Bolsa recua com incertezas sobre gastos no governo Lula

Preocupação era apontada por analistas como uma das principais causas da acentuada queda nos preços das ações negociadas nesta segunda-feira (7)

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Lula
Presidente eleito Lula (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto a ameaça de greve geral convocada por bolsonaristas deixava de ser uma preocupação devido à baixa adesão aos protestos, o mercado financeiro se voltava para as incertezas sobre como a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encontrará espaço no Orçamento para cumprir promessas de campanha que aumentam os gastos públicos.

Essa preocupação era apontada por analistas como uma das principais causas da acentuada queda nos preços das ações negociadas na Bolsa de Valores nesta segunda-feira (7), depois de uma semana de ganhos impulsionados por investidores estrangeiros que se mostraram otimistas com o país após a vitória de Lula.

Às 12h11, o índice Ibovespa recuava 1,42%, aos 116.469 pontos. O principal destaque negativo era a queda de 2,01% das ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas da Bolsa. A estatal enfrenta a desconfiança de investidores quanto à condução da empresa pela futura gestão petista.

O dólar comercial à vista avançava 0,83%, cotado a R$ 5,0910, na venda.

“O enfraquecimento dos protestos no início da semana deu espaço para a percepção de que a transição de poder será relativamente estável, trazendo certo alívio de curto prazo para os mercados. Por outro lado, a discussão sobre uma mudança constitucional para permitir maiores gastos no ano que vem acende a luz amarela”, comentou Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.

“O equilíbrio das contas públicas é o calcanhar de Aquiles da nossa economia. Gastos sem planejamento de como serão pagos tendem a pressionar a inflação e os juros, criando um ciclo vicioso”, afirmou o analista. “Parece que a tal da incerteza não larga do nosso pé nunca.”

Na última sexta-feira (4), no encerramento da primeira semana do mercado financeiro brasileiro após o desfecho do 2º turno das eleições, houve ganhos consistentes na Bolsa de Valores e um tombo do dólar frente ao real.

Analistas relatam que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que conta com boa avaliação fora do país, e o início do processo de transição afastaram incertezas sobre a solidez da democracia no país. Isso resultou em aumento do fluxo de investimentos de estrangeiros no mercado local.
Os ventos se tornaram ainda mais favoráveis para a atração dos dólares de investidores internacionais nesta sexta-feira (4), quando ganhou força o rumor de que a China poderá relaxar medidas de combate à Covid. Essa expectativa beneficiou não apenas o Brasil, mas também outros países emergentes que são exportadores de matérias-primas.

O dólar comercial à vista fechou o dia em queda de 1,42%, cotado R$ 5,0510 na venda. No resultado desta semana, a moeda americana tombou 4,73% frente ao real. É o maior recuo semanal desde o final de junho.

No mercado de ações, o Ibovespa subiu 1,08%, aos 118.155 pontos, sendo que, ao longo do dia, o índice referência da Bolsa de Valores chegou a tocar a máxima de 120.039 pontos. No acumulado desta semana, a Bolsa escalou 3,16%.

Ações ligadas à exportação de minério de ferro, aço e outras mercadorias que têm a China como principal destino dispararam nesta sexta. A Vale saltou 7,59%. As siderúrgicas Usiminas e CSN avançavam 7,65% e 6,34%, respectivamente.

Principal parceiro comercial do Brasil, a China deverá diminuir as restrições aos voos internacionais, que ainda enfrentam um rígido controle devido à política de combate à Covid, disseram fontes próximas a autoridades chinesas, segundo a agência de notícias Bloomberg.

Atualmente, companhias aéreas que transportam passageiros contaminados ficam suspensas de rotas no interior do país por cerca de duas semanas. A intenção de Pequim é acabar com essa punição.

Gargalos provocados pela tentativa de zerar casos de Covid-19 na China estão entre as principais causas do desabastecimento que vem provocando uma alta mundial nos preços ao consumidor.

O avanço da Bolsa do Brasil só não foi maior devido ao tombo de 5,51% das ações da Petrobras nesta sexta, após analistas do Goldman Sachs cortarem a recomendação dos papéis da petrolífera de “compra” para “neutro”, argumentando um aumento da incerteza em torno das políticas a serem adotadas nos próximos anos.

A Petrobras havia reportado na véspera lucro líquido de R$ 46,09 bilhões entre julho e setembro, alta de 48% ante o mesmo período do ano passado, com a disparada dos preços do petróleo.

Para piorar o humor dos investidores quanto às ações da companhia, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a suspensão do pagamento de dividendos pela Petrobras, informou a agência Reuters.

Em situação oposta à da petroleira controlada pelo governo, o mercado de ativos ligados à produção e exportação de petróleo obteve forte valorização também devido à possibilidade de maior abertura na China, país que mais consome a matéria-prima.

Entre as empresas com maior ganho do Ibovespa, a petroleira privada 3R Petroleum registrou elevação de 7,16% das suas ações.

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