União Brasil tenta atrair Ciro Gomes para unificar nomes da terceira via
Da mesma forma, Luciano Bivar disse aos parlamentares que pretendia chamar o ex-ministro Sergio Moro para negociar com as outras siglas que tentam buscar convergência na disputa ao Planalto
(FOLHAPRESS) – Dirigentes da União Brasil defendem chamar o pré-candidato Ciro Gomes (PDT-CE) para a rodada de conversas entre partidos que discutem lançar nomes da chamada terceira via para disputar a Presidência.
União, MDB e PSDB têm mantido conversas sobre uma candidatura única.
O presidente da legenda (resultado da fusão de PSL e DEM), Luciano Bivar, disse a deputados na quarta-feira (16) que o presidenciável poderia se sentar à mesa das discussões.
Da mesma forma, disse aos parlamentares que pretendia chamar o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) para negociar com as outras siglas que tentam buscar convergência na disputa ao Planalto.
Integrantes da União Brasil não descartam conversar unilateralmente com Ciro.
Em reuniões nesta semana, Bivar afirmou que a União Brasil terá candidato próprio e defendeu a importância de se buscar um nome competitivo para fazer frente à polarização eleitoral entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
A ideia é que Bivar se lance como pré-candidato após 2 de abril, a partir de quando acaba a janela partidária –período em que os deputados podem migrar de uma sigla para outra sem perder o mandato.
Pelas tratativas com MDB (que tem Simone Tebet como pré-candidata) e PSDB (que aprovou em prévias João Doria para a disputa ao Planalto), em meados do ano haveria a análise de qual é o nome mais competitivo para definir quem será o candidato.
Caso Bivar não se consolide, como é a tendência, o deputado buscaria a vaga de vice.
O núcleo duro da campanha de Bolsonaro ainda tenta fechar uma aliança com a União Brasil, mas a possibilidade é tratada como pequena entre os líderes da legenda.
Durante os encontros com correligionários nesta semana, Bivar chegou a dizer que não votará em Bolsonaro sob nenhuma hipótese.
Segundo integrantes do partido, a ideia de buscar Ciro para as conversas foi tratada em encontro da executiva da União Brasil nesta semana.
O tema foi levantado por ACM Neto, que busca o apoio do PDT na Bahia. O secretário disse que não fazia sentido conversar com só uma ala das siglas que querem uma alternativa a Lula e Bolsonaro.
ACM Neto argumentou que a União Brasil é um partido grande, que agrega tempo de TV e que tem um fundo eleitoral robusto, de acordo com relatos. Por isso, alegou, não há porque eles só conversarem com MDB e PSDB. Dirigentes da União Brasil dizem que nada impede, inclusive, que o partido decida apoiar Ciro.
Em 2018, o DEM, que se juntou ao PSL para fundar a União Brasil, discutiu o apoio ao pré-candidato do PDT, mas acabou dando respaldo à candidatura de Geraldo Alckmin (ex-PSDB, sem partido hoje).
Outros integrantes da União Brasil também defendem a participação do candidato do PDT na mesa de negociações.
“Qualquer discussão que trate de terceira via tem que incluir a todos, inclusive o Ciro, para depois afunilar em torno de um nome”, diz o líder da União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
“Se tiver quatro candidaturas [mais à frente], estaremos ajudando a consolidar um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Aí é melhor cada partido ter o seu e fazer sua escolha entre um dos dois”, avalia.
Dirigentes já buscaram aliados de Ciro para aproximação. O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que são permanentes conversas com Bivar, ACM Neto e Antonio Rueda, vice-presidente do partido.
“Temos alianças em vários estados. Eles ainda estão indefinidos [sobre o apoio à terceira via], estão discutindo internamente”, diz o pedetista.
Segundo Lupi, a aliança pode se dar em palanques como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina e na Bahia. Ele diz que Ciro deixa as negociações a cargo do partido.
Apesar de não terem conversado sobre a possibilidade de o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) migrar para o PSD com o intuito de concorrer à Presidência, dirigentes da sigla também não rechaçam incluí-lo nas negociações.
O problema, dizem, é que Gilberto Kassab, presidente do PSD, nunca os procurou para tratar do assunto.
Já Moro, embora tenha o apoio de boa parte da União Brasil, sobretudo de deputados oriundos do PSL, tem forte rejeição por outra ala da sigla, que considera pequena a chance de apoiá-lo.
De todo modo, o acerto na União Brasil é que os candidatos a governador ficarão livres para apoiar quem quiserem ou para ficar neutros independentemente do presidenciável que o partido apoiar.
ACM Neto, por exemplo, pretende ficar neutro na disputa nacional. Já o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), em Goiás, que disputará a reeleição, pode decidir apoiar Bolsonaro.
A prioridade de parte da cúpula do partido é eleger governadores e uma bancada grande no Congresso, em detrimento da disputa presidencial.
A União Brasil fez uma série de reuniões nesta semana para definir palanques regionais. Até esta quinta (17), os cenários de pelo menos 15 estados já estavam resolvidos.
Na última pesquisa do Datafolha, divulgada em dezembro, Moro aparecia com 9% das intenções de voto, enquanto Ciro tinha 7% e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), havia alcançado 4%. O cenário é liderado pelo ex-presidente Lula, isolado com 48%, enquanto Bolsonaro tinha a preferência de 22%.
Na União, o nome de Ciro tem mais apoio em uma negociação do que o de Moro, que enfrenta reservas de uma ala do partido. Além disso, Moro perdeu força nas barganhas após uma crise que colocou em risco o palanque regional mais consistente do ex-ministro de Bolsonaro.
O vazamento de áudios sexistas forçou o deputado estadual Arthur do Val a abrir mão da pré-candidatura ao Governo de São Paulo. Para não ficar completamente desidratado no estado, Moro passou a defender a candidatura da presidente do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP).
Na terça-feira (15), Moro também reconheceu discussões para unificar a chamada terceira via. “Há uma conversa no sentido de ter uma candidatura única entre vários partidos. Não sabemos se isso vai evoluir, mas há uma expectativa de que sim”, disse.
Já o MDB, que também participa das conversas, defende que o nome seja o da senadora Simone Tebet (MS) –que aparece com 1% na pesquisa Datafolha de dezembro.