Quase 300 crianças foram vítimas de abuso sexual em Goiás nos primeiros meses de 2022

Dados são menores que de 2021, mas especialistas apontam que subnotificação pode ter aumentado na pandemia

Emilly Viana Emilly Viana -
Especialistas apontam que perfil dos abusadores contribui para queda no número de denúncias. (Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil)

Em pauta na última semana devido ao caso da menina de 11 anos impedida de fazer um aborto legal em Santa Catarina após estupro, o índice de abusos sexuais contra crianças teve queda em Goiás neste ano. Porém, especialistas apontam que as estatísticas não condizem com a realidade.

Em 2022, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) registrou 294 casos de estupro contra crianças menores de 11 anos. Os dados são do primeiro trimestre, quando foi realizada a última auditoria das estatísticas da pasta.

Os registros recuaram 3,9% em relação a 2021, quando a quantidade de registros foi de 306 casos. A comparação é com o mesmo período do ano passado.

Já as ocorrências de estupro, em que as vítimas possuem idade de 12 a 17 anos, tiveram queda de 8,1% neste ano. No total, foram 305 casos nos primeiros três meses, contra 332 casos no mesmo período de 2021.

Ao Portal 6, a conselheira tutelar, Roselei Galhardo, destaca que a queda deve ser encarada como uma redução das denúncias e não dos crimes em si.

“A pandemia pode ter influenciado para que os casos não cheguem a ser registrados. O aumento da vulnerabilidade deste período certamente não corrobora com uma redução nas agressões”, avaliou.

Segundo a especialista, o perfil dos criminosos também dificulta o registro das notificações. “Observando o que surge para nós no conselho, pelo menos 85% das denúncias são pessoas da família ou de confiança, que convivem diariamente com aquela criança. Por estar nesse círculo, o abuso é relativizado ou até ignorado”, relatou.

A conselheira diz, ainda, que já atuou em casos como o da menina de Santa Catarina. Nessas situações, ela alerta que o tempo é fator determinante para garantir que o direito da criança ou adolescente seja resguardado.

“Contudo, além da dificuldade na denúncia, há a morosidade da lei”, ressaltou.

Modus operandi

A advogada Roberta Muniz, presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB Goiás, explica que, por estar em desenvolvimento, a criança acaba sendo manipulada e coagida pelo agressor.

“Ele inicialmente usa da persuasão como sendo um amigo e, posterior à prática da violência sexual, exerce influência na criança através do medo”, afirmou.

De acordo com ela, a dificuldade das denúncias estão relacionadas ao fato da família não acreditar na vítima ou até mesmo não observar os sinais que a criança apresenta ao sofrer violência sexual.

“Por isso é tão importante o esclarecimento e campanhas de informações a toda sociedade sobre os canais de denúncia que sempre funcionam quando acionados, como por exemplo o Disque 100”, reforçou.

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