fábio Caruso, 37, discorda. Diz que, por ele, Irã e Palestina seriam varridos do mapa. Recém-convertido, fiel de uma Assembleia de Deus, ele está em sua primeira Marcha. Apareceu enrolado num pano que mescla as bandeiras de Israel e Brasil.
“Deus é bom o tempo todo, é o que dizem, mas vai defender Israel. Oro pelos inocentes que morrerão [nas terras atacadas por forças israelenses], mas a culpa é do Hamas e dos aiatolás.”
Judeus são aliados e, no tempo certo, também eles se converterão ao Messias cristão, afirma Caruso.
O estudante Gustavo Barbosa, 17, da Igreja Cristã Amor e Família, vê um papel profético no conflito. Reproduz tese popular em algumas correntes evangélicas, a de que Jesus retornará pela segunda vez, e a turbulência no Oriente Médio é evidência disso. Há também a interpretação apocalíptica de que o fim dos tempos virá atrelado a um ataque final a Israel.
“Guerra é triste, mas acredito que seja um sinal para vinda de Cristo, totalmente”, diz o jovem, com a flâmula israelense amarrada na cintura.
Para a administradora Ana Paula Souza, 29, “infelizmente está escrito que no final dos tempos teriam guerras”. Os bombardeios na região, afirma, são “a palavra de Deus se cumprindo”.