Órgão religioso prega castidade para homossexuais em Anápolis e oferece “tratamento” para que eles voltem “aos planos de Deus”

Comissão de Direitos Humanos da subseção da OAB classificou este tipo de atuação como ilegal, imoral e criminosa

Pedro Hara Pedro Hara -
Congregação atua em diversos estados do Brasil. (Foto: Almeida Rocha/Folhapress)

O Apostolado Courage Brasil, que tem atuação no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Franca (SP) e Ourinhos (SP), também está em Anápolis e vem causado polêmica com a proposta de de castidade para os homossexuais do município.

A congregação sugere o “tratamento” para que eles voltem “aos planos de Deus”. De acordo com a entidade, a homossexualidade é fruto de “feridas e traumas” e que a recuperação pode ser feita por meio do “apoio espiritual” proposto.

Autodenominado católico, o Courage Brasil atua de maneira independente. O princípio de atuação é norteado por cinco metas e 12 passos, entre eles estão viver uma vida casta, dedicar a vida a Cristo, amizades castas, dentre outros.

Em Anápolis, as reuniões são realizadas de maneiras sigilosas e só os membros da congregação têm acesso aos encontros.

Esta atuação controversa do órgão religioso provocou a reação da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Anápolis.

Em nota, o colegiado repudiou de maneira veemente e tratou as atividades do Apostolado Courage Brasil como ilegal, imoral e criminosa. “Qualquer tentativa que vise diminuir a causa LGBTQIA+, menosprezar sua luta ou ainda constranger indivíduos à uma prática contrária à sua vontade, é ilegal, imoral e criminosa”.

O caso foi tornado público após reportagem do Mais Goiás. O Portal 6 tentou contato com o Apostolado Courage Brasil por meio dos canais de comunicação disponibilizados pela congregação, mas não obteve resposta.

Leia a nota na íntegra da Comissão de Direitos Humanos da OAB:

A Comissão de Direitos Humanos da OAB, Subseção de Anápolis, repudia veementemente os esforços da comunidade autodenominada Apostolado Courage Brasil, ou popularmente conhecida como EnCourage.

As práticas adotadas pelo Apostolado consistem em tratar a diversidade sexual como desvio de caráter, trauma ou “ferida” emocional, o que sugere que o Apostolado vê e trata a diversidade sexual como doença. Tanto o é verdade, que a proposta é semelhante à aplicada no programa de Alcoólicos Anônimos, que, evidentemente trata o alcoolismo como doença. Assim, a tomada dos mesmos 12 passos terapêuticos associando-os ao suposto crescimento espiritual, sugere que – para além da visão da homossexualidade ser uma doença – também é símbolo de falta de religiosidade, ou “falta de Deus”. A proposta do Apostolado é de apresentar uma vida de celibato aos candidatos, obrigando-os a não se relacionarem com pessoas do mesmo sexo como meio de alcançar a vida cristã como se deve.

Pois bem, além da homossexualidade já ter sido desconsiderada uma doença pela OMS em 1990 (tardiamente mas foi), a organização Apostolado Courage Brasil oferece um tratamento de reorientação sexual disfarçado, pois ao propor o celibato, uma vida de abstinência, chega a afirmar que – com o tempo – o indivíduo além de controlar o desejo, também conviverá normalmente em sociedade, conforme lhe for apresentado o estilo de vida cristã para relacionamento entre homens e mulheres.

Assim, qualquer tentativa que vise diminuir a causa LGBTQIA+, menosprezar sua luta ou ainda constranger indivíduos à uma prática contrária à sua vontade, é ilegal, imoral e criminosa, e assim, jamais terá o apoio ou a aceitação por parte desta instituição – OAB – que luta constantemente pela justiça, pela diversidade e pelo respeito à todos, incondicionalmente à etnia, credo ou orientação sexual.

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