Primeira jornalista indígena da TV brasileira fala sobre lutas enfrentadas pelas tribos, Funai e desafios da profissão

Em entrevista ao Portal 6, Luciene Kaxinawá também aponta negligência de órgãos públicos em serviços prestados a povos nativos

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
(Foto: Divulgação/ CNN)

Vogue Brasil, CNN BR, TV Globo e TV Record. Esses são alguns dos principais veículos em que a jornalista Luciene Kaxinawá passou.

Natural de Rondônia (RO), ela também foi a primeira indígena a trabalhar como repórter numa emissora de televisão no Brasil, com destaque no registro dos rituais do povo Juma, em Cantama (AM), em 2019.

Com mais de 08 anos de profissão, Luciene também chegou a ser apresentadora  e supervisora de imagem em uma afiliada da Rede Globo em Rondônia.

Em entrevista ao Portal 6, a profissional revela que, apesar de se reconhecer como indígena, o processo para se aceitar não foi tão simples.

“Esse reconhecimento aconteceu quando eu tinha cerca de 10 anos. Um primo meu chegou com o rosto pintado e eu fiquei assustada e sai correndo com medo, por ver um índio pintado. Nesse momento, a minha mãe sentou comigo, me acalmou e explicou toda a nossa história “, recorda.

A partir de então, Luciene passou a buscar ainda mais informações sobre essa origem indígena, bem como qual tribo e etnia pertencia.

“Foi aí que eu comecei a querer entender porque eu não falo como eles, eu não me visto como eles e nem me pareço como eles”, explica.

A escolha pela profissão veio pela vontade e necessidade de demonstrar as dificuldades enfrentadas pelas comunidades da região.

“Eu percebi que podia usar essa profissão para dar espaço e voz à essas comunidades. Eu quero, de alguma maneira, dar essa visibilidade para esses povos”, afirma.

A comunicação foi a arma encontrada por Luciene para diminuir as injustiças e negligência vivenciadas pelas diferentes tribos indígenas.

“Eu comecei a ter contato com outras tribos em Rondônia e ali começou o meu contato com algumas lideranças e os trabalhos na área”, explica.

As situações vivenciadas de perto pela jornalista a deixaram espantada pelo abandono encontrado em diversos.

“Já é muito complicado ver pessoas próximas sofrendo. Agora, ver tribos inteiras, é algo mais triste ainda. Eu acompanhei de perto o que estava acontecendo no Parque das Tribos, em Manaus, onde vivem 35 etnias e todas elas foram afetadas por conta da Covid-19”, relata.

“Eu fui ver de perto e eles estavam passando necessidade de alimentação, medicamento e máscaras. Não tinham um atendimento adequado, porque eles iam para os postos de saúde e falavam para eles irem para a secretaria indígena e, por morarem em áreas urbanas, não os atendiam”, desabafa.

Mais negligências

Criada para proteger e dar assistência às comunidades indígenas do país, a Fundação Nacional do Índio (Funai) também deixou a desejar nesse período de colapso da saúde.

“A Funai há bastante tempo está defasada e não consegue prestar o atendimento adequado. Desde ontem, tem comunidades indígenas no interior do estado, em Guajará-Mirim, protestante para a saída do governador de lá que, segundo eles, não dá o apoio e nem respostas para as questões necessárias”, destaca.

“Em alguns outros casos,  não tem nem combustível nos carros. Têm indígenas que trabalham na Funai que tem que tirar do próprio bolso para se locomover”, denuncia.

Apesar dos desafios enfrentados, ela afirma que pretende continuar ativamente nas lutas por meio dos veículos de comunicação.

“A gente precisa estar mais informado sobre o que está acontecendo dentro do território e ter as nossas fontes dentro dessas comunidades para que possamos passar adiante e usar o nosso poder para solução desse problema”, ressalta.

“Nós da comunicação temos uma arma poderosa nas mãos .O que não me faz desistir é essa necessidade de mostrar as coisas que estão acontecendo na minha região”, confessa.

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