A pauta do clima tem que ser também uma preocupação dos estados e municípios

Márcio Corrêa Márcio Corrêa -
Sistema Piancó em Anápolis. (Foto: Reprodução)

A Cúpula do Clima, que começou nesta segunda-feira (1º) em Glasgow, na Escócia, mobiliza mais uma vez as atenções do mundo para o problema do aquecimento global e suas consequências, bem como as diversas formas de degradação do meio ambiente. Mas desta vez, os líderes mundiais elevaram o tom ao alertarem para o risco de um desastre climático, cenário cada dia mais palpável diante dos fenômenos atípicos que vivemos recentemente. “Estamos cavando nossa própria cova”, sintetizou o secretário-geral da ONU, António Guterres. Não é exagero.

Junto das discussões macro sobre clima e meio ambiente, como é o caso da COP 26, é imprescindível que consigamos trazer para o universo micro, ou seja, para nossa comunidade, os conceitos e ações que podem melhorar a sustentabilidade e, consequentemente, a qualidade de vida nas nossas cidades. Com a vantagem que a ação local geralmente consegue resultados mais rápidos para problemas pontuais, mas que geram grandes transtornos. No caso de Anápolis, o problema de abastecimento de água é a primeira coisa que vem à nossa mente quando falamos de sustentabilidade. É consenso na cidade que precisamos rever nossa relação com a água, adotando soluções para que o serviço ecossistêmico de percolação e fornecimento de água pelas nascentes continuem.

Como já abordei neste espaço recentemente, Anápolis cresceu numa região conhecida como berço das águas, devido ao grande número de nascentes, mas a ação humana enfraqueceu o lençol freático com a impermeabilização do solo e hoje estamos vendo nossos principais rios perderem dia após dia a capacidade de abastecimento. Os ciclos naturais das chuvas também sofreram mudanças ao longo dos últimos anos e vivemos períodos de estiagem cada vez mais intensos. É uma realidade que não deve mudar rapidamente e para a qual vamos precisar de novas soluções visando atender as pessoas e as indústrias que movem a economia de Anápolis.

Na semana passada, participei de audiência pública para discutir a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Ribeirão Caldas, promovida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente com produtores locais. Na ocasião, defendi a necessidade de estruturarmos a cadeia produtiva da água na nossa cidade. É um conjunto de medidas que vai além das ações de caráter paliativo, que é o que foi adotado em Anápolis nas últimas décadas.

A gestão efetiva dos recursos hídricos passa por estudar, monitorar e compreender melhor o ciclo natural da água em nossa região – que tem sofrido mudanças nos últimos anos, assim como em quase todo o mundo -, avaliando a extensão das interferências humana e naturais no processo, com objetivo de desenvolver projetos mais eficientes para reduzir impactos danosos nos nossos ciclos e ter um aproveitamento mais eficiente da água. Precisamos, por exemplo, de soluções que permitam uma melhor infiltração da água no nosso solo até o lençol freático, ao mesmo tempo em que ampliamos as alternativas de captação para levar água até as torneiras.

As metas de redução das emissões de gases e da devastação da biodiversidade, que estão sendo tratados pela Cúpula do Clima, vão apontar ao mundo o caminho que devemos seguir para evitar um desastre climático. Mas saber trazer estes conceitos para nossa realidade e agir localmente é fundamental para termos impactos positivos mais rápidos e já nos prepararmos para adentrar na economia de baixo carbono e de modelos mais sustentáveis de produção de riquezas. O momento é de transformar o desafio em oportunidade, além de assumirmos nossa responsabilidade para com as futuras gerações. Fico com as palavras do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, na abertura da conferência do clima. “Se fracassarmos, as gerações futuras não nos perdoarão. Elas nos julgarão com amargura – e terão razão”.

Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em AnápolisEscreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.

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