Anápolis perde 75% da vegetação natural e pode enfrentar graves problemas no futuro

Derrubada de árvores incomoda moradores e alerta para a necessidade de plano de arborização

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Árvores podadas na Rua 14 de Julho, no Centro de Anápolis. (Foto: Claudiomir Gonçalves)

Ao longo dos anos, a população anapolina começou a perceber uma enorme mudança no cenário da cidade. Onde tinha verde, agora não tem mais. A vegetação é visivelmente menor na área urbana e traz consequências.

Segundo o ambientalista e ex-diretor de Meio Ambiente de Anápolis, Antônio Zayek, levando em consideração apenas os últimos 50 anos, Anápolis já perdeu mais de 75% da vegetação natural que antes possuía, incluindo pastagens, lavouras, loteamentos, estradas e o próprio município em si.

Essencial para a vida na terra, a arborização, ou como no caso, a falta dela, não afeta apenas a aparência da cidade, como também a própria população.

“A árvore possui uma função de serviço ecossistêmico. Ou seja, ela está ligada ao ciclo da água, a erosão. Está ligada à sustentabilidade ambiental da cidade”, explicou.

Morador e apaixonado pela cidade, Claudiomir Gonçalves compartilha no perfil do Instagram “Anápolis na Rede” as frequentes mudanças que sofre o município.

Ao Portal 6, o anapolino relatou que observa um corte contínuo de árvores, principalmente nos últimos 10 anos. O pior, diz, é que não há reposição.

“A cidade fica cinza, sem vida. Em época de sol, fica quente e dói os olhos de tanta luz. Época de chuva, há mais enxurrada para causas enchentes”, lamentou.

Indignado com o desmatamento, Claudiomir registra em fotografias cada toco do que antes era uma vida verde e fica na esperança de algo seja feito.

Em busca de respostas, o anapolino chegou a procurar a Prefeitura. Ele ouviu que toda árvore cortada é reposta. Todavia, Claudiomir questiona essa afirmação.

“A Secretaria de Meio Ambiente deveria avaliar com seriedade o corte de árvores e replantar outra imediatamente quando ocorre o corte. Deveria também começar um programa de plantio de árvores por toda a cidade, com árvores frutíferas ou do bioma cerrado”, pontuou.

Problemas para o futuro

Bióloga, arquiteta urbanista e mestre em paisagem, território e políticas públicas, Richara Moreira sabe muito bem o que a poda desenfreada das árvores pode acarretar e por isso, aponta o que pode acabar ocorrendo em um futuro não tão distante.

“Existem espécies de árvores que exigem décadas para poder se tornarem maduras. Com isso, se agora nós somos a geração que deveria estar desfrutando dessa arborização, dos espaços vegetados e não estamos desfrutando por conta dessa poda inadequada, então acredito que no futuro teremos uma cidade extremamente seca”, explicou.

“Isso é ruim até mesmo para a qualidade de vida, até para o conforto térmico ambiental da cidade. Então, as próximas gerações com certeza já estão comprometidas com esse ponto negativo”, complementou.

Richara relatou que a poda inadequada de árvores já se tornou um problema grave em Anápolis. A cidade perdeu o sombreamento no passeio público e sofre com a manutenção, o manejo e a irrigação correta nos parques.

“O verde gera vários benefícios para a cidade, para o meio ambienta e para a qualidade de vida urbana. Com o verde, você possui uma respiração melhor, espaços públicos de qualidade”, comentou a especialista.

Antônio Zayek destaca que há tempo para resgatar o verde. “A cidade precisa de um plano de arborização, precisa parar de podar errado e de reflorestamento permanente. O projeto Pró Água fala isso, existe a lei Pró Água, mas temos uma falta dessa execução”.

Antônio ainda relatou que Anápolis precisa de um ajuste da paisagem ambiental já ocupada, que permita a revitalização da natureza. O ambientalista reforçou que a cidade tem ferramentas para garantir a arborização.

“A Prefeitura possui dois viveiros de produção de mudas que trabalham juntos ao projeto Pró Água, que hoje se tornou um programa por lei. Se bem executados, eles podem tornar Anápolis em uma das cidades com a melhor qualidade de vida”, afirmou.

“Isso porque a árvore vai garantir para a gente água, consegue diminuir a necessidade de ar-condicionado em até 30%, porque uma cidade bem arborizada chega a diminuir 8°C na sombra. Fora que, quando estamos rearborizando a cidade com a vegetação nativa, estamos reabilitando ambientalmente a malha urbana e rural”, finalizou.

A reportagem questionou a Prefeitura de Anápolis sobre os índices de arborização, mas ainda não obteve resposta.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

PublicidadePublicidade