Conheça Takako Takahashi, um bonsai que se plantou no cerrado Goiano

Dona Tereza, como é chamada a imigrante japonesa em Anápolis, construiu uma história de determinação, carinho e fé

Samuel Leão Samuel Leão -
Takako Takahashi, conhecida em Anápolis como Dona Tereza. (Foto: Samuel Leão/Portal 6)

Takako Takahashi, mais conhecida em Anápolis como dona Tereza, uma doce senhora com quase um metro e meio, como um bonsai em delicadeza, mas com a resistência e resiliência das árvores cascudas do Cerrado. Vinda do Japão para o Brasil em 1962, ela conta que decidiu conhecer o imenso país tropical ainda criança.

Em entrevista ao Portal 6, ela relatou que aos oito anos de idade leu um jornal sobre a emigração para o Brasil. Fez então um compromisso consigo mesma de vir morar aqui, e assim como tantos outros, nunca o descumpriu.

Mesmo após passar por diversas mazelas que o país proporciona, as quais provavelmente não ocorreriam no Japão, o amor pelo país Sul-Americano segue intacto.

A jornada começou em meio à 2° Guerra Mundial, quando ela viu dois irmãos mais velhos partirem para o campo de batalha, junto com outros jovens da cidade de Koriyama-shi. 

O tempo passou, e ela presenciou a desolação da comunidade quando nenhum deles retornou. “Eu tinha apenas três anos, mas me lembro bem dos horrores da guerra” contou.

Ela cresceu, mas nunca esqueceu o sonho de criança. Aos 15 anos foi para Tóquio, onde estudou a língua portuguesa, fez cursos agronômicos e aprendeu a ser terapeuta e massagista com um dos melhores profissionais do país.

Takako aprendendo com o pai, no Japão. (Foto: Acervo Pessoal)

Ao fazer parte da Fundação Rikkokai, uma escola que facilitava a vinda de japoneses ao Brasil, oferecendo cursos de cultura e língua, além de garantir empregos antes mesmo de chegarem ao país, acabou recebendo uma carta de um pretendente.

Era outro participante da fundação, que morava no Brasil e queria pedir a mão dela, mesmo sem conhecê-la pessoalmente. O pai leu a carta e aprovou o pedido, elogiando a educação e caligrafia do pretendente.

À esquerda, sogro e sogra, ao centro Takako, e à direita os pais dela, durante o registro do casamento no Japão, sem a presença de Hitoshi. (Foto: Acervo Pessoal)

Assim ela veio ao Brasil, em 1962, a bordo do navio de emigrantes África Maru, em uma viagem de 60 dias pelo oceano. Encontrou o noivo e foram trabalhar em Santos, região onde aportaram.

Takako Takahashi a bordo do África Maru, 1962. (Foto: Arquivo Pessoal)

De lá, partiram para Mogi das Cruzes, onde conheceram o senhor Osaki, um japonês dono da banca de número 80 do mercado municipal de Anápolis.

Vieram com ele para uma fazenda em Souzânia. Na época, a propriedade pertencia à uma artista de Hollywood, a estadunidense Mary Martin. Após uma troca de gerência, dois anos depois, mudaram de trabalho e foram plantar morangos, cogumelos e alho em uma chácara alugada.

“Os morangos que tinham aqui vinham de São Paulo. Começamos a plantar, sempre sem agrotóxicos. Pouco tempo depois vendíamos quase 200kg em dias bons”, lembrou orgulhosa.

Hitoshi colhendo morangos. (Foto: Acervo Pessoal)

Além da saúde através da profissão de terapeuta e massagista, Takako e seu esposo, Hitoshi, sempre prezaram pela saúde através dos alimentos, trabalhando dobrado para manterem seus cultivos sem defensivos químicos.

Conquista e superação

Após muita luta em terras alheias, conquistaram a própria em Anápolis. Onde plantavam para abastecer mercados e confeitarias, local no qual o casal viria a se separar.

 Foi lá onde ela perdeu o marido, vítima de um assalto. Também era lá onde ela vivia quando, dez anos depois, ela vivenciou a perda de uma filha, após vê-la em coma por 02 anos em decorrência de um acidente de carro. Após perdê-la, Takako criou dois netos como se fossem filhos. 

Ela sempre contribuiu ao Abrigo dos Velhos e à Casa das Crianças, não só financeiramente mas com atenção e tratamentos aos residentes. Com a chegada da pandemia, parou todos os atendimentos e resolveu se dedicar à família.

“Agora tenho 20 netos e 5 bisnetos, não tenho mais toda a energia que tinha para trabalhar, mas ainda dedico minha vida a ajudar as pessoas.” revelou docemente.

Takako exibindo orquídeas em seu quintal, nos dias atuais. (Foto: Samuel Leão/Portal 6)

Ela teve até um livro publicado com sua autobiografia, intitulado “A saga de uma japonesa no Brasil”, no qual são revelados detalhes da trajetória vivida.

Ela diz que se apaixonou pelo cerrado, pelas árvores retorcidas que parecem grandes bonsais espalhados por todo o campo. Aos 82 anos, não se arrepende da trajetória e cultiva muita fé e amor pela vida, ainda lúcida e sempre envolvida em atividades de caridade pela cidade.

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